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Dissidentes cubanos não observam mudança com visita de Dilma

30 jan 2012 - 17h55
(atualizado às 18h55)
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Em uma entrevista coletiva em Havana nesta segunda-feira, dissidentes cubanos afirmaram não esperar nada de relevante da visita da presidente Dilma Rousseff em relação à situação dos direitos humanos na ilha.

"Acho que no pessoal (Dilma) pode estar preocupada pelo que acontece em Cuba em matéria de direitos humanos. Mas não espero que ela trate o caso de Wilman Villar abertamente", disse José Daniel Ferrer, um ex-preso de consciência do "Grupo dos 75" e líder da dissidente União Patriótica de Cuba.

Criado em agosto de 2011, o grupo pertencia desde o mês de setembro a Wilman Villar, o preso que morreu no último dia 19 de janeiro após uma greve de fome que iniciou na prisão, segundo afirma a oposição interna. No entanto, o governo cubano nega esse jejum e que se tratava de um dissidente.

Em relação à visita que a presidente inicia hoje em Cuba, Ferrer não parece animado. "Há outros interesses, outras questões envolvidas e acho que isso ficará para trás, assim como fez o Lula quando morreu (Orlando) Zapata", acrescentou Ferrer.

Na mesma linha se pronunciou Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), que disse que não espera "nada de relevante" da visita de Dilma. Para Sánchez, a política externa do governo brasileiro segue marcada por uma interpretação anacrônica do princípio de não-intervenção.

"A diplomacia brasileira tem uma disciplina pendente em relação à atualização de seu enfoque do princípio de não-intervenção, válido do ponto de vista político e do direito internacional, mas para os direitos fundamentais", disse Sánchez à Agência Efe. Ele e Ferrer participaram de uma entrevista coletiva à imprensa estrangeira na sede da CCDHRN.

Morte de Villar

Na ocasião, Maritza Pelegrino, a viúva de Wilman Villar, voltou a rejeitar a versão oficial sobre o caso de seu marido - a qual diz que o governo considerava Villar como um "recluso comum", condenado por causa de um episódio de violência doméstica. A viúva nega a agressão de seu marido em uma disputa matrimonial que tiveram em julho de 2011 e que acabou com a prisão de Villar - libertado três dias depois.

Maritza afirmou que seu marido já era contra o governo cubano por causa da morte de seu pai em uma prisão cinco anos atrás. Em setembro, quando Wilman se uniu à dissidente União Patriótica de Cuba, as coisas começaram a mudar. Em um ato de protesto com outros dissidentes de Contramestre (localidade do leste de Cuba onde residia), em novembro, Villar foi detido, julgado e condenado a quatro anos de prisão por "desacato, atentado e resistência".

Ferrer indicou que Villar, que não padecia doença alguma antes de ingressar em prisão, esteve em uma cela de castigo em condições insalubres, o que pôde provocar a pneumonia que originou sua morte.

Segundo a esposa do dissidente, Villar não recebeu atendimento médico adequado e que só foi transferido para um hospital quando sua saúde já estava muito deteriorada. "Estão mentindo. Querem matar também sua imagem", disse Maritza em relação aos argumentos oferecidos pelo governo cubano.

EFE   
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