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Incêndio em boate no Rio Grande do Sul deixa mais de 200 mortos

27 jan 2013 - 22h25
(atualizado às 22h45)
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Um incêndio em uma boate da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, deixou, pelo menos, 233 mortos, a maioria por asfixia, e 116 feridos, segundo o último balanço oficial.

Os sobreviventes relataram o caos, desespero e pânico que sentiram por não conseguirem sair devido a portas trancadas ou passagens estreitas. Com a ajuda de marretas, socorristas abriram buracos nas paredes da boate para poder resgatar mais pessoas.

"Foi um horror. Perdi um amigo muito próximo. As saídas de emergência eram insuficientes; perdi meu amigo de vista na confusão (...) Uma menina morreu em meus braços. Senti quando seu coração parou de bater. Só tinha visto isso no cinema (...) As barreiras de metal usadas para organizar as filas de espera bloquearam a evacuação. As pessoas se trombavam, caíam (...) Os que estavam no fundo da boate ficaram presos", contou o dentista Mattheus Bortolotto ao canal de TV Band News.

O fogo começou às 2h deste domingo, depois que um integrante da banda que se apresentava lançou um sinalizador, segundo bombeiros e testemunhas. O incêndio foi controlado cinco horas depois.

No começo do tumulto, seguranças mantiveram a porta fechada, para que as pessoas não deixassem de pagar a consumação, denunciaram testemunhas.

"Gritamos: 'Fogo! Fogo!', mas o segurança abriu os braços para manter a porta fechada. Uns cinco ou seis derrubaram o segurança e a porta. Era a única saída", contou o sobrevivente e estudante de medicina Murilo de Toledo, 26.

Já do lado de fora, o jovem quis ajudar os amigos. "O fogo era muito forte, queimava e sufocava, não podíamos entrar. Agarrávamos quem podíamos e puxávamos para fora, agarrei alguém pelos cabelos para tirá-lo de lá", relatou à rádio CBN.

"Havia um monte de gente, uns por cima dos outros. Teve gente que entrou no banheiro achando que fosse a porta e não conseguiu mais sair. Desmaiaram, morreram no banheiro", lamentou o estudante.

O analista de sistemas Max Muller, 33, que passava de carro em frente à casa noturna às 3h15, registrou cenas fortes com sua filmadora.

"O que está no vídeo é 10% do que eu vi. A situação piorava à medida que a noite passava", contou Muller à AFP, ainda em estado de choque.

"Vi vítimas com um lado do rosto derretido, pessoas que tentavam ajudar fazendo massagem cardíaca sem saber, quebrando ossos", lembrou.

"As pessoas entraram em pânico e acabaram pisoteando outras. A principal causa de morte foi asfixia", informou o chefe dos bombeiros, Guido de Melo. "A segurança impediu a saída das pessoas, o que causou pânico e o tumulto."

A presidente Dilma Rousseff encurtou a viagem ao Chile, onde participou da cúpula entre países latino-americanos e europeus, e viajou diretamente a Santa Maria.

"Estamos juntos e, necessariamente, vamos superar este momento", disse, emocionada, a presidente, que decretou três dias de luto nacional.

Autoridades cancelaram os atos de comemoração dos 500 dias para a Copa do Mundo de 2014, previstos para esta segunda-feira.

Este foi o segundo incêndio com mais mortos na história brasileira, após a tragédia em um circo de Niterói que deixou 533 mortos em 1961, lembraram autoridades.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, pediu uma "investigação profunda" para determinar as causas e os culpados pela tragédia.

O alvará de funcionamento da boate "está vencido desde agosto", denunciaram os bombeiros.

Jovens sobrevivententes - alguns com o rosto escurecido pela fumaça - e parentes aguardavam com ansiedade a identificação das vítimas.

"Mataram meu filho! Mataram meu filho!", gritou uma mãe antes de desmaiar, após receber a notícia de que o jovem havia perdido a vida no incêndio.

"Tememos que a maioria das vítimas seja de estudantes nossos", disse à AFP o vice-reitor da Universidade Federal de Santa maria, Dalvan Reinert, referindo-se aos alunos das seis faculdades da instituição que organizaram a festa na boate.

A tragédia de Santa Maria lembra o incêndio ocorrido na discoteca República Cromañón, em Buenos Aires, no dia 30 de dezembro de 2004, que deixou 194 mortos e 1.432 feridos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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