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Movimentos antivacina ganham força nas redes sociais

Grupo no Facebook contra vacina do HPV passou de 400 para mais de 3 mil adeptos em dez meses. Médicos apontam atitude como irresponsabilidade

3 dez 2014 - 07h33
(atualizado às 07h34)
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<p>Grupo "Sou contra a Vacina HPV" vem ganhando adeptos no Facebook</p>
Grupo "Sou contra a Vacina HPV" vem ganhando adeptos no Facebook
Foto: Facebook / Reprodução

A campanha nacional de vacinação contra poliomelite e sarampo, que terminaria em 28 de novembro, não atingiu a meta de 95% do público-alvo - mas há quem não veja isso como um fato negativo. Nas redes sociais, pessoas se reúnem para falar mal de vacinas como a do HPV e a do rotavírus.

Em um deles, está a pedagoga E.R., de São Paulo. Ela conta que perdeu a confiança nas vacinas quando levou a filha ao posto de saúde para tomar a primeira dose da rotavírus, que previne quadros de diarreia grave. “Essa alergia apareceu depois da vacina de dois meses do rotavírus (primeira dose), antes ela era uma criança saudável”, relata. O efeito adverso, segundo ela, aconteceu porque a bebê é alérgica à proteína do leite. A criança não recebeu a segunda dose da vacina.

Após o episódio, a pedagoga conta que começou a pesquisar sobre outros casos como o de sua filha. Foi assim que encontrou um grupo no Facebook e se dedicou a manifestar, pela rede social, sua posição contrária à vacina rotavírus. “Não acho confiável, apesar de ser importante. Quando acontece algo inesperado, como uma reação forte, ninguém se responsabiliza”, afirma. “Tenho medo de todas (as vacinas).”

Apesar disso, E.R. diz não ser contra a vacinação, desde que seja feita, conforme suas palavras, com responsabilidade. “O que não ocorre na maioria dos casos. Principalmente se tratando da vacina do rotavírus e da falta de atenção aos alérgicos”, opina. “Eu acredito que as duas coisas (vacina causando alergia à proteína do leite) estão interligadas, mas o Ministério da Saúde ignora completamente.”

Outro relato parecido é o da bióloga C.C e sua filha de seis meses, de Pirassununga, interior de São Paulo. Quando o bebê completou dois meses, ela se dirigiu ao posto de saúde para aplicar a primeira dose da vacina rotavírus. Após a vacina, a mãe alega que a filha apresentou problemas de intestino e dificuldades para manter o peso.

Esse foi o motivo para ir ao Facebook e criar um grupo em protesto, que conta com quase 100 membros. “Eu estava em uma situação estressante, sentindo raiva”. Ainda assim, apesar da página apresentar publicações contrárias a várias vacinas, C.C. afirma não confiar apenas na vacina rotavírus.

Outra vacina que sofre críticas organizadas no Facebook é a do HPV. O grupo “Sou contra a vacina HPV” passou de 400 para 3 mil membros entre março e dezembro de 2014 - e chegou perto, por exemplo, das 4,7 mil curtidas do tópico que explica a mesma vacina.

A última publicação é de uma mulher do Rio de Janeiro, que diz ter descoberto o grupo por acaso e procurar relatos de casos de reações adversas. No texto, afirmava ainda ser “super a favor da vacina”. Seis comentários depois, o pensamento mudou completamente. “Somos realmente cobaias humanas”, escreveu.

Sucesso das vacinas prejudicam campanhas

Juarez Cunha, do comitê de Infectologia e de Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, afirma que o ideal não é evitar manifestações, na internet ou em qualquer outro lugar, contrárias a vacinas, mas oferecer informações corretas.

Segundo ele, a primeira coisa que deve ser “bem esclarecida” é que “qualquer tipo de vacina ou medicamento pode ter efeitos adversos”. A incidência desses efeitos seria definida a partir de “amplas pesquisas que mostram a eficácia” do produto.

Cunha acredita que os movimentos contrários, sobretudo em redes sociais, tiveram impacto para a campanha de vacinação contra sarampo e pólio não atingir a meta. Mas, a seu ver, a ausência de pólio nos últimos tempos é ainda mais importante para a população estar acomodada. “As vacinas são vítimas do próprio sucesso”, afirma Cunha. “Se as pessoas não enxergam a doença, passam a ver somente os eventos adversos.”

Com a população desprotegida, o turismo pode representar um risco, mesmo com a doença ausente no País - o último diagnóstico de poliomelite no Brasil aconteceu em 1990, e a doença está erradicada na América Latina desde 1994 segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Três países - Paquistão, Afeganistão e Nigéria - apresentam casos endêmicos de pólio, ou seja, a infecção é mantida por lá mesmo sem contato com o exterior.

Por outro lado, a situação do sarampo no Brasil é menos confortável. Em 2013, foram confirmados 220 casos, em oito estados, de acordo com o Ministério da Saúde. Pernambuco e Ceará, estados que tradicionalmente atraem turistas, são os mais afetados: apareceram 224 e 174 casos entre março de 2013 e março de 2014, nos respectivos locais. Um sinal de alerta - ainda que bem menor do que aqueles gerados pelos quase 130 mil casos de 1986 ou as nove epidemias até 1991.

Quem decide não receber as vacinas, por sua vez, estaria em posição “cômoda” e “egoísta”. Cunha argumenta que o não vacinado está em um ambiente protegido e, ao mesmo tempo, coloca em risco boa parte das demais pessoas, pela possibilidade de “importar” uma doença ausente no País.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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