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Êxodo de negócios brasileiros deve dominar agenda de Dilma na Argentina

25 abr 2013 - 06h52
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A presidente Dilma Rousseff deve manifestar ao governo argentino a preocupação do Brasil com o clima de negócios na Argentina, na visita ao país vizinho nesta quinta-feira, segundo assessores do governo brasileiro, de empresários dos dois países e de economistas argentinos ouvidos pela BBC Brasil.

Ela irá se reunir com a presidente Cristina Kirchner, a quem se refere como "amiga" e com quem costuma se reunir a sós nos encontros bilaterais ou internacionais.

O Brasil é um dos principais investidores diretos na Argentina e o país vizinho é o terceiro principal sócio comercial brasileiro.

A agenda de discussões entre Dilma e Cristina Kirchner será "ampla", como afirmou a presidente horas antes de embarcar para Buenos Aires, mas acredita-se que um dos temas dominantes será a debandada de investimentos brasileiros na Argentina.

Empresários brasileiros reclamam das barreiras comerciais, do controle cambial e das constantes mudanças nas regras econômicas do país.

O caso mais notório e polêmico de uma grande empresa brasileira desistindo de um negócio importante na Argentina foi o da Vale, que em março suspendeu um investimento de US$ 5,9 bilhões (R$ 12 bilhões) para a exploração de potássio na província argentina de Mendoza após investir cerca de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 4 bilhões) no projeto.

A Vale disse que a decisão foi consequência da "situação macroeconômica atual" na Argentina.

A desistência da empresa causou grande preocupação no país - e especulações sobre outros supostos motivos que teriam levado à decisão.

O ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, acusou a empresa de ter pedido "benefícios fiscais".

Jornais argentinos dizem que a decisão da Vale foi motivada pela questão cambial e de custos, além da lentidão para a licitação de obras necessárias para o projeto, como a de uma ferrovia.

Outra empresa brasileira que optou por reduzir seus negócios no país vizinho é a Petrobras, que passou a negociar a venda de parte de seus ativos no país. Segundo fontes do governo brasileiro, a Petrobras reduziria a presença na Argentina, mas manteria a "voz" nos conselhos da companhia no país.

No caso da Petrobras, a decisão de vender parte dos ativos estaria ligada ao "desempenho econômico" da companhia na Argentina. A Petrobras tinha ampliado sua presença no país vizinho, com investimentos bilionários, logo após a histórica crise do país em 2001.

'Queda brusca'

O economista Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb, de Buenos Aires, disse à BBC Brasil que a decisão saída da Vale representa "uma queda brusca" na economia local. "Era o maior investimento estrangeiro aqui em anos", disse ele. Assessores do governo também alertaram para a perda de empregos gerada com a suspensão do projeto.

Para Claveri, na reunião entre as presidentes e seus ministros a questão de investimentos será "fundamental".

Claveri e um empresário argentino do setor de eletrodomésticos, que pediu o anonimato, observaram que a Argentina "carece de investimentos" para fortalecer seu setor produtivo e que as medidas que aplica "pioram" a situação.

"As mudanças de regra de jogo, a questão cambial e o menor crescimento da economia geraram uma redução nas expectativas dos investidores na Argentina", disse o economista da Abeceb.

Assessores do governo brasileiro reconhecem que o Brasil acaba sendo "muito afetado" pelas iniciativas do governo da presidente Cristina Kirchner.

Analistas argentinos entendem que as medidas são voltadas para questões internas, mas acabam afetando as relações externas do país - incluindo o Brasil.

As barreiras comerciais foram aplicadas para "beneficiar" a produção local e o pacote de medidas, adotadas em diferentes épocas, incluiu a regra de "exportar para importar", entre outras, que geraram problemas, por exemplo, para o pagamento para os shows de artistas estrangeiros em Buenos Aires.

O controle cambial é outro exemplo que costuma a ser apontado pelos críticos do governo local. "O governo usa curativos para resolver problemas da economia e acaba agravando a situação", disse o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna.

O controle cambial foi implementado no fim de 2011. Nesta semana, o dólar paralelo foi cotado a mais de oito pesos. E o oficial a cerca de cinco pesos.

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