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Ex-chefe da Receita reafirma no Senado encontro com Dilma

18 ago 2009 - 11h33
(atualizado às 16h14)
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Marina Mello

Direto de Brasília

A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira reafirmou em depoimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que se encontrou com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no qual a ministra teria pedido para que ela acelerasse a investigação sobre Fernando Sarney - filho do presidente do Senado, José Sarney. Ao começar seu depoimento nesta terça-feira, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira falou sobre seu currículo e sua trajetória dentro do órgão ressaltando sempre que nunca teve qualquer filiação partidária.

Lina Vieira confirma no Senado encontro com Dilma:

Lina fala na comissão sobre uma acusação feita por ela de que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria tentado interferir em uma investigação que vinha sendo conduzida pela Receita em empresas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

"Sobre este assunto, tenho a dizer que o encontro houve, reitero a entrevista que dei à Folha no dia 9 de agosto. Naquela entrevista, confirmei ao jornal que em fins do ano passado, a ministra me chamou em seu gabinete através de sua assessora Erenice, neste encontro a sós, ela perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho de Sarney. Eu não procurei jornal, o que aconteceu foi que fui procurada por dois jornalistas que pediram para confirmar o que eles já sabiam", disse.

Embate

O depoimento começou por volta das 11h20, após uma discussão de cerca de duas horas. O início da sessão foi marcado por um embate entre governo e oposição. Enquanto governistas tentaram protelar a oitiva, alegando que o requerimento de convite de Lina foi aprovado de forma arbitrária, a oposição garantiu que tudo ocorreu dentro da normalidade e insiste em iniciar a oitiva da ex-secretária. O presidente da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO), terminou a discussão ao se recusar a colocar em votação um requerimento apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) pedindo a suspensão do depoimento.

Acareação

A ex-secretária disse também que está disposta a comparecer a um possível depoimento de Dilma na comissão e ainda para confrontar a sua versão com a da ministra. Segundo Lina, ela teve outros encontros reservados com Dilma.

Agenda

"Tentei relembrar isso (o encontro com a ministra), na minha agenda isso não constou, nem na da ministra, nossas agendas oficiais foram consultadas, mas não preciso de agenda pra falar a averdade", afirmou.

Incabível

Questionada se achava que ocorreu prevaricação por não ter transmitido a um superior o encontro com a ministra, Lina disse: "não entendo porque ao sair de lá fui verificar o pedido e detectei que todos os procedimentos foram adotados e o processo estava correndo em segredo de Justiça." Sobre o suposto pedido da ministra, disse: "achei que foi um pedido incabível"

Petrobras

Perguntada sobre a mudança no regime tributário da Petrobras, considerado suspeito e que ocorreu durante sua gestão, Lina se recusou a responder. "Só queria falar sobre o assunto para o qual fui convidada, não gostaria de tecer nenhum comentário sobre a Petrobras", disse. Contudo, afirmou que está à disposição para comparecer à CPI da Petrobras para falar sobre o assunto.

Recado

No final do depoimento, Lina mandou um um recado para "aqueles que tentaram me confundir". "A mentira não faz parte da minha biografia", disse. "Confirmei o relato que fiz a Folha. Não abro mão desta afirmação, não mudo a verdade no grito", afirmou.

Desfiliação partidária

A ex-secretária, que está há 33 anos na Receita como servidora concursada originalmente no Estado do Rio Grande do Norte, afirmou que recebeu seu primeiro convite para ocupar cargo no governo estadual pelo então governador e atual senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).

"Minha trajetória sempre foi de natureza técnica, nunca tive natureza partidária", afirmou. Ao falar do período em que comandou a Receita, Lina afirmou que era preciso se acabar com o "mito" de que durante sua gestão a arrecadação caiu.

Segundo ela, a arrecadação por causa da crise financeira internacional e nada teve a ver com a sua administração. "É preciso acabarmos com esse mito de queda na arrecadação. Por causa da crise, fazer uma comparação entre a arrecadação de 2009 com a de 2008 é quase patético. Apesar da intensidade da crise, a arrecadação manteve sua tendência histórica de crescimento", afirmou.

Interferência indevida

Após ouvir a fala de Lina, o vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), considerou que houve uma "interferência indevida" da ministra no pedido da ministra. Segundo o parlamentar, as fitas das câmeras de segurança da Casa Civil poderiam ajudar na solução do impasse. "Se o governo fosse sincero, entregaria as filmagens do Planalto", disse o vice-líder tucano. Ele acrescentou que vai manter o requerimento de acareação da ex-secretária com a ministra.

Assunto encerrado

Para o senador Almeida Lima (PMDB-SE), um dos integrantes do grupo que mais defende José Sarney, o depoimento de Lina Vieira encerra o assunto. "Fica a demonstração de toda a patifaria que estão tentando montar com a base do governo", afirmou. "Ela (Lina) se contradisse do início ao fim e não disse nada com nada", completou.

Fonte: Terra
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