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Jobim relata cenário de guerra e corpos nas ruas do Haiti

14 jan 2010 - 13h00
(atualizado às 14h30)
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Laryssa Borges
Direto de Brasília

Cadáveres nas ruas, corpos sepultados em encostas de rios, desolação. É esse o cenário descrito nesta quinta-feira pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que está desde ontem na cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti. Em telefonema para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta manhã, Jobim relatou o cenário de guerra na região, devastada na terça por um terremoto de mais de sete graus na escala Richter.

De acordo com o ministro, enviado ao país caribenho pelo presidente Lula, há grande preocupação com cadáveres abandonados nas ruas, alvo de potenciais epidemias. O governo brasileiro também tem adotado uma política de cautela para respeitar os haitianos praticantes do Vodu, religião com forte presença no país e cujo princípio impede que pessoas que não são parentes dos mortos recolham os corpos antes de rituais específicos.

"As autoridades brasileiras irão propor ao governo haitiano que indique uma área para instalação de um cemitério, para que os engenheiros brasileiros ajudem nos sepultamentos", informou o Ministério da Defesa. No caso dos praticantes do Vodu, "a saída será os engenheiros abrirem as covas no novo cemitério e oferecer aos familiares para que eles próprios procedam os rituais e o sepultamento naquele local, em condições sanitárias adequadas".

Além das vítimas fatais do terremoto - o próprio governo haitiano estimou cerca de 100 mil mortos nos tremores de terras -, Nelson Jobim afirmou haver pessoas mutiladas nas ruas e um verdadeiro colapso nos serviços de saúde. Com hospitais completamente destruídos pelos terremotos, em frente ao batalhão brasileiro em Porto Príncipe há um acampamento de pessoas que buscam socorro. Pela falta de profissionais médicos, estão sendo atendidas, sob a cobertura de uma garagem, prioritariamente as vítimas que apresentam maior gravidade. Cerca de 70 pessoas são atendidas dia e noite por médicos militares.

A Força Aérea Brasileira (FAB) envia nesta quinta ao Haiti um hospital de campanha com 1.000 m² a ser operado por 40 profissionais. Kits de medicamentos para o atendimento imediato de 10 mil pessoas também devem chegar a Porto Príncipe. O batalhão brasileiro no local também deve concluir ainda hoje um levantamento de áreas que poderão ser usadas para a distribuição de alimentos e água potável às vítimas.

Segundo o Ministério da Defesa, "será necessário reforçar a segurança dos comboios de ajuda humanitária e de distribuição de alimentos e de ajuda médica". A logística de segurança, que será negociada nesta quinta com o presidente haitiano, René Préval, se resume a evitar que, com o agravamento da situação, a população desesperada promova saques aos suprimentos doados pela comunidade internacional.

Corpos

Jobim afirmou ainda que os corpos da fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, e dos militares brasileiros mortos durante o terremoto da última terça estão sendo conservados em câmaras frigoríficas do batalhão brasileiro em Porto Príncipe.

A preservação dos corpos é justificada, conforme explicou o governo brasileiro, para que a Organização das Nações Unidas (ONU) possa cuidar dos procedimentos burocráticos do traslado ao Brasil e do trâmite dos processos de indenização às famílias dos brasileiros.

Depois de um dia de ruas atoladas por desabrigados e desalojados e por escombros dos prédios que ruíram, o Batalhão de Engenharia do Exército brasileiro irá trabalhar com maquinário pesado ofertado pela construtora OAS, que realiza obras no Haiti. Um grupo de 15 engenheiros, auxiliado pelos equipamentos da empreiteira, começa a atuar na remoção de escombros e na liberação das ruas de Porto Príncipe.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. No entanto, devido à precariedade dos serviços básicos do país, ainda não há estimativas sobre o número de vítimas fatais nem de feridos. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, e militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto no Haiti.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

Homem segura criança enquanto aguarda atendimento em um posto médico de Porto Príncipe
Homem segura criança enquanto aguarda atendimento em um posto médico de Porto Príncipe
Foto: AP
Fonte: Redação Terra
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