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MT: pilotos escapam de região boliviana de narcotráfico

Evandro Rodrigues de Abreu e Rodrigo Frais Agnell estavam na aeronave da candidata ao governo de Mato Grosso Janete Rivas quando foram raptados há 40 dias

30 out 2014 - 19h05
(atualizado às 19h19)
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<p>Emoção tomou contra do reencontro entre os pilotos e os familiares</p>
Emoção tomou contra do reencontro entre os pilotos e os familiares
Foto: : Maurício Barbant/Assessoria de Imprensa

O piloto Evandro Rodrigues de Abreu e o copiloto Rodrigo Frais Agnelli, sequestrados há 40 dias em Pontes e Lacerda (MT) junto com o avião da então candidata a governo do Estado, Janete Riva (PSD), conseguiram escapar vivos do cativeiro em uma região dominada pelo narcotráfico boliviano, próxima à fronteira com o Brasil. A aeronave, um King Air - modelo C90GTI, de 2006 (prefixo PR-ATY) que vale mais de R$ 1 milhão, ainda não foi encontrada.

Para a emoção de familiares e amigos, os dois reféns desembarcaram no início da tarde desta quinta-feira, às 13h45 (horário local), em um hangar particular do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, onde ambos moram. As esposas e os filhos pequenos das vítimas estavam eufóricos com o reencontro. Amigos e vizinhos levaram faixas agradecendo a Deus por estarem vivos.

Visivelmente abatidos, Evandro e Rodrigo falaram rapidamente com a imprensa sobre o que passaram nesses 40 dias. Segundo o piloto, os sequestradores são dois brasileiros que ainda estão negociando a venda da aeronave milionária depois de ela ter sido totalmente modificada por fora, na região de Santa Cruz de La Siera, em uma vila rural chamada Santa Rosa.

“É uma região como o pantanal mato-grossense e não tem água. São fazendas grandes praticamente só usadas pelo narcotráfico”, explica Evandro.

Uma situação de conflito entre os sequestradores e o comprador do avião favoreceu a libertação dos pilotos. Houve um desentendimento inicial entre as partes durante a negociação e o clima foi ficando cada vez mais tenso. “A demora para nos liberar foi referente à negociação entre eles que demorou e por fim eles se desentenderam e acabaram pegando os reféns do comprador”, conta Evandro, se referindo aos três mecânicos que reformaram a aeronave. As vítimas fizeram questão de não olhar as modificações para não se comprometerem ainda mais.

<p>Os reféns desembarcaram no início da tarde desta quinta-feira em um hangar particular do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande</p>
Os reféns desembarcaram no início da tarde desta quinta-feira em um hangar particular do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande
Foto: : Maurício Barbant/Assessoria de Imprensa

Evandro relata ainda que, quando o clima foi ficando mais pesado, eles conseguiram o aval para fugir. “Quando eles se desentenderam com o comprador e mantiveram os três mecânicos dele como reféns, o comprador se irritou com eles. Foi quando nós os chamamos para conversar explicando que a situação ia ficar muito perigosa para nós. Ia morrer todo mundo. Então eles disseram: faz o que vocês quiserem, sigam o coração de vocês e foi aí que nos saímos a partir do consenso deles”.

Os dois pilotos escaparam do cativeiro e caminharam sem rumo por cerca de 30 quilômetros até conseguirem uma carona para Guajará-Mirim, em Rondônia, na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, mas já em território nacional.

“A gente caminhou um tanto pelo mato, depois seguimos em um trilho, sem saber onde ia dar, e tínhamos medo de pedir informação porque a gente não conhecia a região e poderia ser perigoso, até que conseguimos uma carona”, narra Evandro. Segundo ele, a sensação foi de que eles haviam renascido quando chegaram em Guajará-Mirim.

O copiloto Rodrigo, que tem um filho recém-nascido, quase não conseguia falar. Ele descreveu, com o olhar assustado, a agonia da dupla nesses 40 dias em cativeiro: “É difícil achar uma palavra para classificar o que passamos nas mãos dos sequestradores. O estado emocional é muito complicado. A gente fica sem saber o que vai acontecer no final”.

Segundo ele, os sequestradores que os mantiveram em cativeiro não foram rudes e só apontaram a arma para eles no dia do roubo da aeronave para obrigá-los a cumprir a rota.

O sequestro

No dia do sequestro, os pilotos estavam aguardando a comitiva da então candidata Janete Riva, que estava visitando, em campanha, cidades da região. Minutos antes de seguir a rota eleitoral, os sequestradores tomaram o avião no aeroporto de Pontes e Lacerda. Com a armas apontadas para suas cabeças, o piloto e o copiloto foram obrigados a levantar voo e trafegar em zig-zag por uma hora até chegar a uma localidade da Bolívia que eles não conheciam. Depois voaram mais dias horas para um outro lugar onde ficaram parados por 10 dias. Um outro voo de mais 30 minutos, sempre em zig zag, e a tripulação chegou ao cativeiro final, onde passaram a maior parte do tempo.

<p>Familiares e amigos das vítimas estavam emocionados pelo reencontro</p>
Familiares e amigos das vítimas estavam emocionados pelo reencontro
Foto: : Maurício Barbant/Assessoria de Imprensa

“Ficamos em casa, no mato, em rancho, mas em nenhum momento fomos mal tratados, nem verbalmente e nem fisicamente”. Na casa, a comida servida, na opinião de Evandro, era normal e até boa para a situação adversa. Mas teve dias em que comeram apenas arroz branco. Os sequestradores devolveram toda a bagagem, incluindo a carteira e o celular às vítimas. O piloto Evandro destaca que, em uma situação como esta, “a única coisa em que a gente consegue pensar é na família e nos amigos”.

A vizinha de Evandro em Várzea Grande, Edunuzia Batista, de 35 anos, acompanhou toda a agonia da família nesses 40 dias. “Foram momentos muito tensos, mas nunca perdemos a esperança de que não tinha acontecido o pior. Estamos muito felizes por eles terem voltado”, comemorou.

Tanto Evandro quanto Rodrigo afirmam que não ouviram nenhuma conversa que possa confirmar para que o avião seria utilizado, embora a região seja dominada pelo narcotráfico.

Rodrigo destaca que, durante o cativeiro, nem ele nem Evandro tiveram como entrar em contato com a polícia boliviana, que está investigando o caso. A Polícia Civil e a Polícia Federal de Mato Grosso também estão no caso, assim como a Interpol, também acionada.

O deputado estadual José Riva (PSD), marido da então candidata Janete, pagou a viagem aérea dos pilotos de Guajará-Mirim até Várzea Grande, já que no momento do sequestro estavam a serviço da candidatura de Janete. Tanto é que após a libertação, eles se comunicaram com familiares para logo depois entrar em contato com a deputada estadual eleita, Janaína Riva (PSD),

José Riva criticou a inteligência policial dos dois países, já que a liberação dos reféns nada tem a ver com o avanço das investigações.

O sequestro de aeronaves na região de fronteira entre o Brasil e a Bolívia é um crime recorrente e também não há informações da eliminação de pilotos vitimizados. Geralmente, eles são liberados.

O sequestro de Evandro e Rodrigo expuseram a situação precária de alguns aeroportos no interior do país, como é o caso de Pontes e Lacerda, que se resume a duas pistas de terras, sem torre e nem controle de aproximação.

Fonte: Especial para Terra
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