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Greenwald elogia 'indignação' do governo do Brasil; parceiro cobra Dilma

21 ago 2013 - 05h52
(atualizado às 08h12)
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<p>David foi recepcionado no Rio de Janeiro por seu companheiro no Rio de Ja, o jornalista Glenn Greenwald, após passar nove horas retido em Londres</p>
David foi recepcionado no Rio de Janeiro por seu companheiro no Rio de Ja, o jornalista Glenn Greenwald, após passar nove horas retido em Londres
Foto: Ricardo Moraes / Reuters

O jornalista americano Glenn Greenwald, que revelou informações vazadas pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, elogiou a indignação do governo do Brasil no episódio da detenção de seu parceiro, o brasileiro David Miranda, no aeroporto de Heathrow em Londres no domingo passado.

No entanto, o próprio Miranda cobrou uma reação da presidente Dilma Rousseff em relação ao caso. Miranda e Greenwald conversaram com a BBC Brasil na noite de terça-feira no Rio de Janeiro.

"Eu acho que o governo brasileiro lidou com a situação de forma maravilhosa", disse o americano à repórter Júlia Carneiro Dias. "Desde o primeiro minuto em que comecei a ligar para autoridades brasileiras para explicar o que havia acontecido com o David, o cidadão deles, eles estavam indignados. Genuinamente indignados, e não apenas fingindo indignação por motivos diplomáticos."

Evo Morales

O governo brasileiro está cobrando respostas das autoridades diplomáticas britânicas sobre a detenção de Miranda. O parceiro de Greenwald foi detido com base em uma lei antiterrorismo e questionado por nove horas pela polícia britânica - e teve todo seu material eletrônico apreendido.

Greenwald e o jornal The Guardian, para o qual o americano trabalha, acusam as autoridades britânicas de usar a lei antiterrorismo apenas para intimidar um familiar de um jornalista que investiga escândalos de inteligência.

Já o governo britânico se defende, dizendo que tinha motivos suficientes para deter Miranda, já que ele portava material "sensível" e "roubado". Greenwald disse que o governo brasileiro foi bastante duro nas suas cobranças - públicas e privadas - em relação ao governo britânico, e que o Brasil já havia se comportado desta forma em episódios passados.

"Eu acho que o mesmo aconteceu quando os Estados Unidos e seus aliados europeus impediram o avião do (presidente boliviano) Evo Morales de voltar para casa", afirmou. "Isso tem todo o ranço de atitude colonialista e imperialista da qual as pessoas no Brasil e na América Latina se ressentem. Isso é um grande componente de como as pessoas reagiram a isso tudo aqui (no Brasil)."

Miranda, no entanto, cobrou uma reposta da presidente brasileira sobre o episódio. "Eu gostaria de perguntar o que Dilma pensa sobre isso porque eu não ouvi nenhuma reação dela sobre isso. Eu estou esperando por mais respostas. Se houver pressão internacional sob ela, eu quero saber o que ela vai dizer."

Miranda também revelou detalhes sobre a sua detenção. Ele disse que foi forçado a revelar senhas pessoais suas de e-mail e redes sociais. Segundo o brasileiro, a polícia britânica disse que ele seria preso caso se recusasse a fornecer as senhas.

Ele disse que, ao expor dados pessoais, se sentiu como se estivesse "nu diante de uma multidão".

Espionagem americana no Brasil

Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.

Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.

Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.

O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.

Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.

Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.

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