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Tragédia em Santa Maria

Veja o efeito que um sinalizador causa em uma espuma inflamável

1 fev 2013 - 17h27
(atualizado às 20h43)
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Depois de ter sido comprovado que a fumaça tóxica liberada pela queima da espuma acústica que revestia o teto da Boate Kiss matou grande parte das 236 pessoas por asfixia, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o Terra fez uma demonstração do que um sinalizador inapropriado para locais fechados pode causar em contato com uma espuma inflamável.

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Um dos problemas que a boate teria enfrentado no momento do incêndio teria sido a facilidade com que essa espuma utilizada para revestir o local pegou fogo. Porém, o sinalizador que foi aceso no interior da casa noturna não era apropriado para locais fechados.

O objeto usado custa cerca de R$ 3, enquanto o acendedor utilizado para ambientes abertos custa em torno de R$ 60. Este último alcança uma temperatura muito maior que o primeiro, além de suas faíscas atingirem uma altura mais elevada.

Outro ponto importante é a distância com que o sinalizador teria sido utilizado em relação ao teto revestido com a espuma inflamável. Ao que tudo indica, a banda Gurizada Fandangueira acendeu o objeto e o ergueu com a mão, deixando-o ainda mais perto da espuma. Porém, nas instruções de uso do sinalizador, está escrito que é proibido o uso do objeto sem que ele esteja apoiado no chão.

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Além dos problemas envolvendo o sinalizador, o material usado no revestimento acústico da casa noturna gaúcha era uma espuma de poliuretanos convencional, com desenho conhecido como “casca de ovo”, sem qualquer tratamento retardante à chama.

O outro tipo de espuma é feito de melamina e seria a melhor alternativa quando há preocupação com “flamabilidade”, pois atende aos requisitos de segurança de acordo com a Norma Técnica dos Bombeiros e Norma ABNT NBR 9442/1986-Classe A e IT10-Classe A II. A espuma de melamina é classificada como incombustível emitindo baixos índices de fumaça.

Assim como nos sinalizadores, o valor das espumas também é bastante diferente. Enquanto o material inflamável custa cerca de R$ 13 o metro quadrado, o mesmo tamanho da espuma não-inflamável custa cerca de R$ 115.

No momento do teste, quando as faíscas do sinalizador encostam na espuma inflamável a uma distância de cerca de 65 cm, as chamas tomam conta do material e perfuram a espuma. Já com o material não-inflamável, o fogo queima a espuma, mas a chama não se propaga, como é possível observar no teste.

Incêndio na Boate Kiss

Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada do dia 27 de janeiro, em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo tenha iniciado com um artefato pirotécnico lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.

Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou, foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate, e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.

A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos. A tragédia gerou uma onda de solidariedade tanto no Brasil quanto no exterior.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Na segunda-feira, quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Sphor, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffman, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investigava documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergiam sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

Colaboraram com esta reportagem Eduardo Tsugiyama, presidente da Associação Brasileira de Pirotecnia, e Luciano Marcolino, diretor executivo da OWA Sonex Produtos Acústicos.

Fonte: Terra
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