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Corpo de Zilda Arns é velado no palácio do governo do PR

15 jan 2010 - 11h38
(atualizado às 13h59)
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Roger Pereira
Direto de Curitiba

O caixão com o corpo da fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, chegou por volta das 11h15 ao Palácio das Araucárias, em Curitiba (PR), onde será velado em cerimônia aberta ao público. O senador Flávio Arns (PSDB-PR), sobrinho de Zilda, está presente.

O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que levava o corpo de Zilda pousou por volta das 10h30 no Aeroporto Internacional Afonso Pena. De lá, o caixão seguiu em um caminhão do Corpo de Bombeiros até a sede do governo, com cortejo da Polícia Militar.

O corpo foi acomodado em um caixão fechado, coberto com a bandeira do Brasil. Até a chegada de Flávio Arns, que acompanhou o traslado dos restos mortais desde o Haiti, quem recebia a imprensa e os visitantes era Carolina Arns, filha do senador.

"A família sempre encarou a morte com muita serenidade. A própria tia Zilda sofreu isso quando perdeu uma filha aos 30 anos em um acidente de carro. Claro que estão todos tristes, mas é momento de celebrar a vida e a história dela", afirmou Carolina.

Por volta das 11h30, a fila para entrar no palácio já tinha cerca de 250 pessoas, a maioria voluntários da Pastoral da Criança. Aos voluntários, Carolina deixou uma mensagem. "O trabalho continua. A Zilda plantou a semente e agora as voluntárias têm que continuar com o mesmo empenho", disse.

Companheira de viagem de Zilda Arns, a irmã Rosangela Altoé estava a poucos metros do local onde a médica foi atingida por escombros e morreu, durante o terremoto que atingiu o Haiti. Com o corpo cheio de hematomas, irmã Rosângela disse que se salvou por detalhe. "Estávamos juntas, conversando com um grupo de pessoas após a palestra da dra. Zilda. Quando ela caminhou em direção à escada para deixar o local, recuei dois passos para recolher o material que utilizamos na palestra. Foi aí que ocorreu o tremor e enquanto dra. Zilda foi atingida na cabeça, eu deslizei e consegui saltar as paredes que ruíam", disse.

Ainda muito emocionada, irmã Rosângela deu sua visão sobre a tragédia. "Zilda Arns viveu toda sua vida pela Pastoral da Criança e também morreu por ela. A vontade dela de estar no Haiti era imensa, uma viagem que planejávamos desde agosto e que conseguimos realizar com muita dificuldade", disse. A irmã afirmou que o terremoto durou menos de trinta segundos, mas que o desmoronamento levou mais do que sete minutos. "Ouvi um estrondo, como se fosse uma bomba. Depois disso só vi uma nuvem branca e ouvi muitos gritos e crianças chorando, pois estávamos perto de uma escola", disse.

O senador Flávio Arns disse acreditar que sua tia morreu na hora, com o trauma que sofreu na cabeça. "Ela ficou soterrada e só foi encontrada na quarta-feira, mas pelo trauma que vimos na cabeça dela, acreditamos que morreu na hora", afirmou. Arns, em poucas palavras, agradeceu o apoio da Força de Paz brasileira no Haiti e da embaixatriz do Brasil no país caribenho, Roseana Teresa Aben-Athar Kipman. "Foram eles que encontraram o corpo da dra. Zilda e que cuidaram de tudo para que ela fosse trazida ao Brasil. Só vimos o corpo hoje, no desembarque", afirmou, agradecendo, também, ao secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, presente no velório, pelo empenho do governo federal no resgate.

O velório ficará aberto à visitação pública até as 13h, quando será realizada uma celebração apenas com os familiares, presidida por d. Geraldo Magella Agnelo, Cardeal Arcebispo de Salvador, e Primaz do Brasil, co-fundador da Pastoral da Criança. Após as 14 horas, a visitação volta a ser aberta.

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB) foi uma das primeiras autoridades a comparecer ao velório. "É um testemunho cristão. A vida dela é um exemplo de missão. Como fundadora da pastoral, salvou dezenas de milhares de vidas", disse.

Requião afirmou não querer que as homenagens à fundadora da pastoral se encerrem hoje. "É importante que não esqueçamos o exemplo, por isso estamos sugerindo ao presidente da República que patrocine a indicação póstuma da Dra Zilda para o Prêmio Nobel da Paz e que crie um premio com o nome dela para todos os que se destaquem na luta contra a mortalidade materna e infantil", afirmou. "Era minha amiga pessoal, por isso, aumenta a dor do 'nunca mais', da perda", disse.

O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, também compareceu ao velório. "Vim aqui prestar minha solidarieedade à família em nome da Câmara dos Deputados. Zilda Arns é uma pessoa que veio à Terra para dar exemplo. Deu exemplo durante toda sua vida e deu exemplo na hora da morte também", disse o parlamentar.

Biografia

A médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, 75 anos, foi fundadora e coordenadora Internacional da Pastoral da Criança e fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ela estava em uma missão humanitária no Haiti para participar da Conferência dos Religiosos e também para motivar os líderes e voluntários da Pastoral da Criança no Haiti que trabalham com crianças, gestantes e famílias. Zilda também era representante titular da CNBB, do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

Nascida em Forquilhinha (SC), residia em Curitiba (PR). A médica era mãe de cinco filhos e avó de dez netos. Escolheu a medicina como missão e optou pelos caminhos da saúde pública. Sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba (PR), e posteriormente como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico diversas especializações como Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo (USP), e Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS).

Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada a coordenar a campanha de vacinação Sabin para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória (PR), criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde.

Em 1983, a pedido da CNBB, Zilda criou a Pastoral da Criança juntamente com d. Geraldo Majela Agnello, cardeal arcebispo primaz de São Salvador da Bahia, que na época era arcebispo de Londrina.

Em 2004, Zilda recebeu da CNBB outra missão semelhante, fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente mais de 129 mil idosos são acompanhados todos os meses por 14 mil voluntários.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. No entanto, devido à precariedade dos serviços básicos do país, ainda não há estimativas sobre o número de vítimas fatais nem de feridos. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, e militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto no Haiti.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

Amigos e parentes se despedem de Zilda Arns
Amigos e parentes se despedem de Zilda Arns
Foto: Denis Ferreira Netto / Futura Press
Fonte: Especial para Terra
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