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MP-SP estuda cotas para negros em concursos de promotores

“A pessoa que responder o censo precisa considerar se já sofreu algum tipo de discriminação pela cor de sua pele", diz coordenador

15 jun 2015 - 17h51
(atualizado às 17h55)
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Você já foi discriminado por causa da cor de sua pele? A pergunta é o que deve nortear a participação em um censo racial que o Ministério Público de São Paulo aplicará até o próximo dia 30 entre os mais de 2 mil promotores e procuradores que compõem a instituição. O resultado deve ser decisivo para que os próximos concursos públicos tenham vagas a serem preenchidas por cotistas.

O censo, inédito no MP-SP, é aplicado desde a semana passada eletronicamente e é obrigatório, segundo ato normativo publicado pela Procuradoria-Geral de Justiça e pela Corregedoria-Geral do MP no Diário Oficial do Estado no último dia 9. Pelo questionário, os participantes devem informar sobre sua raça ou etnia.

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Entre as opções a serem escolhidas pelo entrevistado na declaração de raça/etnia, estão se ele se considera negro – “preto/pardo, conforme a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais a classificação do Estatuto da Igualdade Racial” –, branco, indígena ou amarelo.

O coordenador do Núcleo de Políticas Públicas do MP, promotor Eduardo Valério (à direita, na foto), em evento no MP ao lado do procurador-geral Márcio Elias Rosa
O coordenador do Núcleo de Políticas Públicas do MP, promotor Eduardo Valério (à direita, na foto), em evento no MP ao lado do procurador-geral Márcio Elias Rosa
Foto: MP-SP / Divulgação

“A pessoa que responder o censo precisa considerar se já sofreu algum tipo de discriminação pela cor de sua pele. Com os relatórios dessa pesquisa em mãos, a partir de eventuais distorções, que imagino que existam, eventualmente poderemos sim propor uma política de cotas nos nossos concursos, a exemplo do que os MPs do Paraná e da Bahia, além da Defensoria Pública de São Paulo, já fazem”, informou o coordenador do Núcleo de Políticas Públicas do MP-SP, promotor Eduardo Valério.

O promotor admitiu que a implementação de cotas é assunto polêmico inclusive dentro do MP – a exemplo do que já acontece em outros setores da sociedade, como no ensino superior.

“É assunto polêmico que será tratado dentro dos embates normais que norteiam qualquer ação afirmativa – como a política de meia-entrada para estudantes e as vagas de estacionamento para idosos, por exemplo. A questão de cotas implica em aspectos históricos, políticos e sociais que se tornaram assimétricas ao longo dos anos, com a acumulação de riquezas, e há um enorme desafio em fazer as pessoas entender isso”, declarou o promotor. “Não é para menos que temos uma herança de 300 anos de escravidão e 120 de exclusão – a desigualdade existe e ninguém costuma querer abrir mão de privilégios facilmente. Ou por reflexão sincera ou por pressão, obrigação, isso precisa mudar”, definiu Valério.

Indagado de que raça/etnia ele próprio se define, o promotor respondeu: “Branca, porque nunca sofri preconceito dessa natureza. Mas não é difícil achar quem já passou por isso em ambientes tão triviais como um restaurante, por exemplo”, citou.

Ano passado, a comissão permanente de direitos humanos do Grupo Nacional de Direitos Humanos, do Conselho Nacional de Procuradores Gerais, aprovou proposta de moção para que se recomendasse aos Ministérios Públicos brasileiros a imediata adoção de reserva de vagas destinadas aos negros nos concursos de ingresso na instituição. Para tal, os MPs teriam de aplicar censos que subsidiassem eventual política de cotas.

Fonte: Terra
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