Veja a seguir 18 casos de criminosos que tiveram a sanidade mental questionada e entenda como é feita a perícia. Insanidade sob suspeita Marcelo Miranda Becker O Código Penal brasileiro prevê que criminosos incapazes de entender seus delitos, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não podem responder judicialmente pelos crimes. Para ser declarado inimputável, deve-se passar por um rigoroso exame psiquiátrico, chamado incidente de insanidade mental. A legislação sobre o assunto vem sendo alvo de debates nos últimos anos, motivados por suspeitas de que acusados de crimes violentos simulam insanidade para escapar de penas rígidas, cumprindo medidas de segurança em casas psiquiátricas. Veja a seguir 18 casos de criminosos que tiveram a sanidade mental questionada e entenda como é feita a perícia: Condenado a 270 anos de prisão, o motoboy Francisco de Assis Pereira, conhecido como o 'Maníaco do Parque', chegou a ter sua sanidade questionada por sua defesa, mas atualmente cumpre pena como um criminoso comum. Entre 1997 e 1998, Pereira estuprou e matou pelo menos oito mulheres no Parque do Estado, na divisa de São Paulo e Diadema. Ele seduzia as vítimas com falsas promessas de emprego em uma agência de modelos. O motoboy foi condenado pelas mortes e ainda pelo estupro de outras nove mulheres, que sobreviveram aos ataques. A defesa de Pereira alegou que ele sofre de desequilíbrio mental e tentou que ele fosse levado a um manicômio judiciário, mas o pedido não foi aceito. 'Eu tenho um lado ruim dentro de mim. É uma coisa feia, perversa, que eu não consigo controlar. Tenho pesadelos, sonho com coisas terríveis. Acordo todo suado. Tinha noite que não saía de casa porque sabia que na rua ia querer fazer de novo, não ia me segurar. Deito e rezo, pra tentar me controlar', disse Pereira após ser preso. Ele chegou a ser dado como morto durante uma rebelião na Casa de Custódia de Taubaté, em dezembro de 2000, mas a direção da penitenciária voltou atrás após a recontagem de detentos. Devido às constantes ameaças de morte que recebia de outros apenados, Pereira foi transferido à penitenciária de Itaí, que abriga condenados por crimes sexuais. Em novembro de 1999, o estudante do 6º semestre do curso de Medicina Mateus da Costa Meira, então com 24 anos, invadiu armado uma sala de cinema do Morumbi Shopping, em São Paulo, e disparou contra a plateia. Três pessoas morreram e cinco ficaram feridas. O ex-estudante disse que na época ouvia vozes e se sentia perseguido, se identificando com o personagem do filme Clube da Luta, que era exibido na sala no momento em que cometeu o crime. Os advogados de defesa alegaram a incapacidade mental do acusado e questionaram o laudo da perícia, que diagnosticou que Mateus sofria de transtorno de personalidade esquizoide, problema que não o impediria de ter consciência de seus atos. A Justiça paulista não aceitou a tese da defesa e condenou Mateus a 120 anos de reclusão, mas, em 2007, a pena foi revisada e reduzida para 48 anos e nove meses. Em maio de 2009, o 'Atirador do Cinema' tentou matar um colega de cela na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador (BA). No julgamento do segundo crime, entretanto, Mateus foi considerado inimputável, não podendo, portanto, ser responsabilizado por seus atos. Diante da decisão, a defesa do ex-estudante afirmou que recorrerá da decisão da Justiça paulista para internar Mateus em uma clínica psiquiátrica. Em outubro de 2002, o casal Manfred e Marísia Von Richtofen foi encontrado morto em sua mansão em São Paulo. Uma semana depois, a filha do casal, Suzane Von Richtofen, na época com 18 anos, confessou o crime, com a intenção de ficar com a herança dos pais. Ela recebeu a ajuda de seu namorado na época, Daniel Cravinhos, e do irmão dele, Christian, que confessaram ter matado o casal com golpes de barra de ferro. Em 2006, os três foram condenados por homicídio triplamente qualificado. Em junho de 2006, o desembargador José Damião Pinheiro Machado Cogan, da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, negou o pedido de suspensão do processo, feito pelo advogado Pedro José Sperandio Cano Galhardo, que não a representa no caso. Galhardo entrou com habeas-corpus no TJ-SP alegando que Suzane era portadora de oligofrenia, doença que afeta as capacidades intelectuais da pessoa e que, uma vez constatada em réu de processo criminal, pode gerar sua inimputabilidade. Segundo o desembargador, '...a tempo algum houve qualquer dúvida a respeito da capacidade de entendimento e determinação da paciente, matéria que por certo teria sido aventada por sua defesa na sede do juízo de admissibilidade da acusação'. Atualmente, Suzane cumpre pena na Penitenciária Feminina Santa Maria Eufrásia Pelletier, no complexo de Tremembé. Em outubro de 2003, o casal Liana Friedenbach, 16 anos, e Felipe Silva Caffé, 19 anos, foi acampar, sem o consentimento dos pais, em um sítio abandonado na Grande São Paulo. Eles foram capturados por um grupo de criminosos que os manteve em cativeiro por vários dias. As famílias não foram contatadas para qualquer tipo de resgate. Felipe foi o primeiro a ser morto, com um tiro na nuca. Liana foi torturada, estuprada e morta três dias depois. Roberto Aparecido Alves Cardoso, conhecido como Champinha, na época com 16 anos, foi apontado como idealizador do crime e líder do grupo. Em novembro de 2006, após Champinha cumprir a internação na Fundação Casa, um laudo atestou que ele não tinha condições psíquicas de retornar às ruas. Mesmo com o vencimento de sua internação, Champinha seguiu na Fundação Casa, de onde fugiu em maio de 2007, sendo recapturado cerca de 11 horas depois. Após a fuga, a unidade passou a ficar sob responsabilidade da Secretaria de Saúde de São Paulo, que fornece atendimento psiquiátrico a jovens infratores. Em 2008, mais duas mortes foram atribuídas a Champinha. Entretanto, ele não pode ser processado porque os crimes foram cometidos quando ele era menor de idade, sendo que ele já havia cumprido o tempo máximo de internação previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Assassino confesso de 42 meninos durante 13 anos no Maranhão e no Pará, o mecânico Francisco das Chagas Rodrigues de Brito é considerado o maior serial killer brasileiro. Em diferentes julgamentos, Chagas foi condenado a penas que, somadas, chegam a 250 anos de prisão. Segundo o Ministério Público do Maranhão, as vítimas de Chagas tinham entre 6 e 15 anos. Quando cometia os crimes, Chagas emasculava os meninos - ou seja, cortava suas genitálias. O advogado do mecânico, Erivelton Lago, se baseou em laudo psiquiátrico segundo o qual Chagas tem transtorno de personalidade antissocial, o que faz com que ele tenha discernimento do caráter ilícito de suas ações, mas não possua autodeterminação para evitá-las. Os jurados aceitaram parcialmente a tese da defesa, considerando o réu semi-imputável. Assim, Chagas teve a pena reduzida. Chagas foi preso em dezembro de 2003, após ser apontado como suspeito da morte do adolescente Jonathan Vieira, 15 anos. Investigação da polícia, em março de 2004, encontrou duas ossadas enterradas dentro da casa do mecânico. mais especiais de notícias