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Morte de Campos reduz diversidade da política brasileira

13 ago 2014 - 16h11
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João Fellet

Da BBC Brasil em Brasília

A morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos nesta quarta-feira reduz a diversidade na política brasileira, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Campos, de 49 anos, estava em um avião que caiu em Santos, em trajeto entre o Rio de Janeiro e o Guarujá, no litoral de São Paulo.

Para cientistas políticos, a morte do ex-governador, que concorria à Presidência pelo PSB, empobrece a disputa eleitoral para a Presidência e priva Pernambuco de seu principal líder político.

"A polarização que já dura 20 anos entre PT e PSDB tinha sido rompida com a candidatura do Eduardo e da Marina (Silva)", diz Francisco Teixeira da Silva, professor de história moderna e contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na decisão mais supreendente desta eleição, Campos e Marina decidiram se aliar na corrida à Presidência. A ex-senadora procurou o pernambucano após a Justiça barrar a criação do seu partido, a Rede Sustentabilidade, e lançou-se como vice na chapa dele.

Segundo Teixeira, a candidatura "se apresentava de forma consistente, possivelmente não como opção para 2014, mas como uma opção política para outras eleições".

Campos ocupava o terceiro lugar nas pesquisas eleitorais. No último levantamento do Ibope, divulgado na semana passada, ele tinha 9% das intenções de voto, ante 23% de Aécio Neves (PSDB) e 38% de Dilma Rousseff (PT).

Teixeira diz que o PSB também sofre duro golpe com a morte do ex-governador. O partido, que teve o maior crescimento nas eleições passadas, em 2012, poderia fortalecer-se ainda mais em 2014 com a candidatura de Campos, segundo o professor.

"Com o Campos candidato, o PSB teria mais chances de se tornar a terceira via e despolarizar a política brasileira."

'Liderança promissora'

Para Ricardo Ismael, professor de ciência política da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, Pernambuco perdeu sua maior liderança nacional e o Brasil perdeu "um de seus melhores políticos".

"Era uma liderança muito promissora, muito dedicada com a gestão pública", diz Ismael.

Segundo ele, Campos herdou do avô – o também ex-governador Miguel Arraes – um "talento natural para a política".

"Ele sabia fazer campanha, participar de debates, entendia o jogo político."

Para Ismael, a morte é também "um baque para a campanha".

"O Eduardo estava qualificando o debate, agregrava propostas e reflexões que ficariam sumidas em meio à polarização PT-PSDB."

Para a professora Helcimara de Souza Telles, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Campos tinha grande potencial de crescimento na eleição, já que seu índice de rejeição era o mais baixo entre os principais candidatos.

Sem ele, diz a professora, a eleição deve ganhar um caráter "plebiscitário".

"Os eleitores deverão decidir o voto com base na sua avaliação do atual governo. Quem está satisfeito deve votar na Dilma, quem está insatisfeito, no Aécio."

Dez dias

Com a morte de Campos, o PSB tem dez dias para decidir se lançará outro candidato à Presidência. Segundo a legislação eleitoral, o novo candidato pode pertencer a qualquer um dos partidos que integram a coalizão que apoiava Campos, que inclui, além do PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.

Segundo a legislação eleitoral, a escolha pode ser feita pelas Executivas das agremiações, sem a necessidade de uma nova convenção partidária.

Marina Silva, atual vice da chapa, ainda não se pronunciou sobre a morte.

Para Ricardo Ismael, da PUC-RJ, o PT "moverá montanhas para impedir a candidatura de Marina, que seria muito forte".

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