COLUNA-Governo admite derrota na Câmara sobre impeachment
O governo admitiu nesta quinta-feira que será derrotado na votação na Câmara dos Deputados marcada para o próximo domingo sobre o pedido de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
A admissão da derrota não se deu de forma direta, mas via Advocacia-Geral da União (AGU), que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular o processo de impeachment.
O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, já vinha repetindo à exaustão que o processo de impedimento da presidente na Câmara contém "vícios", que é "nulo".
Mas, mesmo sem decartar a judicialização do caso, Cardozo vinha se esquivando sempre que perguntado sobre quando poderia ser iniciada uma ação no Supremo pedindo a anulação do processo de impeachment.
Até o começo desta semana, representantes do governo falavam com mais firmeza, oficialmente e nos bastidores, que Dilma tinha os 172 votos necessários na Câmara para evitar que o processo de impedimento avançasse para o Senado. Ou então que a oposição não tinha os 342 votos para garantir a continuidade do processo.
Mas depois que a comissão especial do impeachment na Câmara aprovou parecer favorável à abertura do processo contra a presidente por 38 votos a 27, no fim da segunda-feira, o apoio de parlamentares ao governo se deteriorou de forma dramática.
Desde terça-feira, partidos com grande representação na Câmara gradualmente informaram que a maioria de seus deputados votarão a favor do impeachment, casos de PP, PSB e PSD.
No Palácio do Planalto, as contas no fim da quarta-feira, consideradas otimistas, apontavam para 185 votos para o governo, pouco mais que os 172 votos necessários para o impeachment ser derrotado. Mas o número do governo incluía cerca de 20 deputados do PMDB, segundo reportagem da jornalista da Reuters Lisandra Paraguassu.
O dado das fontes palacianas sobre o apoio do PMDB, que já parecia superestimado, ficou ainda menos crível nesta quinta. Isso porque cerca de 90 por cento da bancada do partido, o maior da Câmara, declarou ser favorável ao impeachment, segundo o líder da legenda na Casa, o deputado Leonardo Picciani (RJ).
Coincidência ou não, a divulgação pela AGU de que entrou com ação no Supremo para anular o processo de impeachment ocorreu praticamente ao mesmo tempo em que Picciani declarava a jornalistas que a maioria absoluta do PMDB votará pelo impedimento de Dilma.