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Barbosa chama de 'sorrateira' criação de novos tribunais federais

Segundo o presidente do STF, criação de tribunais, aprovada na última semana, foi articulada 'sorrateiramente' e 'na surdina'

8 abr 2013 - 21h44
(atualizado às 21h52)
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<p>Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, recebeu nesta segunda-feira representantes de associações de juízes</p>
Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, recebeu nesta segunda-feira representantes de associações de juízes
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, criticou nesta segunda-feira, em uma reunião com os dirigentes de associações de juízes, a criação de quatro novos tribunais federais no Brasil e afirmou que a aprovação do projeto na Câmara dos Deputados, na última semana, foi articulada "sorrateiramente" e "na surdina".  

O projeto teve como grande articuladora a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe). Nesta segunda-feira, ao falar do tema com o presidente da Ajufe e com os dirigentes da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Barbosa disse que os senadores foram induzidos a erro, pois nenhum órgão do Estado foi ouvido e não houve estudo sério sobre o impacto financeiro da medida, que segundo ele, é de cerca de R$ 8 bilhões.

"A visão corporativista distorce as coisas. A Justiça Federal está crescendo de forma impensada e irracional", disse, acrescentando, de forma irônica, que os novos tribunais seriam criados perto de resorts. O ministro fez referência a outro embate recente com as entidades de classe, quando o CNJ proibiu patrocínios privados em eventos promovidos pelas associações. Na maioria das vezes, eles ocorriam em resorts e com sorteio de brindes.

Em pelo menos duas vezes, os ânimos se acirraram e Barbosa determinou que os convidados baixassem o tom de voz ou só se dirigissem a ele apenas quando solicitados, e criticou também a presença de pessoas que não foram chamadas. A audiência estava sendo pleiteada há meses para apresentação das demandas corporativas, mas a relação estremecida entre Barbosa e as associações dificultou a aproximação.

Recentemente, Barbosa provocou reação das entidades ao falar, durante sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual também é presidente, que há conluio entre juízes e advogados. 

Relação conturbada

Logo no começo da audiência, os juízes disseram que traziam propostas para fortalecer o Estado Democrático de Direito. Brabosa respondeu então: "o senhor acha que o Estado (Democrático) de Direito no Brasil está enfraquecido? Temos seguramente a democracia mais sólida da América Latina. Me causa estranheza pedido para que não haja enfraquecimento", rebateu.

Barbosa disse que o STF já tem prestígio por si só e recusou os elogios por ter relatado o processo do mensalão. "Estou há 10 anos nesse tribunal, foi apenas o processo mais retumbante. Nesse, como em milhares, agi da mesma forma. Só suscitou mais interesse. Não teve nada de extraordinário em relação ao meu modo de agir", disse. 

Também houve mal estar quando Barbosa citou as investidas das entidades contra o CNJ e quando ele criticou a tática de usar a imprensa para atacá-lo. "Quando tiverem algo a acrescentar, antes de irem à imprensa, dirijam documento à minha assessoria, não vão primeiro à imprensa para criar clima desagradável", disparou. O ministro ainda disse que as associações "não podem fazer só o que interessa à classe, mas o que interessa a todo o País".

Os únicos pontos em que tanto as associações como o presidente do STF aparentaram se entender foram sobre a necessidade de mudanças na legislação penal para evitar impunidade, o fim de critérios subjetivos para promoção de juízes ou nomeação de ministros e desembargadores e abertura de discussão sobre a retomada do adicional por tempo de serviço, medida que pode evitar o abandono precoce da carreira pelos juízes.

Segundo as associações, juízes que podem se aposentar aos 70 anos estão deixando a carreira, em média, aos 56 anos, pois não têm perspectiva de crescimento e preferem se aposentar. Segundo o presidente da AMB, Nelson Calandra, só no ano passado mais de 530 juízes deixaram seus postos, provocando déficit de mão de obra e acúmulo de trabalho.

Agência Brasil Agência Brasil
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