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Na UnB, aluno cotista tem o mesmo desempenho de não cotistas, afirma decana

27 set 2009 - 10h33
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Os alunos cotistas daUniversidade de Brasília (UnB) têm aproveitamento acadêmico semelhanteao de seus colegas não cotistas. Em alguns critérios sobre odesempenho discente, a diferença é favorável aos cotistas. Ainformação é da decana de Ensino de Graduação, Márcia AbrahãoMoura. De acordo com os dados apresentados pela professora, o Índice deRendimento Acadêmico dos alunos cotistas é de 3,58 contra 3,63obtidos pelos não cotistas (a nota máxima é 5). "É praticamente irrisória adiferença", defende Márcia.

Segundo Márcia Moura há proporcionalmente menoscotistas desistentes dos cursos universitários do que os nãocotistas. Os cotistas tem menos processos na comissão de acompanhamento eorientação acadêmica. Eles representam apenas 6,6% dos processos, menorque a proporção deles na universidade (em torno de 10%, 2.990alunos).

"O percentual é muito menor do que imaginavam os contrários às cotas", aponta a decana que também assegura que"não existe retenção reprovação maior de cotistas do que dos nãocotistas".

"Orendimento é o mesmo. Nós estamos conseguindo formar bem os alunosindependentemente da origem", sintetiza Márcia Moura.

A políticade cotas foi implantada na UnB no segundo semestre de 2004. Mais de280 estudantes cotistas já se formaram na universidade que prometefazer um levantamento sobre o aproveitamento de seus ex-alunos nomercado de trabalho.

Por enquanto, a decana avalia quea universidade está se transformando. "A universidade mudou paramelhor. Tem uma diversidade maior de alunos e uma convivência depessoas diferentes que vem de camadas sociais e escolas diferentes."

Na avaliação de Aline Costa,vice-coordenadora do Projeto AfroAtitude da UnB, e já formada empedagogia, "a universidade mudou bastante porque teve que se repensarpara poder nos incluir". "Existia um único padrão, padrão depensamento, padrão de comportamento, um padrão acadêmico", dizAline que foi da primeira turma de alunos cotistas a entrar na instituição.

Segundo Aline, a presença dosestudantes negros na universidade é emblemática. "Dentro de uma sala, onde todo mundo faz parte de uma elite,onde todo mundo tem um único projeto de vida, a gente,com as nossas trajetórias, muda a realidade, agente muda o discurso. Visualmente é fato que a gente já conseguiucolorir a universidade."

Para a formanda em antropologiaNatália Maria Alves Machado, a política de cotas conseguiu unir pessoas de realidades completamente distintas que passaram a ter um convívio cosmopolita na universidade."No AfroAtitude, a gente tem quilombola, tem gente que mora nacidade. Tem gente que tem a cultura hip hop de periferia, tem genteultra evangélica. Tem uma heterogeneidade interna muito grande."

O ingresso na universidade pública por meio do sistema de cotas também faz com que esses alunos habitem mundos bastante distintos. "Vocêé morador de periferia, mas você não é como seus vizinhos nemestá nos espaços que as pessoas da sua comunidade estão. Ao mesmotempo, você está na universidade com outras pessoas de outro statuscultural e você também não é igual a eles", analisa NatáliaMaria.

Segundo as estudantes, no convíviocom as diferenças, identidades foram reveladas. "Eu passei por umprocesso muito bacana de identificação. Não que eu não soubesseque era negra, mas foi um processo de análise, reflexão eentendimento de tudo que acontecia na sociedade",afirma Luiana Maia do quinto semestre de História.

A estudante Jade Dantas, do quartosemestre de biblioteconomia, também revela que a condição de universitária ajudou a criar uma identidade própria. "A minha mãe é branca. Agente não foi criada com essa identificação. Eu não tinhaconsciência do tamanho que isso era."

Segundo Jade, frequentar a UnB nãoestava nos seus planos sobre o futuro. "Quando eu era criançaninguém falava em universidade ou fazer ensino superior. Nunca tivevisão de futuro nesse sentido, nem na escola nem no ensino médio", conta.

A entrada na universidade abriunovas perspectivas não só para Jade mas para toda a família "Hoje eu jásou uma referência. Minha irmã já fala: ''minha filha vai fazerfaculdade como a minha irmã''. Mudou muito a perspectiva. A minhaescolha como cotista alcançou a minha família", assinala.

Humberto Borges, terceiro semestrede letras tem uma história semelhante. Foi o segundo da família aentrar no curso superior e o primeiro em uma universidade pública."Minha sobrinha diz: acho que eu vou ser que nem a tia Isadora e o io Humberto, eu vou ser professora também".

No início da implantação dapolítica afirmativa da UnB havia o temor, dentro e fora dauniversidade, de que o convívio forçado pelas cotas pudesse gerarconflitos, manifestações de intolerância e racismo. O cenárioprojetado, apesar de alguns episódios, não se confirmou.

"Ninguémque não era um racista violento ia se tornar por causa das cotas.Existe esforço de convivência? Existe, mas em que sociedade humananão existe? Que encontro de diferenças não tem isso? Que contatointergrupal, interétnico ou internacional não tem o esforço deconvivência? Se existe política de inclusão é porque tinha alguémque estava excluído", analisa a futura antropóloga NatáliaMaria Alves Machado.

Agência Brasil Agência Brasil
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