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Família de Jean Charles considera processar polícia londrina

24 jul 2014 - 17h01
(atualizado às 17h05)
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Parentes de Jean Charles dizem que querem saber a extensão em que foram monitorados
Parentes de Jean Charles dizem que querem saber a extensão em que foram monitorados
Foto: PA / BBC News Brasil

A família do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto em 2005 pela polícia londrina, considera a possibilidade de acionar judicialmente a corporação após revelações que ela teria sido alvo de vigilância. O relatório de uma investigação interna divulgado nesta quinta-feira aponta que a Met (polícia metropolitana) coletou informações sobre 18 campanhas ativistas, incluindo a de Jean Charles, que acusam a corporação de erros investigativos ou de responsabilidade por mortes.

O relatório aponta falhas de controle da polícia sobre seu Esquadrão Especial de Demonstrações (SDS) - acusado pela vigilância indevida e hoje desativado -, e a Met afirmou lamentar "enormemente" danos que essa vigilância possa ter causado.

A polícia nega, porém, que as famílias tenham sido diretamente espionadas. O relatório concluiu que foram coletadas e arquivadas indevidamente informações sobre os parentes de vítimas de pessoas mortas pela corporação, sob custódia dela ou em casos de suspeitas de falhas investigativas.

Segundo o investigador responsável pelo relatório, o chefe policial Mick Creedon, o esquadrão coletou informações relacionadas a 18 famílias e campanhas ativistas ao longo de 35 anos. Mas Creedon ressaltou, em entrevista à BBC Radio 4, que a coleta de informações "nunca foi espionagem direta ou atividade secreta contra esses grupos, que são pacíficos e legítimos", mas sim uma "intrusão colateral".

Questionado se tinha certeza de que nenhum tipo de espionagem ocorreu, ele disse que "isso iria na contramão do motivo da existência do SDS, criado para tentar impedir protestos e garantir que Londres fosse um lugar seguro para se viver".

'Intenção'

Vivian Figueiredo, prima de Jean Charles, disse à BBC Brasil que a revelação de que sua família sofreu algum tipo de vigilância lhes causou indignação. Ela afirmou que os parentes de Jean Charles ainda estão avaliando o que vão fazer, pois até agora não sabem ainda qual foi a extensão do monitoramento que sofreram.

Dependendo do tipo de vigilância de que foram alvo, eles consideram a possibilidade tomar uma ação legal contra a polícia.

Vivian acredita que a ação da polícia poderia ter como objetivo enfraquecer a luta da família por justiça. "Não sei qual a intenção (da polícia), gostaria de saber. Acredito que possa ser algo para diminuir o que fazemos", disse. "A gente não tem nada a esconder. Não faz sentido (nos vigiarem). Volta todo o sofrimento (com essa notícia)."

Ela contou que só soube do caso nesta semana, quando jornais britânicos revelaram que a polícia teria espionado os parentes de Jean Charles e outras famílias que também tiveram entes assassinados por policiais. "A gente quer manter a história viva, para que a morte dele não seja em vão, para não acontecer de novo. Mas não queremos tumulto, essa complicação, porque já foi muito sofrimento", disse.

Jean Charles foi morto com sete tiros na cabeça em 22 de julho de 2005, em uma estação de metrô de Londres. O eletricista de 27 anos foi confundido pela polícia com um suposto terrorista que havia participado de um ataque à rede de transportes da capital britânica no dia anterior.

A morte dele desencadeou uma série de inquéritos que investigou as táticas da polícia, a supervisão dos policiais e decisões individuais tomadas no dia de sua morte.

Casos polêmicos

O relatório divulgado nesta quinta-feira não cita nominalmente nenhuma das famílias afetadas pela vigilância, mas a BBC e outros meios de comunicação britânicos apuraram que elas incluem a de Jean Charles, a de Harry Stanley, que também foi alvejado por engano pela polícia em 1999, e a de Ricky Reel, jovem asiático encontrado morto no rio Tâmisa em 1997 - sua família alega que a polícia concluiu erroneamente que a morte do rapaz foi acidental.

Em cada um desses casos, o trabalho da polícia londrina foi alvo de fortes críticas. A mãe de Ricky Reel confirmou à BBC News ter sido contactada pela polícia, que lhe admitiu ter coletado informações sobre ela entre 1998 e 1999.

Creedon alega que a coleta de informações era "inevitável" para que o esquadrão oficial pudesse se aproximar dos grupos ativistas, mas agrega que, "a não ser que essas informações servissem para prevenir crimes ou desordem, elas não deveriam ter sido guardadas". O comissário-assistente da Scotland Yard, Martin Hewitt, disse "lamentar profundamente os danos causados".

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