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Jovem confia mais em si mesmo e em Deus do que no Estado, diz pesquisa

21 jun 2013 - 06h55
(atualizado às 07h48)
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Eles confiam mais em sim mesmos, em Deus e na família do que no governo, acham que os políticos em quem votaram não os representam, estão ainda mais insatisfeitos com os serviços públicos e, claro, se mobilizam pelas redes sociais.

Esse é o perfil dos brasileiros que têm entre 18 e 30, de acordo com uma pesquisa denominada "O novo poder jovem", do instituto Data Popular e divulgada nesta sexta-feira. O levantamento foi feito dias antes de as cidades brasileiras se tornarem palco de grandes protestos, iniciados justamente por essa faixa etária, que representa mais de 42 milhões de eleitores ou 33% do total.

"O que estamos vendo nas ruas tem a ver com essa grande crise de representatividade pela qual os jovens brasileiros estão passando. Pelo que vimos na pesquisa, ele têm a sensação de que não estão - ou no caso, não estavam - sendo ouvidos", afirma Renato Meirelles, presidente do Data Popular.

De acordo com o levantamento, dos 1.502 jovens ouvidos, 75% disseram não confiar nos parlamentares e 59%, na Justiça.

Maior exigência

Ao serem questionados sobre a avaliação que faziam do Poder Executivo, a prefeitura recebeu a pior nota (5 em uma escala de 10), seguida do governo estadual (5,26) e a Presidência (6,94). O fato de o poder municipal receber a avaliação mais baixa demonstra, segundo Meirelles, que a juventude quer que o político no qual votaram esteja mais presente no seu dia a dia, a começar para os problemas mais preeminentes de sua cidade.

Entre os fatores pesquisados está a qualidade dos transportes, que recebeu nota 4,08 entre jovens de capitais e regiões metropolitanas e 5,15 entre os das cidades do interior. Esse setor deve, segundo Meirelles, ser analisado à parte porque é um serviço pago, diferentemente de saúde e educação, em que temos hospitais e escolas públicas.

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"O Brasil viveu muitos anos de predominância de trabalho informal, em que o cidadão pagava apenas impostos indiretos, ou seja, embutidos no valor dos produtos", afirma. "Só agora, em um estágio de maior número de empregos formais, o brasileiro passa a ter o imposto retido na fonte e sente o leão no bolso. E então para de ver os serviços como um favor do Estado. Passa a vê-los como uma obrigação - e exige uma eficiência maior, especialmente os do serviço pagos, como os ônibus."

Protagonismo

Em um aspecto mais comportamental, a pesquisa mostra ainda que o jovem de hoje confia mais em si mesmo do que no Estado para garantir seu futuro. Entre os ouvidos, 53% dizem que o próprio esforço é o principal fator que contribuiu para sua vida melhorar, enquanto que o governo foi citado por apenas 2% dos entrevistados - Deus por 31% e família por 11%.

"Há um anseio de assumir para si essa insatisfação, de ser protagonista da própria história, mas fazendo isso por meio das urnas", afirma o pesquisador, citando que 65% dos ouvidos disseram acreditar que podem melhorar a política brasileira por meio do voto.

A pesquisa também mostra um fator que foi crucial na atual onda de manifestações: o poder das mídias sociais. De cada 10 jovens ouvidos, 7 tinha contas no Facebook, Twitter ou outras redes sociais. "Elas são a base orgânica de mobilização hoje. Ocupam o papel que antes era ocupado pelos sindicatos, centros acadêmicos etc. E isso cria uma outra mudança: em vez de serem deflagradas por essas instituições, agora essas mobilizações se dão por causas, como o aumento das tarifas de ônibus".

Cenas de guerra nos protestos em SP

A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra.

<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/protesto-tarifa/iframe.htm" data-cke-743-href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/protesto-tarifa/iframe.htm">veja o infográfico</a>

Durante os atos, portas de agências bancárias e estabelecimentos comerciais foram quebrados, ônibus, prédios, muros e monumentos pichados e lixeiras incendiadas. Os manifestantes alegam que reagem à repressão da polícia, que age de maneira truculenta para tentar conter ou dispersar os protestos.

Veja a cronologia e mais detalhes sobre os protestos em SP

Mais de 250 pessoas foram presas durante as manifestações, muitas sob acusação de depredação de patrimônio público e formação de quadrilha. A mobilização ganhou força a partir do dia 13 de junho, quando o protesto foi marcado pela repressão opressiva. Bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar na rua da Consolação deram início a uma sequência de atos violentos por parte das forças de segurança, que se espalharam pelo centro.

O cenário foi de caos: manifestantes e pessoas pegas de surpresa pelo protesto correndo para todos os lados tentando se proteger; motoristas e passageiros de ônibus inalando gás de pimenta sem ter como fugir em meio ao trânsito; e vários jornalistas, que cobriam o protesto, detidos, ameaçados ou agredidos.

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As agressões da polícia repercutiram negativamente na imprensa e também nas redes sociais. Vítimas e testemunhas da ação violenta divulgaram relatos, fotografias e vídeos na internet. A mobilização ultrapassou as fronteiras do País e ganhou as ruas de várias cidades do mundo. Dezenas de manifestações foram organizadas em outros países em apoio aos protestos em São Paulo e repúdio à ação violenta da Polícia Militar. Eventos foram marcados pelas redes sociais em quase 30 cidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.

As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho. A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011. Segundo a administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$ 3,40. No dia 19 de junho, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) anunciaram a redução dos preços das passagens de ônibus, metrô e trens metropolitanos para R$ 3. O preço da integração também retornou para o valor de R$ 4,65 depois de ter sido reajustado para R$ 5.

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