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Dejetos de barragens se aproximam do Espírito Santo

10 nov 2015 - 10h18
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Onda de lama provocada por tragédia em Minas Gerais deve comprometer o abastecimento de água em duas cidades capixabas. Órgão ambiental do estado exige providências da mineradora Samarco.

Duas cidades no Espírito Santo se preparam nesta terça-feira (10/11) para suspender o abastecimento de água devido à enxurrada de lama originada do rompimento de duas barragens de dejetos de mineração no distrito mineiro de Bento Rodrigues, em Mariana, na última quinta-feira. O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), do Espírito Santo, intimou a mineradora Samarco a tomar providências em relação aos impactos ambientais da tragédia.

"A determinação do instituto é para que a empresa promova todo o apoio necessário aos municípios e aos cidadãos capixabas que forem atingidos pela onda de lama, com ações que minimizem os impactos ambientais decorrentes da impossibilidade do tratamento de água nos locais afetados pelos rejeitos”, informou o Iema nesta segunda-feira.

O instituto é o responsável por emitir a licença ambiental na região. Entre as ações exigidas, estão o monitoramento da qualidade da água do Rio Doce e das águas do mar que serão atingidas pela lama e distribuir água potável para consumo humano e animal.

De acordo com o biólogo André Ruschi, diretor da escola Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz, no Espírito Santo, a lama que desce no Rio Doce atingirá cerca de 10 mil quilômetros quadrados do litoral norte da região litorânea do estado.

A área compreende três unidades de conservação marinhas: Comboios, Área de Proteção Ambiental Costa das Algas e Refúgio da Vida Silvestre de Santa Cruz, que somam cerca de 200 mil hectares no mar.

A tragédia matou ao menos três pessoas, 24 ainda estão desaparecidas e 612 ficaram desabrigadas. Entre os corpos identificados, estão dois funcionários de empresas que prestavam serviço à Samarco e um homem que teve um mal súbito após o rompimento da barragem.

Abastecimento de água

A lama com rejeitos usados no processo de mineração atingiu o Rio Doce, tendo percorrido cerca de 500 quilômetros, seguindo por ele em direção ao Espírito Santo. Duas cidades do estado – Baixo Guandu e Colatina – devem ser obrigadas a suspender a captação de água do rio para a população. Moradores das localidades começaram a estocar água.

Mais de 300 mil pessoas estão sem água, e escolas próximas ao Rio Doce suspenderam as aulas, afetando em torno de 25 mil alunos. Os dejetos atingiram o reservatório de Aimorés, em Minas Gerais, onde é captada a água para abastecer a cidade capixaba de Baixo Guandu, situada na divisa com Minas.

A lama deve chegar nesta terça-feira a Colatina, cidade com mais de 100 mil habitantes, devendo também obrigar à suspensão do abastecimento de água local. Os dejetos devem seguir até Linhares, onde residem em torno de 140 mil. A cidade iniciou captação de água em outro rio. No município mineiro de Governador Valadares, com cerca de 280 moradores, o abastecimento já foi interrompido no domingo.

Segundo análises, a grande quantidade de lama e ferro impossibilita o tratamento da água afetada.

Licença suspensa

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais suspendeu a licença da Samarco para exercer qualquer atividade no município de Mariana. De acordo com a secretaria, a Samarco só está autorizada a desenvolver ações emergenciais na cidade, ou seja, as destinadas a combater o impacto do rompimento das barragens e prevenir novos prejuízos. Ainda conforme o órgão, a empresa só poderá retomar as atividades após a apuração e a implementação de medidas de reparo dos danos provocados.

O Ministério Público de Minas recomendou à Samarco que garanta pelo menos um salário mínimo para cada família atingida pela tragédia a partir de dezembro, informou na segunda-feira o promotor Guilherme de Sá Meneghin.

No domingo, o Ministério Público entregou um documento com cinco providências a serem tomadas pela empresa. Além de uma remuneração mensal para cada família, o órgão pede que seja feita uma relação com os nomes de todos os afetados, que sejam identificadas as necessidades dos atingidos, feito um cronograma de realocação dos desabrigados e um plano de indenização às vítimas.

Ações de mineradoras caem

A brasileira Vale e a australiana BHP Billiton são sócias na Samarco, operadora da mina de Germano, próxima a Mariana. A Vale produziu em 2014 quase 39 milhões de toneladas de minério de ferro em seu complexo em Mariana, e a produção aumentou 1% nos primeiros nove meses deste ano.

As ações da BHP Billiton, a maior empresa de mineração do mundo, caíram 5% nesta segunda-feira em Londres, atingindo o nível mais baixo em sete anos. As ações da Vale acumularam perdas pesadas na sexta-feira e caíram 1% segunda-feira em São Paulo.

Analistas do Deutsche Bank advertem que o desastre pode levar ao fechamento da Samarco durante uma década, com os custos de limpeza somando mais de 1 bilhão de dólares. "Palavras não podem descrever o impacto desta tragédia sobre empregados e funcionários da Samarco, suas famílias e a comunidade", afirmou o presidente da BHP, Jac Nasser. "Nossos pensamentos estão com o pessoal da Samarco, a comunidade afetada e o povo brasileiro", acrescentou.

MD/rtr/ebc/ots

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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