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Tragédia em Santa Maria

RS: familiares deitam no chão e soltam balões pelos 5 meses da tragédia

Depois de uma caminhada, foi realizado um culto ecumênico

27 jun 2013 - 22h12
(atualizado às 22h15)
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Neste mês, a atividade principal foi juntar 242 pessoas deitadas no asfalto, quase embaixo do viaduto Evandro Behr, no Centro de Santa Maria
Neste mês, a atividade principal foi juntar 242 pessoas deitadas no asfalto, quase embaixo do viaduto Evandro Behr, no Centro de Santa Maria
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Pouco depois das 18h desta quinta-feira, familiares de vítimas da tragédia da Boate Kiss deitaram no chão e soltaram balões, no centro de Santa Maria, para marcar os cinco meses do incêndio que causou a morte de 242 pessoas. Depois de se abraçar, rezar e cantar, o grupo saiu em caminhada até o Santuário-Basílica da Medianeira, onde foi realizado um culto ecumênico.

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Cada um dos participantes segurava um balão
Cada um dos participantes segurava um balão
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Desde quando o incêndio completou um mês, no dia 27 de fevereiro, a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) promove atividades, em cada “aniversário”, como forma de homenagear a quem morreu e para que o que aconteceu não seja esquecido. Já se tornou tradicional o “minuto de barulho”, no qual amigos, familiares e até pessoas que não tinham relação com as vítimas batem palmas ou buzinam, enquanto os sinos das igrejas tocam.

Neste mês, a atividade principal foi juntar 242 pessoas deitadas no asfalto, quase embaixo do viaduto Evandro Behr, no Centro de Santa Maria. A meta foi representar o número de vítimas da tragédia. Cada um dos participantes segurava um balão com sementes de cedro e ipê-amarelo.

Os sinos da Catedral Metropolitana deveriam badalar como senha para o momento em que os balões deveriam ser soltos. Porém, os sinos não tocaram no horário combinado. Pouco depois das 18h, o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira, deu a ordem para que os balões fossem soltos. Havia mais de 242 pessoas - o importante era não deixar a tragédia ser esquecida. “Não podemos deixar passar em branco essa data, pelos nossos filhos. As sementes nos balões foi uma forma de homenageá-los. A intenção é germinar sentimentos bons e puros, em nome dos nossos filhos”, diz o presidente da AVTSM.

Pouco depois das 18h, o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira, deu a ordem para que os balões fossem soltos
Pouco depois das 18h, o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira, deu a ordem para que os balões fossem soltos
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

 

Fonte: Especial para Terra
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