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Laudos apontam falhas da prefeitura em Zoológico de Goiânia

31 jul 2009 - 16h23
(atualizado às 17h22)
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Márcio Leijoto

Direto de Goiânia

Relatórios divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em Goiás (Ibama-GO) e na quinta-feira pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO) apontam que o principal problema constatado no Parque Zoológico de Goiânia é a falta de investimentos do poder público, tanto na manutenção e modernização do local como na falta de recursos para ampliar a equipe técnica, considerada muito pequena para um plantel atual de 621 animais.

Parque Zoológico de Goiânia foi fechado na última terça-feira
Parque Zoológico de Goiânia foi fechado na última terça-feira
Foto: Márcio Leijoto / Especial para Terra

O zoológico foi fechado no dia 21 de julho, após a morte de sete animais de grande porte desde janeiro. Posteriormente, divulgou-se que o total de óbitos chega a 49 neste ano, considerado as duas mortes registradas após o fechamento do parque.

Laudo do Ministério Público Estadual feito em junho aponta que o zoológico nunca passou por uma modernização desde que foi criado, em 1956, e que a falta de investimentos compromete a saúde dos animais.

O superintendente do Ibama-GO, Ary Soares dos Santos, afirmou que uma série de fatores pode ter influenciado no número de mortes nestes sete meses de 2009, entre eles a idade elevada dos animais, a falta de manutenção no parque e o número insuficiente de técnicos.

"Ainda não temos uma clara certeza se as condições do local podem ter colaborado com as mortes. Os laudos que vão apontar isso ainda estão sob análise", afirmou. No relatório feito por dois biológos do Ibama, com base em visitas feitas em maio, junho e julho, praticamente todos os recintos do parque precisam de uma reforma.

Alguns não só deixam os animais mais estressados como colocam em risco a vida dos técnicos. É citado, por exemplo, o serpentário, onde o funcionário estaria exposto a um ataque de animais peçonhentos.

O Ibama também chama a atenção para as más condições dos setores de triagem e quarentena, onde ficam não só os animais doentes, mas os que chegam ao zoológico e precisam passar por avaliações veterinárias antes de serem integrados ao plantel.

O mesmo problema foi apontado no relatório do CRMV e do Ministério Público Estadual. Os três órgãos pedem que seja construído um novo espaço para estes ambientes, cruciais para o bem-estar dos animais.

Já o presidente do CRMV-GO, Wanderson Portugal Lemos, foi mais incisivo e disse que a equipe de tratadores não só é pequena demais para o número de animais no zoológico, como precisa passar por treinamentos específicos, já que estão há pouco tempo nos cargos.

Para ele, o poder público não dá condições para que haja técnicos suficientes para fazer um acompanhamento de qualidade do estado de saúde de todo o plantel existente no parque.

Lemos também reclamou da presença em grande quantidade de urubus e pombos no parque, pois isso estressaria bastante os animais em cativeiro, que precisam competir com as aves pela comida disponibilizada. "Além de possibilitar o surgimento de zoonoses, já que os pombos são considerados 'ratos de asas'", comentou.

O Ibama apresentou uma comparação entre as mortes registradas neste ano e o total de óbitos em 2006, 2007 e 2008. O percentual de mortes de répteis (20%) e de aves (8%) em relação ao total destas espécies no zoológico neste ano é igual ao registrado em todo o ano de 2007.

De acordo com Santos, a preocupação maior dos técnicos do órgão é em apurar a causa das mortes dos répteis. "Precisamos descobrir se há algum fator externo que esteja influenciando nisso. É um número elevado", afirmou.

Já o percentual de mortes de mamíferos este ano, que está em torno de 6%, equivale a menos da metade do registrado nos três anos anteriores. Mesmo assim, chamou a atenção do Ibama o fato de nove animais considerados de grande porte terem vindo a óbito.

"Pode ser por causa da idade. São animais velhos", disse o diretor do zoológico, Raphael Cupertino, que esteve presente na manhã de hoje na apresentação do relatório do Ibama-GO. "Ou então porque vierem de lugares onde eram alvos de maus-tratos, como a onça pintada que morreu este ano. Ela vivia em um frigorífico, teve as garras arrancadas e os dentes quebrados provavelmente a golpes de marreta."

O superintendente do Ibama-GO vai propor ao Ministério Público Estadual e ao Federal que seja assinado em até 30 dias um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pela administração do zoológico para que em um prazo de um ano todas as irregularidades apontadas em laudos técnicos sejam corrigidas.

Até o final de agosto, a administração do parque deve apresentar um cronograma das reformas sugeridas. O fechamento do zoológico, previsto para durar 45 dias, deve ser estendido por mais tempo, admite Cupertino, já que por enquanto apenas 57 animais foram avaliados.

Mudança

Santos também falou sobre a mudança do parque para outro lugar, como sugerido pela prefeitura. "No momento, o que precisa ser feito é melhorar o que tem. O local atende a todas as especificações do Ibama, mas falta uma manutenção", afirmou.

A prefeitura informou que três locais são estudados para a transferência, que seria feita até 2012 a um custo de R$ 10 milhões. Para o presidente do CRMV-GO, o valor não é real.

"No mínimo, precisariam ser gastos entre R$ 35 milhões e R$ 40 milhões. Com R$ 10 milhões não dá", disse Lemos. "E nossa preocupação hoje é com os recursos para o zoológico atual, que são comprovadamente insuficientes."

Fonte: Especial para Terra
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