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Política de cotas torna elite mais colorida, dizem simpatizantes

27 set 2009 - 10h44
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No próximo ano, oInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) deverá realizar umestudo sobre a entrada no mercado de trabalho de alunos que foramcotistas em universidades públicas. A informação é do diretor deEstudos, Cooperação Técnica e Políticas Internacionais, MárioLisboa Theodoro o único diretor negro do principal órgãoformulador de políticas públicas e de planejamento do Estadobrasileiro.

Economistacom doutorado na Sorbonne (

UniversitéParis I)e consultor legislativo, o currículo de Theodoro destoa datrajetória da maioria das pessoas negras no Brasil. Segundo oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, Pnad 2006),das pessoas com 25 anos ou mais de idade e com 15 anos ou mais deestudo apenas 3,3% se declara "preta", enquanto 78,1% são"brancos".

Porcausa dessa desigualdade, encontrar um negro com alta escolaridade ebem empregado chega a surpreender. O diretor do Ipea lembra que jáfoi confundido como segurança pelo guardador de carros doestacionamento do Senado Federal, do qual é funcionário decarreira. "

Aúnica possibilidade de trabalho que esse guardador de carroenxergava para um homem negro vestido de terno como eu era a desegurança. É isso que ele vê: os negros quando põem terno sãoseguranças".

Naavaliação de Mário Theodoro, as políticas de cotas nasuniversidades públicas têm o mérito de "colorir um pouco nossaelite". "O p

rograma decotas quebra um determinado ciclo vicioso em que as mesmas famíliascolocam seus membros na universidade enquanto outros grupos nãoconseguem o mesmo. Assim se reproduz dois circuitos o dos queconseguem ir para a universidade e o dos que não conseguemascensão", defende.

O economista assinala que apolítica de cotas não tem o objetivo de acabar com a pobreza."Pobreza se acaba com distribuição de renda e proteção social",explica. "Ter uma elite negra vai fazer diferença porque apopulação brasileira vai passar a ver coisas inusitadas comomédicos negros, engenheiros negros, pessoas negras em cargos dedireção. Aí a gente vai ver a competição de negros e brancos porcargos que hoje são predominantemente destinados à populaçãobranca".

Oministro Edson Santos, da Secretaria Especial de Políticas dePromoção da Igualdade Racial, concorda com o diretor do Ipea edefende que "é

preciso ter em áreas estratégicas da administração pública e dosetor privado a diversidade étnica e cultural desse país".

Noentanto, a ideia da "elite colorida" não é unânime. Para oprofessor de sociologia da Universidade Federal de Juiz de Fora(UFJF) Jesse Souza "não precisamos mudar a cor da elite,precisamos, sim, de uma sociedade menos

elitistae desigual", defende. "Para isso, compreender o processo deprodução das desigualdadessociais em toda a sua complexidade é fundamental", disse ointelectual que está publicando um livro sobre "quem é e comovive a ralé brasileira".

Outro crítico da política decotas, o geógrafo Demétrio Martinelli Magnoli contesta "alegitimidade de se ter uma elite que se define em termos raciais".Para ele, "a criação de elite de raça se baseia no conceito queos verdadeiros protagonistas da história são as raças. Conceitodesenvolvido por muitos e até por Hitler. Quem acredita nisso deveacreditar que de fato cada raça tenha sua elite".

Agência Brasil Agência Brasil
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