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Educação e Economia: Candidatos respondem aos leitores da BBC Brasil

2 out 2014 - 08h29
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João Fellet

Da BBC Brasil em Brasília

Como parte da cobertura especial das eleições de 2014, a BBC Brasil usou as redes sociais para convidar seus leitores a apontar quais, em sua opinião, serão os principais desafios do próximo presidente da República e a fazer perguntas aos candidatos ao cargo máximo do Executivo.

A iniciativa – parte do projeto #salasocial, que utiliza as redes virtuais em busca de histórias originais – deu origem a uma série de reportagens e suscitou debates nas páginas da BBC Brasil no Facebook, Twitter e Google+.

Leitores também enviaram questões aos candidatos, que foram selecionadas pela equipe da BBC Brasil e enviadas às assessorias do presidenciáveis.

Dentre os 11 postulantes, seis responderam: Aécio Neves (PSDB), Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Mauro Iasi (PCB), Pastor Everaldo (PSC) e Zé Maria (PSTU).

Não se manifestaram os candidatos Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB) e Rui Pimenta (PCO).

Confira agora as respostas dos candidados às perguntas dos leitores da BBC Brasil sobre temas de Economia e Educação.

1 - A leitora Marcela Reis, assim como outros internautas, relatou, via Facebook, casos de professores que, como ela, sofreram agressões verbais e até violência física de alunos na escola. Como você pensa em tratar esse problema da violência nas escolas públicas?

Aécio Neves (PSDB): A primeira coisa a ser feita é separar as escolas que se encontram em áreas de alta violência daquelas que enfrentam problemas menos graves e tratá-las de forma distinta. Defendemos a realização de programas que envolvam toda a comunidade, difundindo valores e conhecimento que ajudem a construção de uma sociedade melhor. Entre os programas que defendemos está o Escolas pela Paz, que será implantado para ensinar os jovens a lidar com regras no ambiente escolar, bem como com situações de conflitos.

Eduardo Jorge (PV): Em especial, nosso programa quer valorizar o professor. Definir cronograma para a implantação da educação integral em todo o país. Trazer os pais/tutores para participar no cotidiano da escola, acompanhando e participando da solução dos problemas mais comuns à comunidade escolar. Incluir em todas as políticas públicas a mediação de conflito como ferramenta de construção de novas realidades; apoiar a aprovação e a regulação da mediação de conflitos no país pelo Congresso Nacional.

Luciana Genro (PSOL): Devemos promover uma cultura de paz e tolerância, entrosar a escola com as demandas da comunidade, discutir as causas da violência que vem, em grande parte, de fora da escola. Nas periferias o problema é mais recorrente, já que o ambiente escolar é prejudicado pela violência do narcotráfico e da polícia, que atinge os jovens desde muito cedo em algumas comunidades. Nosso governo será parceiro dos Estados e municípios para que possamos oferecer escolas seguras e tranquilas para professores, funcionários e estudantes.

Mauro Iasi (PCB): O governo do Poder Popular garantirá uma escola pública de qualidade e de tempo integral, com a valorização dos profissionais, através da melhoria substancial dos salários, fim das contratações temporárias e terceirizações, jornada de trabalho composta de 50% do tempo em sala de aula e de 50% de horas-atividade; equiparação do piso salarial com as demais categorias que possuam o mesmo nível de formação; formação presencial dos professores, que deve ser considerada responsabilidade pública; redução do número de alunos por sala de aula.

Pastor Everaldo (PSC): Precisamos entender que esse tipo de violência ocorre em virtude da destruição dos valores mais caros ao país: falta de respeito à autoridade, falta de educação e civilidade, quebra da unidade familiar com filhos sendo criados pelo mundo e não pela família, entre outros problemas que demonstram de maneira evidente o processo de degeneração das estruturas tradicionais da sociedade brasileira. Precisamos atacar a conseqUência, que é a agressão sofrida pelos professores, mas também a causa, que é a quebra da estrutura familiar.

Zé Maria (PSTU): Essa violência é em primeiro lugar reflexo da violência que assistimos em nossa sociedade, mas também impulsionada pelo quadro de precarização da educação pública. São salas superlotadas, professores e funcionários mal pagos e desrespeitados em seus direitos, falta de estrutura e equipamentos, ou seja, toda uma situação que faz com que aquele ambiente não seja um ambiente de estudo, de acesso ao conhecimento e ao lazer. Para reverter isso, o PSTU defende a estatização do ensino privado e investir o equivalente a 10% do PIB em educação.

2 - Muitos leitores jovens ouvidos pela BBC Brasil manifestaram uma preocupação em comum: de que forma a atual situação econômica pode afetar a educação no país? Um deles foi Lucas Diego, que enviou sua pergunta via Twitter: "Sabemos da possível recessão econômica. Isso compromete os investimentos no Fies, no Prouni e na implantação de universidades?"

Aécio Neves: O nosso compromisso é manter os programas que apresentam bons resultados e investir para aperfeiçoá-los. O orçamento da educação deve aumentar para 10% do PIB até 2019, permitindo a manutenção dos investimentos na área.

Eduardo Jorge: Não há uma tendência inequívoca de que a economia entre em recessão. Possivelmente tenhamos baixo crescimento nos próximos anos. O governante deve eleger prioridades e, em nosso caso, os serviços públicos voltados à população em áreas básicas – educação, saúde, transportes, moradia etc. – terão prioridade absoluta.

Luciana Genro: Em nossa visão isso não pode acontecer. Não podemos mais tolerar que a economia do Brasil siga amarrada aos interesses dos bancos às custas de perdas sociais. Medidas concretas, como a taxação de grandes fortunas e a auditoria da dívida pública, vão garantir que os recursos públicos sejam utilizados para melhorar áreas de interesse imediato da população, como é o caso da educação. Em nosso governo, os direitos sociais são a plataforma principal.

Mauro Iasi: O PCB defende a imediata aplicação de 10% do PIB para a educação pública, sem desvios para a iniciativa privada. Desta maneira, será possível avançar no sentido do acesso universal ao ensino superior público, sem necessidade de que sejam mantidos programas como o Fies e o Prouni, verdadeiros planos de financiamento das grandes empresas privadas que lucram com os serviços de educação, transformada em mera mercadoria.

Pastor Everaldo: O investimento em Fies e Prouni são extremamente econômicos para o governo brasileiro. Um estudante bolsista do Prouni custa muito menos para o governo que um estudante em universidade pública. Portanto, o Prouni será nosso modelo prioritário de expansão do ensino superior, e vamos ainda mais longe, pois é nosso projeto aplicar a lógica do Prouni também nos ensinos médio e fundamental.

Zé Maria: De fato, a situação é preocupante. Se você pegar os discursos e os programas dos três principais candidatos aí, você vai ver que a receita que todos eles defendem caso eleitos é uma só: ajuste fiscal e cortes no orçamento. Isso para liberar mais recursos para o pagamento da dívida interna e externa aos banqueiros. Para resolver esse problema é necessário priorizar a educação estatizar o ensino privado e investir 10% do PIB na educação pública.

3 - Italo Oliveira (via Facebook): "Estudo em uma escola técnica federal, de qualidade muito boa e estrutura muito melhor que a de muitas escolas estaduais e municipais, com nível altíssimo de professores. Aumentar o número dessas escolas seria benéfico ou com grande oferta e procura poderá haver um sucateamento dessa mesma rede dentro de alguns anos?"

Aécio Neves: Com uma boa gestão e os investimentos certos é possível aumentar o número de escolas técnicas – aumentando também o número de pessoas qualificadas no país - sem diminuir a qualidade do ensino; é uma questão de vontade política. Ítalo, para você ter uma ideia de como isso é possível, podemos pegar o exemplo bem-sucedido das Etecs e Fatecs em São Paulo, que são escolas públicas, de muita qualidade, que formam profissionais que são absorvidos diretamente pelo mercado de trabalho, e que têm sido constantemente expandidas pelo governo de São Paulo.

Eduardo Jorge: É preciso, sim, aumentar a oferta dos chamados cursos técnicos, mas observando não só as vocações locais, mas garantindo a possibilidade de acesso ao ensino universitário. É equivocada a ideia de que massificar o acesso às políticas públicas gera, por natureza, seu sucateamento. A título de exemplo, a alimentação escolar, instituída ainda nos anos 1940 como política assistencial, é hoje o maior programa de alimentação escolar do mundo.

Luciana Genro: Aumentar o número de instituições públicas de qualidade, em todos os níveis, é sem dúvida nenhuma um enorme benefício. Para isso, é preciso assumir o papel do Estado na garantia do direito a educação, rompendo com o modelo privatista, que transformou a educação nacional, em especial o Ensino Superior, num grande mercado e que expandiu o acesso através de programas que terceirizaram para o setor privado o atendimento, abrindo mão da qualidade.

Mauro Iasi: No ensino superior público, incluídas aí as escolas de formação técnica, o PCB participa ativamente da luta para garantir a expansão da educação pública, gratuita e de qualidade visando à universalidade do acesso, como uma instituição de ‘não-mercado’ voltada para a formação crítica necessária à formação de profissionais capazes de se apropriar do pensamento científico, sujeitos ativos no processo de transformação social, sem deixar de lado a formação profissional em si.

Pastor Everaldo: Não há como fugir da lei de oferta e demanda, e a massificação de um determinado produto ou serviço tende a torná-lo padronizado e de menor qualidade. No entanto, podemos contornar essa tendência com a criação de planos de metas e meritocracia na sua gestão, além do estímulo à presença das famílias dos estudantes na escola, fiscalizando a gestão de ensino dos seus filhos, entre outras medidas relevantes. O aumento da prestação do serviço educacional técnico é um compromisso da nossa campanha firmado no nosso plano de governo.

Zé Maria: Aumentar o número de vagas e escolas é uma necessidade urgente que precisa ser feito elevando os investimentos em educação e estatizando o ensino privado. Se aumentar as vagas através de canetadas para capitalizar nas eleições, como vemos muitas vezes, a qualidade vai piorar. O PSTU defende que seja investido o equivalente a 10% do PIB exclusivamente em educação pública, imediatamente.

4 - Dois leitores da BBC Brasil, Clau Pirath e Felipe César Oliveira, fizeram, via Facebook, perguntas na mesma linha. Ambos querem saber como o próximo presidente pode assegurar que técnicos já formados conseguirão empregos, como garantir que haverá vagas para todos.

Aécio Neves: Vamos revitalizar a economia brasileira, fazer com que o Brasil volte a crescer, incentivando obras de infraestrutura que serão feitas por meio de parcerias público-privadas. Esses investimentos farão com que o Brasil se torne um país mais competitivo, fazendo com que o setor produtivo cresça e empregue mais.

Eduardo Jorge: Uma de nossas propostas é reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário. Isso propiciará que mais brasileiros tenham oportunidade de trabalho e também mais tempo para suas famílias. Propomos reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais e começar uma transição para chegarmos a 30 horas semanais – trabalharmos menos para que todos trabalhem – sem redução salarial. O impacto positivo sobre a vida é imediato.

Luciana Genro: Em primeiro lugar, defender o emprego. Por outro lado, como política mais geral, vemos como essencial a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário para ampliar o emprego, limitando ao mesmo tempo a realização de jornada de trabalho extraordinária, a adoção da Convenção 158 da OIT e o fim da rotatividade no emprego. Concomitantemente, com a revisão da política de endividamento público, também os bancos se verão na obrigação de emprestar ao setor produtivo e às pessoas a juros baixos.

Mauro Iasi: A ampliação da oferta de empregos aos trabalhadores brasileiros depende de um conjunto de medidas urgentes e necessárias: redução da jornada de trabalho; moratória da dívida pública; investimento prioritário na Educação, Saúde e Moradia; reestatização das empresas privatizadas nos últimos governos; estatização de setores econômicos fundamentais como a mineração, a produção e distribuição de energia, os transportes essenciais, as siderúrgicas, a construção naval e de aviões, a indústria de bens de capital em setores chaves, etc.

Pastor Everaldo: Um governo nunca tem como garantir que fornecerá empregos para todos, e os únicos que garantiram isso ao longo da história trouxeram como custo uma máquina burocratizada, violenta e corrupta. Mas podemos garantir que apresentaremos reformas políticas, legislativas e administrativas que garantam a máxima ampliação da oferta de empregos, através de medidas de desburocratização e apoio à criação de empresas, redução de tributos e incentivo à exportação de produtos e serviços brasileiros, entre outras medidas.

Zé Maria: Se mudarmos essa política econômica atual que privilegia os bancos e empresas e implementarmos uma política econômica voltada aos interesses dos trabalhadores e da grande maioria da população, vamos precisar formar mais técnicos em praticamente todas as áreas. A reforma agrária é uma necessidade premente e, para fazermos isso, não é só necessário expropriar o latifúndio e distribuir a terra. O governo tem que apoiar as famílias, tanto com crédito e subsídio quanto com apoio técnico especializado.

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