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Tragédia em Santa Maria

RS: superlotação da Kiss é comprovada por listas de atendimentos médicos

Polícia Civil chegou à conclusão de que havia mais de 1 mil pessoas na casa noturna na madrugada de 27 de janeiro, quando incêndio atingiu o local

11 mar 2013 - 22h37
(atualizado às 22h41)
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<p>Incêndio na Boate Kiss matou mais de 240 pessoas e deixou centenas de feridos</p>
Incêndio na Boate Kiss matou mais de 240 pessoas e deixou centenas de feridos
Foto: Rafael Dias/Agência Freelancer / Especial para Terra

Nesta segunda-feira, o delegado Marcos Vianna, um dos responsáveis pelo inquérito que investiga a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), declarou que a casa noturna estava com mais de 1 mil pessoas em seu interior na madrugada do incêndio, no dia 27 de janeiro. A conclusão a que chegou a Polícia Civil tem relação direta com as listas enviadas pela Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul com os nomes de todos que receberam atendimentos em estabelecimentos de saúde.

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Foram checados todos os nomes, um a um. Somados a eles, foram contabilizados o número de mortos (241), a quantidade de pessoas que compareceram à delegacia para depor e nunca receberam qualquer atendimento e o número de pessoas que se cadastraram em um site criado pela Polícia Civil para averiguar quem estava na boate na madrugada de 27 de janeiro. Além disso, há casos em que frequentadores da Kiss depuseram e deram os nomes completos de outras pessoas com quem estavam na casa noturna e que nunca tinham aparecido em outras listas.  

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a lotação da Kiss seria de 691 pessoas. A superlotação comprovada pelas listas é mais um dos itens que reforçará o indiciamento dos donos da boate por homicídio doloso qualificado. A permissão da entrada de mais pessoas do que a capacidade comportava é um dos indícios que comprovariam o dolo eventual, quando a pessoa assume o risco de matar.

Conclusão do inquérito até sexta-feira

A intenção da Polícia Civil é concluir o inquérito até sexta-feira. Para isso, ainda são aguardados laudos do Instituto Geral de Perícias (IGP) sobre as causas das mortes, os extintores da boate e o local. Nesta quarta-feira, é aguardada a visita a Santa Maria do delegado Ranolfo Vieira Júnior, chefe da Polícia no Rio Grande do Sul. O relatório final de investigação, que é o documento enviado à Justiça com os indiciamentos, já começou a ser escrito pelos delegados Sandro Meinerz, Marcos Vianna e Gabriel Zanella.   

MP questionado por advogado de defesa

O advogado de defesa de Kiko Spohr, Jader Marques, encaminhou à Procuradoria Geral do Estado (PGE) um pedido de providências a respeito da conduta da Promotoria Cível de Santa Maria. O defensor questiona o desempenho do Ministério Público no inquérito civil instaurado em 2009 por denúncias de poluição sonora na Boate Kiss.

O objetivo do pedido é saber por que foi permitido o funcionamento da Boate Kiss, mesmo durante o período das obras, e por que não foi exigida, após a conclusão da obra de isolamento acústico, a comprovação da adequação da boate à legislação sobre segurança e prevenção de incêndio. Outro aspecto do pedido de providência protocolado, segundo Marques, é compreender por que não foi requisitada aos órgãos competentes a fiscalização e, se fosse o caso, a interdição da Boate Kiss.

O tema pode entrar na pauta do Conselho Superior do MP nesta terça-feira. Os conselheiros é que vão definir o encaminhamento do pedido feito pela defesa de Kiko Spohr. O conselho é formado pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo de Lima Veiga, pelo Corregedor-Geral do Ministério Público, Armando Antônio Lotti , e por nove procuradores de Justiça. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou mais de 230 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Fonte: Especial para Terra
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