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Governo brasileiro pressionado por históricos protestos

21 jun 2013 - 10h19
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Diante de protestos históricos que foram marcados por episódios de violência em plena Copa das Confederações, o governo brasileiro, até o momento atordoado e silencioso, tentava entender nesta sexta-feira a fúria e o descontentamento da população e como sair deste atoleiro.

A um ano da Copa do Mundo, mais de um milhão de manifestantes saíram às ruas de 80 cidades em todo o país quinta à noite para protestar contra os custos da Copa e para exigir melhorias nos serviços públicos, de acordo com os últimos dados da polícia e especialistas.

Rio de Janeiro, Brasília e outras cidades viveram momentos de caos, com violências, saques, vandalismo e confrontos de manifestantes com a polícia, nos maiores protestos de rua em mais de duas décadas.

Um manifestante morreu atropelado por um carro que tentou furar o bloqueio da manifestação no interior de São Paulo e mais de cem ficaram feridos.

Fartos da corrupção, da má qualidade do transporte, da educação e da saúde, dos preços em alta e dos custos bilionários com obras para a Copa do Mundo de 2014, quando o país enfrenta vários desafios em várias frentes, os brasileiros surpreenderam seu próprio governo e o mundo com a virulência e o tamanho de seus protestos.

A presidente Dilma Rousseff se reúne nesta sexta com vários membros de seu gabinete, incluindo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Nessa reunião, os ministros irão discutir a situação após as manifestações, os slogans e reivindicações, e a possibilidade de um discurso de Dilma a todo país, informou o jornal Folha de São Paulo.

A presidência não quis comentar esta informação.

Dilma também cancelou uma viagem oficial ao Japão, entre 26 a 28 de julho, de acordo com a presidência.

As manifestações começaram há pouco mais de 10 dias exigindo a revogação dos aumentos dos preços das passagens dos transportes, mas imediatamente se somaram outras denúncias e reclamações.

O cancelamento do aumento do preço da passagem em muitas cidades, incluindo São Paulo e Rio, não conseguiu parar os protestos.

Os manifestantes, em sua maioria jovens, de classe média e apolítico, pedem menos dinheiro para os estádios e mais investimentos em serviços básicos.

O Brasil, sétima economia mundial, atravessa um período de fraco crescimento econômico e aumento da inflação.

A tentativa de invasão do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, por um grupo de manifestantes radicais na quinta-feira deixou as autoridades assustadas, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo.

A polícia conseguiu conter os manifestantes, mas janelas foram quebradas e objetos incendiários foram jogados dentro do edifício.

Dois microônibus da FIFA e o hotel onde estavam hospedados os funcionários da organização em Salvador, onde o Uruguai e a Nigéria (2-1) disputaram partida válida pela Copa das Confederações, foram apedrejados por manifestantes.

"Ninguém da FIFA foi atingido. Nenhuma pessoa. A FIFA não estuda a suspensão da Copa das Confederações", declarou o gerente de comunicações da federação internacional de futebol, Delia Fischer, ao jornal O Globo, descartando os boatos de um possível cancelamento.

A polícia de choque controlou o ataque com gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de pimenta.

"Se você quiser segurança, não venha para o Rio de Janeiro, não venha para a Copa do Mundo, porque, se você vier, ajudará este governo que atira em nós", disse à AFP Rodrigo Neves, de 20 anos, mostrando o ferimento por bala de borracha recebido nas costas de um amigo no Rio de Janeiro.

Nem Dilma Rousseff nem qualquer outra autoridade falou publicamente durante os protestos de quinta.

"Temos manifestantes sem líderes contra políticos sem líderes. As autoridades permanecem mudas", comentou Merval Pereira, escritor e editorialista do jornal O Globo.

No Rio de Janeiro foi registrado o maior e mais violento protesto, com cerca de 300 mil manifestantes marchando até a prefeitura.

Violentos confrontos com a polícia ocorreram, além de saques, incêndios e vandalismo, deixando pelo menos 62 feridos logo após o jogo em que a Espanha goleou o Taiti por 10 a 0 no Maracanã, segundo a polícia.

Em Brasília, onde 30 mil pessoas protestaram, pelo menos 35 pessoas ficaram feridas, três delas em estado grave.

Em São Paulo, membros do Partido dos Trabalhadores (PT) decidiram acompanhar a manifestação com bandeiras, assim como outros partidos e sindicatos, apesar da natureza apolítica da revolta.

Os militantes do PT foram recebidos com hostilidade por muitos dos 110 mil manifestantes, que gritavam contra eles insultos.

A bandeira do PT, fundado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), foi queimada em meio a gritos e aplausos.

A polícia interveio para impedir dois grupos se enfrentasse. Um manifestante ficou com o rosto ensanguentado, observou a AFP.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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