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Política

Deputados questionam mudanças em cota de passagens

22 abr 2009 - 18h04
(atualizado às 20h34)
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Marina Mello

Direto de Brasília

As medidas anunciadas nesta quarta-feira pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), estabelecendo restrições no uso da cota de passagens dos deputados, encontrou resistência entre os parlamentares, segundo lideranças.

A avaliação é de que entre os 513 deputados será grande o número de insatisfeitos com a mudança anunciada por Temer, que prevê o fim o uso de passagens somente para os deputados e restrições a viagens internacionais e de assessores.

A maior indignação veio do deputado Sílvio Costa (PMN-PE), que achou absurdo ter que ir para Brasília sem a companhia de sua mulher. "É preciso acabar com esse teatro da hipocrisia. A maioria dos parlamentares desta Casa é casado. Então, agora, só quem pode ser candidato a deputado é o solteiro?", questionou. "As mulheres dos deputados não podem vir a Brasília? Os filhos dos deputados não podem vir a Brasília? Que onda é essa? Onde é que foram buscar essa lei? Que decisão esdrúxula é essa?"

Segundo o líder do PSDB, José Aníbal, a medida mal foi anunciada e já encontra resistência entre os deputados. "Há resistência já. Há muitos parlamentares questionando, avaliando que a medida é hipócrita porque se sabe muito bem que o parlamentar ganha menos do que o parlamentar de qualquer outro lugar do mundo", disse.

Como exemplo da má aceitação o líder cita um discurso feito hoje pelo deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Em seu discurso, o deputado afirma que a população brasileira deveria ser informada que todo parlamento do mundo conta com verba irrestrita de passagem e não só o brasileiro.

"Estou aqui querendo me referir a essa sanha violenta, intimidatória. Não pensem que estou aqui em causa própria", disse Gomes. "Estou defendendo uma questão republicana. O povo brasileiro, pelo nosso exemplo, deve aprender a amar e respeitar esta Casa."

"Os americanos têm direito à passagem? Têm. O parlamento americano tem cartão sem limite para a viagem do parlamentar. A França tem custos pagos pelo contribuinte francês? Tem. A Suécia tem? Tem. A Dinamarca tem? Tem. Todos os parlamentos têm. Isso falta ser explicado ao povo brasileiro", completou.

Os deputados avaliam que - diante da avalanche de denúncias sobre a chamada "farra das passagens" - o presidente da Câmara se precipitou ao anunciar tais medidas como uma resposta à opinião pública sem ter debatido com os líderes como as mudanças vão se dar na prática.

O líder do PPS, Fernando Coruja, no entanto, acredita que a situação de denúncias é grave e merecia medidas radicais como as tomadas por Temer."Transparência sempre encontra resistência, mas o momento exige medidas duras. Sempre se pensou que o que se estava fazendo era o correto", disse Coruja, que aparece entre os deputados que mais realizaram viagens internacionais nos anos de 2007 e 2008. "É preciso radicalizar na transparência, não só daqui como de todos os poderes."

Ao todo, foram 19 viagens ao exterior das quais o deputado só se recorda ter feito 16 e pediu um levantamento sobre o assunto. Coruja admite que nem todas as 16 viagens foram relativas à atividade parlamentar, mas se justifica dizendo que antes julgava ser correto utilizar o dinheiro remanescente para viagens de cunho pessoal.

"O entendimento que se tinha é de que era do parlamentar, era como se fosse uma milhagem de fim de ano, se usava no entendimento de que aquilo era do parlamentar e não do Congresso, numa prática comum desde que a capital do País passou a ser Brasília. Era como se fosse um vale transporte: se você viaja num vôo mais barato, você fica com o resto", explicou.

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) avalia que a resistência se dará nos bastidores, mas que oficialmente ninguém vai querer se expor defendendo medidas fisiologistas. "Vai haver uma resistência surda e discreta porque, na verdade, ninguém vai querer a exposição negativa", disse.

Fonte: Terra
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