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MediaON

"Periferia precisa ser podada para construir qualidade", diz Emicida

6 dez 2012 - 22h28
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Thiago Tufano
Direto de São Paulo

A arte na periferia foi o assunto debatido no fim do segundo dia da 4º Edição do Rumos - Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural, na noite desta quinta-feira, em São Paulo. Com o tema "Fora da Zona de Conforto", o rapper Emicida foi a principal atração do debate e afirmou que muitos artistas da periferia acabam fazendo sucesso puramente por "pena". Segundo ele, nem toda música de periferia é de qualidade.

"A elite tem culpa dentro dela. Todos estão cientes da desigualdade social e quando alguém de fora valoriza o que vem de dentro da periferia sinto que muita gente tem culpa por causa dessa desigualdade. Qualquer coisa que seja feita querem aplaudir porque querem mostrar sensibilidade. Precisamos ser podados para construir a qualidade", afirmou Emicida.

Além disso, o rapper disse também que viu muitos amigos e colegas da periferia conseguirem o sucesso pelo "viés da piedade". "Eles dizem: 'fiz isso porque só tinha isso. Peguei as condições que eu tinha e tive que dar um jeito'. A melhor característica do brasileiro é improvisar. Vou fazer o que preciso com o que eu tenho. A conotação que se dá ao hip hop é: 'eles podiam estar roubando, mas estão fazendo música'. Isso entristece muito. Sofremos com esse preconceito", completou.

Emicida comentou também sobre a Lei Rouanet e afirmou que o incentivo pode ser um grande paradoxo. "Os fãs precisam ir ao show, comprar ingresso, comprar o disco. Quando você chega com o jogo ganho por uma grana que você captou você desobriga sua música de funcionar. Você aparece para o mundo como um artista que tem trabalhado, quando sabemos que foi por uma outra via", disse.

Armando Antenore, redator-chefe da revista Bravo, também participou do debate e falou sobre como é feita a escolha de um jornalista para se aprofundar em um tema de jornalismo cultural na periferia."Tentamos sempre colocar pessoas que transitam no ambiente em que estão retratando. No caso do hip hop, procuramos dar na mão de pessoas que transitam, e geral até têm relação com os artistas. Isso tem um lado positivo, mas tem o outro lado, que às vezes conhecem demais e tem pudor de falar determinadas coisas", explicou o jornalista.

Outro tema bastante discutido foi o futuro do jornalismo com o grande crescimento das redes sociais. De acordo com Antenore, os profissionais da comunicação precisam encontrar algo que dificilmente é feito com qualidade por não-jornalistas: a reportagem. "A reportagem clássica, que é ouvir muitas pessoas, ter acesso a documentos, isso é uma característica dos jornalistas e que eu acho que continua não sendo feita pelas pessoas nas redes sociais".

Alex Primo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi mais realista e afirmou ninguém sabe qual o futuro do jornalismo. "Estamos nessa cultura convergente. As utopias de destruição da mídia de massa não deram certo. Essa é a pós modernidade e tudo está misturado. Estamos num momento de transição e perguntam qual o futuro do jornalismo, mas não sabemos. Estamos tentando aprender", completou.

Evento

O 4º Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural ocorre junto com a 6ª edição do MediaOn. Os eventos discutem o jornalismo e a comunicação no século XXI e como o novo jornalista se comporta - ou deveria se comportar - diante dos fenômenos causados pelas redes sociais, colaboração e mobilidade. Os encontros são promovidos pelo Terra, maior empresa latino-americana de mídia digital, e o Itaú Cultural até a próxima sexta-feira. Em 2012, o evento conta ainda o apoio da Online News Association, dos Estados Unidos.

O seminário é aberto a jornalistas, profissionais de mídia e publicidade, executivos, pesquisadores e estudantes e será transmitido ao vivo pelo Terra na web, em celulares e tablets. O MediaOn reúne anualmente profissionais do Brasil e do mundo para discutir grandes temas do setor como o futuro da mídia, o impacto das novas tecnologias e como mercado de notícias em geral está lidando com as mudanças radicais no meio. Nas últimas edições, contou com profissionais de veículos como BBC, New York Times, CNN, Globo, Facebook, The Guardian, Pro-Publica, Google, Microsoft, Clarín, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e Abril, além de agências, anunciantes e especialistas.

O rapper Emicida foi a principal atração do debate "Fora da Zona de Conforto" da 4º Edição do Rumos - Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural
O rapper Emicida foi a principal atração do debate "Fora da Zona de Conforto" da 4º Edição do Rumos - Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural
Foto: Edson Lopes Jr / Terra
Fonte: Terra
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