Dalai Lama sugere à imprensa: vocês devem ter nariz de elefante
- Simone Sartori
- Direto de São Paulo
Em sua quarta visita ao Brasil, o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, líder espiritual do Tibete, defendeu, na tarde desta sexta-feira, durante coletiva em São Paulo, a busca por harmonia entre diferentes tradições religiosas. Ele destacou também o papel da imprensa no combate à corrupção nas mais variadas profissões. "Vocês devem ter um nariz tão longo quanto a tromba de um elefante. Vocês precisam farejar tudo", disse ele, que apontou ainda a prática da ética como caminho para reduzir os problemas no mundo.
"Talvez vocês, jornalistas, não estejam necessariamente interessados nessas coisas que eu falei, mas eu trago esse assunto porque vocês têm um papel muito importante a desempenhar na promoção desses valores. Como nós sabemos, muitas vezes, o que a imprensa divulga são fatos negativos, as pessoas se interessam por isso. E tudo bem que vocês cubram isso, mas costumo dizer que vocês têm que ter um nariz tão longo quanto a tromba de um elefante. Vocês precisam farejar tudo, por todos os ângulos. Vocês têm que ter um fato apurado para conhecer o que tem ali por trás. Isso em relação a todo o tipo de pessoa: líderes religiosos, políticos, advogados, porque infelizmente em todas as profissões encontramos corrupção."
Dalai Lama ressaltou que a investigação por parte da imprensa deve ser sempre conduzida de forma completa. Para ele, isso deve ocorrer principalmente no Brasil, "um País que está experimentando um desenvolvimento muito rápido".
O líder espiritual voltou a defender a igualdade entre os seres humanos e a se referir a si mesmo como "mais um". "Meu primeiro compromisso é buscar criar uma consciência sobre essa igualdade entre todos os seres humanos, que compartilham um só país, azul, que é a nossa casa. Então, nós devemos nos considerar como irmãos e ser conscientes de que compartilhamos uma só casa, que devemos cuidar. Estou aqui como ser humano, como um dentro de sete bilhões de seres humanos que existem no mundo."
Questionado sobre como a religiosidade pode ajudar no futuro da humanidade, ele voltou a destacar que as tradições religiosas têm na essência a mesma mensagem e que é preciso respeitar as diferenças. Dalai Lama sugeriu que a oração e a meditação devem ser aplicadas no cotidiano ao invés de serem deixadas "trancadas" no quarto.
"Apesar das diferenças religiosas, de diferentes abordagens, todas as grandes religiões do mundo têm a mesma mensagem: amor, compaixão e o perdão." Ele defende que as diferentes abordagens são necessárias, já que se houvesse uma só religião no mundo, "por mais maravilhosa que fosse, isso não ia funcionar. (...) Para algumas pessoas, a disposição mental delas, o conceito de um criador, de Deus, é um instrumento muito poderoso e eficaz. Porém, para outras pessoas, não há nenhum eco com esse tipo de ideia", afirmou.
"O budismo diz que cada pessoa é um criador, tudo acontece de acordo com os próprios atos daquela pessoa. Aqui, estou falando da lei da causalidade. Para outra pessoa essa atitude vai ser mais eficaz. Além dessas duas abordagens, é importante ter uma terceira via, que não passe pela religião. (As divergências religiosas) são necessárias e têm o mesmo objetivo, que é buscar a paz interior. Essa busca pela paz tem um efeito que pode se estender de uma pessoa, para uma família, para uma comunidade. É importante termos a necessidade de diferentes abordagens, que visam o mesmo fim. Eu tenho muitos amigos que são cristãos, que são judeus, que são muçulmanos", disse.
Na quinta-feira, em palestra exclusiva a empresários brasileiros, Dalai Lama pregou ética e altruísmo à classe. Ele exaltou o Brasil e sugeriu um plano econômico holístico e sustentável. O líder espiritual deve embarcar na noite de sábado para os Estados Unidos. Antes, ainda no Brasil, ele lidera um encontro religioso no Anhembi, em São Paulo. Ainda nesta sexta-feira, a Sua Santidade o 14º Dalai Lama participará de um evento no World Trade Center, em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein.