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Governo gasta mais com saúde, mas SUS ainda vive contradição no Brasil

2 abr 2013 - 05h46
(atualizado às 09h41)
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Apesar do investimento substancial em saúde nos últimos anos, o Brasil ainda vive uma contradição: é um país onde a população paga de seu próprio bolso mais de 50% dos gastos no setor, embora tenha um sistema público de saúde ''gratuito e universal''. A contradição é apontada por especialistas com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) compilados pela BBC Brasil.

Os números revelam que, em 2011 - os últimos dados disponíveis - os gastos privados com a saúde responderam por cerca de 54% das despesas totais na área, enquanto que o governo financiou os 46% restantes. A taxa é inversamente proporcional à de muitos países ricos e de alguns emergentes, em que a maior parte dos investimentos na saúde é feita pelos governos, como é o caso da Noruega (86%), Luxemburgo (84%), Grã-Bretanha (83%) e Japão (80%), além de Turquia (75%), Colômbia (74%) e Uruguai (68%).

Segundo a OMS, no Brasil a parcela do orçamento federal destinada à saúde (em torno de 8,7%) também é menor, inclusive, do que a média dos países africanos (10,6%) e a média mundial (11,7%). Dez anos atrás, no entanto, a situação era ainda pior: apenas 4,7% dos gastos públicos eram investidos na saúde.

Os dados também mostram que o gasto anual do governo com a saúde de cada brasileiro (US$ 477 ou R$ 954), apesar de ter mais do que dobrado na última década, permanece em um patamar inferior à média mundial (US$ 716 ou R$ 1432) e representa apenas uma fração do que países ricos destinam a seus cidadãos.

Em Luxemburgo, por exemplo, que lidera a lista, o governo gasta, por ano, US$ 5,8 mil (R$ 11,6 mil) na saúde de cada habitante, ou 12 vezes o valor do Brasil. Países vizinhos, como Argentina (US$ 869 ou R$ 1.738) e Chile (US$ 607 ou R$ 1.214), também destinam mais recursos na saúde de seus habitantes.

"Os dados evidenciam que o nosso sistema público de saúde está subfinanciado e necessita de mais aportes de modo a permanecer gratuito e universal", defende Lígia Bahia, professora da UFRJ e uma das maiores especialistas do setor no Brasil.

Bolsa-saúde?

Especialistas também criticaram um eventual pacote de estímulos a operadoras de assistência médica privadas como forma de desafogar a saúde pública e ampliar o número de atendimentos na área. ''Esse dinheiro deveria financiar o SUS, que necessita de mais recursos. Do contrário, trata-se de um passo à privatização do sistema de saúde'', argumenta Thelman Madeira de Souza, ex-funcionário do Ministério da Saúde e analista da área.

Conforme noticiou o jornal Folha de S. Paulo no final de fevereiro, o governo teria mantido conversas internas para lançar medidas de incentivo aos planos de saúde, incluindo desonerações fiscais e linhas de financiamento.

Em nota enviada à BBC Brasil, entretanto, o Ministério da Saúde negou a informação. ''Não foi apresentada, nem discutida pelo governo federal proposta de ampliar a isenção fiscal do Imposto de Renda para planos de saúde. Essa proposta não existe na agência regulatória da ANS.'

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