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Negro é uma construção social, afirma especialista do IBGE

27 set 2009 - 11h16
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Desde o século 19,o Brasil procura fazer um levantamento, por meio do censo, da cor dapopulação. Na semana passada, pela primeira vez na história, oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou quemais da metade dos brasileiros é formada por pessoas com a cor depele parda ou preta (50,6%).

O dado é da Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios (Pnad) e se baseia na autodeclaração ou"autoclassificação" como prefere dizer Ana Lúcia Sabóia,chefe da Divisão de Indicadores Sociais do instituto.

O critério de autoclassificaçãoé recomendado internacionalmente e apontado como alternativa menossubjetiva para definir a cor de uma pessoa.

Na entrevista abaixo, feita antesda divulgação da nova Pnad, a técnica do IBGE explica como é oprocedimento de pesquisa

AgênciaBrasil:

Comofunciona a coleta de informação sobre cor e raça?

AnaLúcia Sabóia:

Essa informação é coletada com os moradores do domicílio. Éfeita a pergunta ''qual é a sua cor?'' A pessoa responde branca,preta, parda, amarela (para quem tem origem asiática) e indígena.

ABr:Oquadrinho de preto e pardo não é o mesmo?

AnaLúcia:

Não,são separados. O sistema de classificação de categorias do IBGEestá dividido nessas cinco opções. Nós chamamos esse sistema deautoclassificação. A pessoa entrevistada é que diz a sua cor. Seela responde uma cor diferente destas cinco categorias, é pedido quese inclua em uma das categorias. É muito simples e claro, é apessoa que se define, não é o entrevistador. Essa é a instruçãopara todas as pesquisas domiciliares do IBGE. Todas elas coletam avariável cor: a Pesquisa Mensal de Emprego PME , a PesquisaNacional de Amostra Domiciliar Pnad , a Pesquisa de OrçamentosFamiliares POF e o Censo Demográfico.

ABr:Desdequando se pesquisa a cor da população brasileira?

AnaLúcia:

OBrasil conta com uma série histórica muito longa de coleta sobre acor das pessoas. Desde o primeiro censo, no início do século 19,nós temos informações. Salvo o censo de 1970, que não conteveesse item. No censo de 2010 essa pergunta estará no mesmo nível deidade e sexo, e a cor será perguntada para toda a população.

ABr:E quando quem responde o questionário é apenas uma pessoa dodomicílio, ela informa a cor de toda a família?

AnaLúcia:

Ainstrução dada aos recenseadores e aos agentes das coletas usuais éque se colete a informação diretamente com cada um dos moradores.Nós sabemos, no entanto, que isso não é possível na maioria doscasos. É raro entrar em um domicílio quando estejam todos osmoradores. Existe a possibilidade que a pessoa entrevistada acabe nãorespondendo exatamente como cada membro do domicílio gostaria de seridentificado.

ABr: Issopode comprometer os resultados?

AnaLúcia:

Osistema que nós temos utilizado tem sido muito consistente ao longodesses anos. Obviamente estamos sempre fazendo reavaliações, pelosnossos estudos internos, existe bastante consistência e coerênciamesmo quando existe declaração de cor para diferentes membros nodomicílio.

ABr:Oprocedimento de autodeclaração é recomendado internacionalmente?

AnaLúcia:

Sim,é uma questão de autopercepção e sempre relacional. Você seconsidera de uma cor olhando para as pessoas. A recomendação da ONU Organização das Nações Unidas é de que as pessoas devem seautoclassificar. Existe em cada sociedade valorações diferentes decor. Países como a Inglaterra, Estados Unidos e Canadá fazem como oBrasil. Nos Estados Unidos ainda perguntam qual a origem e daí épossível ter a classificação ''branco com origem anglo-saxã'' ou''branco com origem mexicana'', por exemplo.

ABr:

Costumamos ouvir que o Brasil é o segundo país do mundo com maisnegros. É precisa essa informação?

AnaLúcia:

Não há como dizer qual que é a classificação correta. Acategoria parda é bastante abrangente no Brasil. No Mato Grosso doSul, por exemplo, a pessoa que se diz parda não tem origemafrodescendente, mas dos colonizadores que passaram lá junto com osindígenas. O mesmo pode acontecer com uma pessoa que tem origemasiática e branca. Como a pele não é exatamente branca ou amarela,ela pode se classificar como parda. Essa categoria é uma categoriamuito ampla, muito abrangente, na qual as pessoas se classificamtendo origem diferente.

ABr:Ao dizer negro estamos juntando as categorias preto e pardo?

AnaLúcia:

Os indicadores relativos a essas populações são semelhantes emuito diferentes dos brancos. Se você quiser ser preciso você nãodeve chamar de negro porque não existe uma classificação. Nóschamamos de preto ou pardo. Cor você não chama de negro, você nãodiz estou com uma blusa negra, diz estou com uma blusa preta. Negro éuma construção social, é uma identificação que não éexatamente a cor da pele. O nosso sistema é um pouco híbrido tem acor da pele, mas tem a origem quando estabelece indígena e amarelo.

ABr:

É justo fazer políticas afirmativas com base em critérios raciais?

AnaLúcia:As políticas de afirmação conseguiram, em alguns países ondehavia discriminação, quebrar um ciclo que estava cristalizado. Eusou favorável às políticas de afirmação. As dúvidas sãopequenas perto da série histórica que a gente tem, da consistênciaintra-geográfica e inter-geográfica. Então, sabidamente, noSudeste e no Sul há mais pessoas que se declaram de cor branca,diferentemente das pessoas no Norte e Nordeste. Eu sou muitofavorável às políticas de cota para os que estão aquém nodesenvolvimento social.

Agência Brasil Agência Brasil
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