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Cidades

Tragédia na Kiss fez cidade redobrar cuidados com segurança

Sobreviventes e parentes de vítimas criaram força-tarefa para fiscalizar cumprimento de novas regras de segurança

26 jan 2015 - 10h00
(atualizado às 10h01)
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<p>Mensagens de luto foram coladas nos tapumes que cobriam a fachada da boate Kiss após o incêndio que causou a morte de 242 pessoas em 2013</p>
Mensagens de luto foram coladas nos tapumes que cobriam a fachada da boate Kiss após o incêndio que causou a morte de 242 pessoas em 2013
Foto: Daniel Favero / Terra

Após quase dois anos do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, muita coisa mudou na cidade de aproximadamente 260 mil habitantes localizada na região central do Rio Grande do Sul. Entre pontos positivos e negativos, alguns ganham destaque e acabam virando notícia. Existe, agora, um maior cuidado com a segurança em espaços públicos e privados, e o santa-mariense passou a observar os locais que frequenta. 

Quem costuma ir às casas noturnas da cidade, por exemplo, tem encontrado mais sinalização, saídas de emergência e respeito às lotações máximas, exigências legais decorrentes da tragédia de janeiro de 2013. Para garantir essa segurança, um grupo sem qualquer ligação formal com o Estado ou com o município foi formado especificamente para fiscalizar o cumprimento das regras vigentes. São sobreviventes do incêndio e amigos de vítimas que se uniram para evitar novas tragédias.

Entre as organizadoras dessa 'força-tarefa' está a sobrevivente Jéssica Rosado, 22 anos. Ela é irmã de Vinícius Rosado, que também estava na casa noturna no dia 27 de janeiro de 2013, mas não está mais aqui para fazer parte dessa história. A ausência física, no entanto, não impede que a memória de Vinícius siga atuante junto a causas sociais.

"É pelo meu irmão e por todo o trabalho social que ele fazia em vida, e que eu tenho certeza que ele seguiria fazendo, que estamos realizando tudo isso". Questionada sobre os motivos que levaram o grupo a sair às ruas pedindo segurança para a população, Jéssica responde que buscar o melhor para fazer a cidade renascer é a forma que encontrou para superar o trauma.

A associação "Ah, Muleke!", criada em homenagem a Vinícius e aos amigos Danilo e Rogério, atua junto a comunidades carentes e grupos de apoio a pessoas com câncer. A vontade de viver superou a dor e o medo. O desejo de ver Santa Maria como antes fez com que Jéssica fosse impulsionada a seguir em frente. "Nós entramos nas casas, nos bares, e conversamos com as pessoas. Orientamos para que evitem o uso excessivo de álcool e não consumam drogas, além de salientar a necessidade de observar as normas de segurança dos locais", diz.

A jovem afirma que o grupo foi muito bem recebido até o momento. Segundo Jéssica, deverá ser realizada uma festa na noite em que o incêndio completa dois anos, no dia 27. "A festa está de pé. E no dia teremos todo esse trabalho de conscientização também, para que possamos seguir a vida com segurança." Sobre um possível retrocesso que tenha se apoderado da cidade, a jovem afirma que o município foi abatido por um período mais nebuloso, mas diz que confia na reconstrução da cidade. "Eu acredito em Santa Maria", diz. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia um show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, atingindo a espuma altamente inflamável do teto do imóvel.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria das mortes foi causada por asfixia, provocada pela fumaça tóxica que continha cianeto - liberado pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente: dois sócios da boate - Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann - e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira - Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e diversos estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer apoio psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento. 

Fonte: Especial para Terra
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