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Tragédia em Santa Maria

RS: prefeito depõe e diz que Executivo não falhou na fiscalização da Kiss

Cezar Schirmer contou à Polícia Civil explicações sobre o funcionamento da prefeitura

8 mar 2013 - 19h01
(atualizado às 19h18)
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<p>Cezar Schirmer, prefeito de Santa Maria, prestou depoimento na 1ª DP por quase cinco horas</p>
Cezar Schirmer, prefeito de Santa Maria, prestou depoimento na 1ª DP por quase cinco horas
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

O depoimento do prefeito Cezar Schirmer (PMDB) foi o mais longo do inquérito que investiga a tragédia na Boate Kiss até agora. Durante quase cinco horas, ele contou à Polícia Civil explicações sobre o funcionamento da prefeitura.

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No depoimento, o mandatário disse que nenhum funcionário ou secretário da prefeitura falhou, "à luz da lei", com relação à fiscalização da casa noturna. Schirmer também destacou que "nunca tratou de liberação ou fiscalização de alvarás" diretamente, cabendo esse serviços a servidores concursados.

O prefeito alegou que só analisou os documentos relativos à Boate Kiss três dias após o incêndio. Questionado pela polícia se, durante o exame algo chamou sua atenção, destacou que "pode verificar que a atribuição para fiscalizar a questão relativa a incêndio ou sua prevenção está toda disciplinada em legislação estadual".

Schirmer chegou à 1ª Delegacia de Polícia Civil (1ª DP) de Santa Maria pouco depois das 9h. Ele saiu do prédio histórico da Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV) e caminhou pouco menos de 100 metros até a sede do distrito policial, passando pela Praça Saldanha Marinho, a principal da cidade, no Centro de Santa Maria. O prefeito estava acompanhado pela procuradora-geral do Município, Anny Desconzi, e pelo assessor Felipe Pires.  

Schirmer não falou com a imprensa na chegada, mas deu uma entrevista coletiva ao final do depoimento, por volta das 13h55 desta sexta-feira. Ele declarou que respondeu todas as questões formuladas pelos delegados a respeito do funcionamento da prefeitura. "Ninguém tem mais interesse do que eu de que se puna os responsáveis por essa tragédia", disse Schirmer.

O delegado Sandro Meinerz, um dos responsáveis pelo inquérito, disse que a presença do prefeito foi importante para dar "uma visão macro" do funcionamento da prefeitura. O prazo para o encerramento do inquérito se encerraria na segunda-feira, mas Meinerz disse que provavelmente ele não será concluído nesse prazo. Mas afirmou que o término será no tempo "mais exíguo possível".

Mais de 600 pessoas já foram ouvidas no inquérito. De acordo com o delegado, há ainda cerca de 350 pessoas que receberam atendimento, segundo listas repassadas pela Secretaria Estadual da Saúde, e que ainda não haviam aparecido na investigação. A Polícia Civil agora vai conferir se todas essas pessoas estavam na boate na madrugada do incêndio. Se a presença for confirmada, esses atendidos devem ser chamados para depor "nos próximos três a quatro dias", conforme Meinerz.

Ainda restariam para serem ouvidos novamente os quatro presos apontados como responsáveis pelo incêndio na Boate Kiss: os sócios da casa noturna Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann e os dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor musical Luciano Bonilha Leão.  O vocalista já depõe nesta tarde, na Penitenciária Estadual de Santa Maria, onde cumpre a prisão preventiva. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou mais de 230 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Fonte: Especial para Terra
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