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Na prisão, mulheres são abandonadas pela família

19 nov 2014 - 10h58
(atualizado às 12h30)
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Quando ingressam no sistema carcerário, as mulheres sofrem não apenas com a lógica masculina que rege as regras de dentro dos presídios – inclusive dos femininos – como também com o abandono familiar.

“A mulher tem muito menos visitas do que o homem. Caracteristicamente, a mulher não abandona o homem quando ele vai preso, mas a recíproca não é verdadeira. Existe ainda a dificuldade da visita, do vinculo com o filho, que é bem complicado de resolver”, explica o promotor de Justiça de fiscalização de presídio do Rio Grande do Sul, Gilmar Bortolotto.

Isso pôde ser constatado pelo Terra no Presídio Industrial de Caxias do Sul, onde familiares já esperavam pela chegada do preso, antes mesmo de ele ser transferido para a unidade após sua detenção.

Além disso, no caso de mulheres encarceradas soma-se a questão dos filhos, que ficam desamparados nas ruas, caso não sejam abrigados por familiares. “É muito complicado, tem mulheres com muito filhos, tem problemas gravíssimos de pessoas viciadas em drogas, abandonada pela família, que não tem família. Tem mulheres que tem sete, oito filhos, metade esta na Fase (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo), metade esta solta no mundo”, afirma o promotor, cuja função é fiscalizar os presídios gaúchos.

Nos presídios masculinos as galerias são divididas por facções criminosas, sendo que cada uma tem seu código próprio. Dentro dos presídios femininos, a periculosidade é um pouco menor, em virtude dessa falta de organização e lideranças criminosas bem definidas. Muitas são presas ao assumirem os pontos de tráfico deixados pelos maridos presos.

“Existe aquela história da economia familiar, que assumem o lugar do marido (...) A gente não identifica facções propriamente ditas, mas sim pessoas ligadas a quadrilhas, mas não que haja organização de facção, isso não”, afirma Bortolotto.

Em relação a estrutura do presídio feminino Madre Pelletier, para onde Mari foi levada para parir a filha, o promotor critica a adaptação que foi feita no local, que não permite sanar os problemas estruturais da unidade. “Aquele prédio não é um presídio, não foi feito para ser um presídio, era um colégio de freiras, então sempre vai ter o problema estrutural, porque é adaptado”.

Bortolloto percorre as galerias e corredores de presídios há mais de 15 anos, e evidenciou a preocupante falta de estrutura prisional. O problema se torna ainda mais complicado quando se percebe que semanalmente crianças entram nos presídios, onde não existe a presença do Estado, no sentido de dar as garantias mínimas para a visita de crianças a pais apenados ou sua permanência, quando for o caso.

“No caso das mulheres, tem a história da relação familiar, a preocupação com os filhos. Ficar longe é um problema que não é fácil de solucionar. É a mesma coisa nas penitenciárias comuns com a questão das visitas das crianças. A gente sempre fica pensando, transitar por penitenciária não é bom para ninguém. Estou há 15 anos fazendo isso e, se tu me perguntar, não é bom. Isso afeta a pessoa, eu me afetei, tu vê coisa ruim, não é bom. Agora, quando o pai e a mãe estão presos, que é uma coisa comum de acontecer, o pai que a criança tem é aquele. O que o Estado tem que fazer é providenciar lugares adequados para a criança visitar, ou permanecer, no caso de crianças pequenas”, analisa.

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Fonte: Terra
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