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Tragédia em Santa Maria

RS: estudante da UFSM é detido ao tentar aplicar golpe sobre Boate Kiss

Homem pedia contribuições às famílias das vítimas em troca de livros distribuídos gratuitamente pela universidade

23 mai 2013 - 18h37
(atualizado às 18h54)
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Homem pedia ajuda em dinheiro em troca de livros distribuídos gratuitamente pela UFSM
Homem pedia ajuda em dinheiro em troca de livros distribuídos gratuitamente pela UFSM
Foto: Reprodução

Um estudante da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi detido depois de tentar passar um golpe no campus, pedindo dinheiro para familiares de vítimas da tragédia da Boate Kiss. Ele foi autuado em flagrante e só não foi parar na Penitenciária Estadual porque pagou fiança.

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A ação do estudante começou ainda na manhã da quarta-feira, nas proximidades do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Ele distribuía um livro de autoajuda chamado Gotas de Consolo para a Alma, escrito pelo pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes, e adesivos com a mensagem "Honrar a memória e defender a vida". Esses materiais são distribuídos gratuitamente pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) da UFSM.

Ao mesmo tempo em que oferecia o livro e o adesivo, o homem pedia uma contribuição para ajudar familiares de vítimas da tragédia.  Depois de ser abordado por um vigilante, o estudante fugiu, mas voltou à tarde, por volta das 15h30 de quarta-feira. Naquele momento, ele foi surpreendido por vigilantes da UFSM e chegou a ofender a responsável pela segurança interna do Husm.

O homem foi detido pelos vigilantes e entregue para a Brigada Militar. Como ele desacatou um servidor público, o caso foi encaminhado para a delegacia da Polícia Federal. O delegado Diogo Caneda dos Santos autuou o estudante da UFSM em flagrante por tentativa de estelionato e desacato. Como a pena máxima somada dos dois crimes é inferior a quatro anos, o delegado estipulou uma fiança de R$ 200, que foram pagos. Por isso, o homem vai responder ao inquérito em liberdade.

Com o suspeito, foram apreendidos dois livros e 31 adesivos. O dinheiro que estava com ele - pouco mais de R$ 10 - também foi recolhido. O advogado do estudante alegou que ele tinha sofrido interdição (medida jurídica pela qual um indivíduo maior de 18 anos é privado da gestão de seus bens, em virtude de não se achar em condições de saber governar-se). "Mas não foi apresentada comprovação da interdição. Como o suspeito era estudante de curso superior, fiz o flagrante", conta o delegado.

O presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, ressalta que ninguém está autorizado a pedir dinheiro em nome da entidade. As exceções são os casos em que a solicitação de ajuda é feita por meio de um ofício da AVTSM. Todos que doam qualquer valor ganham um recibo da associação.

RS: incêndio em boate de Santa Maria deixa mais de 240 mortos

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

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Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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