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Em meio a temor internacional, Rio anuncia novas medidas contra zika para Olimpíada

23 jan 2016 - 20h34
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Em meio ao crescente temor internacional sobre os riscos da epidemia de zika vírus durante os Jogos Olímpicos em agosto - incluindo os alertas recentes dos governos dos Estados Unidos, Canadá e União Europeia, que pediram que mulheres grávidas evitem viagens ao Brasil neste momento - a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou novas medidas de controle para o período em que milhares de turistas estrangeiros são esperados na cidade.

As vistorias de obras de instalações olímpicas já ocorrem de forma constante e, segundo a Prefeitura, integram as ações contínuas, sendo o objetivo principal eliminar possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue e chikunguya e do zika vírus.

Mas após a crescente preocupação da imprensa internacional e de outros governos sobre a possibilidade de os turistas espalharem o vírus e os riscos para mulheres grávidas ou que estejam tentando engravidar, devido às suspeitas de que o zika esteja relacionado à microcefalia, a BBC Brasil questionou a Prefeitura do Rio sobre os planos para o período dos Jogos.

De acordo com as informações adiantadas à BBC, o Rio deve intensificar o trabalho de vistoria das instalações olímpicas a partir de abril, quatro meses antes da cerimônia de abertura da Olimpíada, marcada para o dia 5 de agosto. O objetivo do trabalho é identificar focos do Aedes aegypti e garantir que as obras, em fase final, não contribuam para a proliferação do mosquito.

Não foi informado se o efetivo atual de 3 mil agentes que trabalham no controle ao mosquito será aumentado para o período.

Já a 30 dias das competições, haverá uma vistoria em todas as instalações olímpicas, desta vez com outro intuito: determinar a necessidade de borrifar inseticida com máquinas instaladas em caminhonetes, procedimento conhecido como fumacê.

"No mês que antecede os Jogos, todos os locais de competição e de grande aglomeração de público e seus arredores serão vistoriados, quando será eliminado qualquer possível reservatório remanescente das obras e tratados os não passíveis de eliminação, para evitar o surgimento de focos do mosquito. Se houver indicação técnica de aspersão de inseticida (fumacê), isso será feito", acrescenta a nota enviada à reportagem.

Após o início da Olimpíada, outra estratégia será distribuir agentes fixos em cada instalação olímpica, mantendo um combate e vigilância diretos.

"Equipamentos de dimensões maiores e com cronograma de atividades mais extenso podem ter até três agentes fixos. Eles atuarão diariamente na busca, eliminação ou tratamento de depósitos que possam se tornar potenciais focos do mosquito", acrescenta a nota.

Borrifar inseticida no entorno ou interior dos locais de competição após o início dos Jogos, no entanto, está descartado.

"Durante a Olimpíada, o trabalho dos agentes será constante nessas áreas, não haverá, porém, aspersão de inseticida nas regiões dos equipamentos esportivos, visto que se trata de um produto químico, com uso contraindicado em áreas onde haja grande concentração de pessoas", explica.

Questionada especificamente sobre áreas turísticas além dos locais de competição, a Prefeitura disse que o trabalho cotidiano dos agentes já inclui estas regiões, como aeroportos, rodoviárias, praias, parques, e que até o momento não estão previstas ações específicas por conta dos Jogos.

Maioria dos casos de microcefalia causada pelo zika é em Pernambuco
Maioria dos casos de microcefalia causada pelo zika é em Pernambuco
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Alertas para grávidas e imprensa internacional

A atenção em torno da epidemia de zika no Brasil e a proximidade com os Jogos Olímpicos aumentou nos últimos dias, com os alertas do Centro de Controle de Prevenção de Doenças americano (CDC) e da Agência de Saúde Pública do Canadá, ambos no dia 15, e do Centro de Controle de Prevenção de Doenças da União Europeia (ECDC), na última quinta-feira.

Os três comunicados pedem que neste momento mulheres grávidas evitem viajar ao Brasil e demais países da América Latina que atualmente enfrentam uma epidemia do zika vírus devido às suspeitas de que o vírus cause a microcefalia. O país já contabiliza, até o dia 20 de janeiro, 3.893 casos suspeitos de bebês nascidos com microcefalia em 21 Estados, sendo a maioria em Pernambuco (1.306), Paraíba (665) e Bahia (496).

De acordo com números atualizados pela Secretaria Municipal de Saúde, o Estado do Rio de Janeiro tem 166 casos suspeitos, sendo 92 na capital.

Questionada sobre o alerta internacional, a Prefeitura do Rio não mencionou nada sobre as mulheres grávidas, mas disse à BBC Brasil que "está tomando todas as medidas no combate ao mosquito transmissor do zika vírus. O trabalho vem sendo feito não apenas visando os Jogos Olímpicos e os visitantes que estarão na cidade, mas principalmente para a população do Rio".

O infectologista Jessé Reis Alves, coordenador do Ambulatório de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, concorda com os alertas das agências internacionais.

"Às mulheres que estiverem grávidas e que vivem em locais onde não existe o risco, caso o zika vírus ainda estiver em grande circulação na época dos Jogos, eu diria que elas têm que considerar a possibilidade de não fazer essa viagem", diz.

Ligado ao hospital que é referência nacional em infectologia e doenças tropicais, ele deixa claro que seu posicionamento não é uma recomendação geral, mas sim de um alerta específico para quem, na sua opinião, integra a população mais vulnerável diante da epidemia, devido às suspeitas de ligação com a microcefalia.

"Não é uma recomendação governamental, não posso fazer isso. É uma opinião pessoal minha. Até porque trata-se de algo muito delicado. E as mulheres grávidas que estarão no Rio de Janeiro? Como vão se sentir, diante dos crescentes alertas de que gestantes deveriam evitar vir para o Brasil?", pondera o infectologista.

O assunto tem ganhado as páginas dos jornais ao redor do mundo. Na terça-feira, o britânico The Guardian disse que o "Brasil minimiza ameaça do zika vírus na corrida para o Carnaval e a Olimpíada do Rio". Dois dias antes, o americano The New York Times afirmou que "O alerta sobre o zika ressalta a luta da América Latina contra as doenças causadas por mosquitos".

Para o Sydney Morning Herald, da Austrália, as "Mulheres grávidas enfrentam a ameaça do vírus diante dos Jogos Olímpicos do Brasil". Já o tablóide britânico Daily Mail foi mais incisivo "Não vá para a Olimpíada do Rio se você estiver grávida: Gestantes são alertadas para não viajar ao Brasil enquanto zika vírus, causado por mosquito, atravessa o país ‘gerando o nascimento de bebês com cabeças pequenas fora do comum’".

Medidas

Para o infectologista Jessé Reis Alves, do Emílio Ribas, todo evento de massa como uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada gera riscos de transmissão de doenças.

"Quando estamos falando de um evento tão grande como a Olimpíada, e concentrado numa cidade, o combate ao vetor realmente tem que ser a grande estratégia, e é crucial que todas as medidas adequadas sejam desencadeadas", diz, relembrando que o combate a criadouros, orientação informativa aos turistas e reforço nas ações de saúde pública serão importantes.

Sobre medidas específicas para o período da Olimpíada, o Ministério da Saúde disse que "está reforçando o pessoal para as visitas a residências que visam a eliminação e controle do mosquito em todo o país".

A pasta informou ainda que no Rio de Janeiro "já atuam 14,6 mil agentes comunitários de saúde e 2.267 agentes de combate a endemias. A orientação é para que esse grupo atue, inclusive, na organização de mutirões de combate ao mosquito em suas regiões".

E ao comentar sobre o período olímpico, o ministério citou o frio como um dos fatores de redução dos riscos.

"O período em que serão realizadas a Olimpíada é considerado não endêmico para transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti, como zika vírus, dengue e chikungunya. Em 2015, agosto foi o mês com menor incidência de casos de dengue no país", diz a nota.

Para a infectologista Sylvia Maria Lemos Hinrichsen, coordenadora do Comitê de Medicina de Viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é importante que o governo federal se atente à dimensão dos Jogos Olímpicos.

"A Olimpíada pode ser no Rio, onde os casos suspeitos de microcefalia estão em número inferior ao de outros Estados, e os Jogos ocorrem durante o inverno. Mas esses atletas, comissões técnicas e sobretudo os milhares de turistas vão viajar por todo o Brasil. Fora os brasileiros que também viajarão. É um evento nacional, e é deste ponto de vista que temos que pensar as políticas públicas", diz.

Para a especialista, ainda há muitas questões importantes que seguem desconhecidas.

"Ainda não temos o exame sorológico rápido, não sabemos a viremia (tempo em que o vírus permanece de forma infectante na corrente sanguínea), precisamos conhecer melhor as formas de transmissão. É algo que traz muitos riscos, e estamos focando muito na microcefalia, mas ainda há muito a descobrir sobre esta doença", diz.

Quanto às orientações para turistas estrangeiros, o Ministério da Saúde ressaltou que mantém um portal com informações em português, inglês, espanhol e francês e relembrou medidas do Ministério do Turismo, que no início do ano enviou orientações e alertas a 56 mil mil hotéis, bares e restaurantes, agências de viagens e transportadores turísticos em todo o país acerca dos cuidados com a proliferação do Aedes aegypti e os riscos da dengue, chikungunya e do zika vírus.

"No material estão listadas as medidas que devem ser tomadas nos locais com potencial para proliferação do mosquito como jardins, quintais, cozinhas, depósitos, animais de estimação e banheiros. Como os meses de janeiro e fevereiro são de alta temporada no Brasil, o Ministério do Turismo também tem orientado o turista, antes de viajar, a ficar atento para evitar que a própria casa transforme-se em um criadouro para o mosquito. São informações como cuidados com piscina, geladeira e caixa d'água", acrescenta a nota.

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