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Polícia

Rio: morros sem patrulha movimentariam até R$ 30 mi em drogas

26 set 2009 - 19h21
(atualizado às 19h23)
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Mario Hugo Monken

Enquanto em morros ocupados por Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) como Chapéu Mangueira, Babilônia e Dona Marta, o tráfico ainda ocorre discretamente, sem armas, nas demais favelas da zona sul do Rio de Janeiro, haveria cerca de 600 traficantes. Eles portariam mais de 200 fuzis, e faturariam, por mês, até R$ 30 milhões com a venda de drogas, segundo estimativas da Polícia Civil.

Mais da metade desse poderio encontra-se na Rocinha. A comunidade, junto ao vizinho Vidigal, dominado pela mesma quadrilha, reúne um exército de 300 homens, que possuem 150 fuzis. As bocas-de-fumo vendem 5 kg de cocaína por dia. Por mês, de 200 a 400 kg de pó e 2 t de maconha são "exportadas" para outras favelas dominadas pela facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA). O faturamento é estimado em R$ 20 milhões.

"O tráfico em São Paulo é muito mais rico do que no Rio, porque os bandidos paulistas não andam armados. Aqui no Rio, existe uma cultura bélica de vários anos, e o traficante, para ser bem visto na facção, tem que estar muito bem armado", diz o titular da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), Marcus Vinicius Braga.

"O traficante gasta quase 50% do que arrecada em armas. E tudo isso ele faz exclusivamente para defender seus territórios de ataques dos grupos inimigos. Na zona sul, pelo poder aquisitvo, o papelote de cocaína custa cinco vezes mais do que na zona norte. A Rocinha é a mais rica, com certeza", completa o delegado.

Outras minas

Depois da Rocinha, os morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo são os mais rentáveis da zona sul. Eles reúnem de 50 a 60 homens, armados com 30 a 40 fuzis. As bocas-de-fumo venderiam 1 kg de cocaína por dia, e o faturamento mensal giraria entre R$ 2 milhões a R$ 4 milhões.

Dominada pela mesma facção, o Comando Vermelho (CV), a Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, sofreu influência direta da pacificação no Dona Marta ao receber bandidos refugiados. Hoje, contaria com 50 homens, 20 a 30 fuzis e movimentaria por mês de R$ 500 mil a R$ 1 milhão.

Sem precisar quanto essas favelas do CV arrecadavam no passado, a polícia informou que suas quadrilhas estão em crise. Segundo o delegado Marcus Vinicius, um dos motivos é que não ofereceriam droga de boa qualidade.

"Hoje, elas perdem para Acari (zona norte) e Coreia (zona oeste)", afirma.

Um agente da Dcod afirmou que o problema é que os chefes não estão à frente dos negócios.

"No Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, o Juca Bala está com câncer. No Tabajaras, o Ronaldinho foi preso. Afastados, os donos querem receber de uma vez só quantias de até R$ 80 mil. Não sobra nada", diz o policial.

Segundo ele, os traficantes teriam uma margem de lucro mensal, que corresponderia a um oitavo do que é arrecadado.

Abastecida pela Rocinha, a Cruzada São Sebastião, no Leblon, consegue arrecadar entre R$ 500 mil a R$ 1 milhão. As bocas-de-fumo venderiam meio quilo de cocaína por dia. Tomada recentemente pela ADA, a favela, no entanto, não é bem armada.

"Se tiver um fuzil ali, é muito. Não podem ter muitos porque é fácil de pegar", disse outro policial.

Nas favelas policiadas pelo 2º Batalhão (Botafogo), a maior preocupação é com o Morro Cerro Corá, no Cosme Velho. O bando tem tradição de praticar roubos e contaria com 80 integrantes. São dez fuzis, segundo o delegado Marcus Vinicius. Os pontos de venda de drogas movimentariam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão.

Para a polícia, o Santo Amaro, no Catete, faturaria a mesma coisa que o Cerro Corá, mas a quadrilha é menor. Seria de 20 a 30 homens e os fuzis não passariam de seis.

Próximo do Santo Amaro, o Morro Azul, no Flamengo, não teria fuzis, apenas pistolas e revólveres, segundo o comandante do 2º BPM (Botafogo), tenente-coronel Roberto Gil. Entretanto, como sofre influência direta do Morro do São Carlos, no Estácio, e da própria Rocinha, a comunidade faturaria até R$ 2 milhões mensais.

"Nas favelas daqui, não há o perigo de haver guerra. Por isso, eles não ficam exibindo armas. Mas a venda e o consumo de drogas são intensas", afirma o oficial.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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