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Tragédia em Santa Maria

RS: depoimentos do processo da Kiss serão retomados nesta 5ª

Quatro vítimas devem ser ouvidas. Entre elas, um homem e uma mulher que trabalhavam na casa noturna em que ocorreu a tragédia

5 set 2013 - 07h03
(atualizado às 07h06)
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<p>Última audiência em Santa Maria para ouvir vítimas no processo criminal da tragédia da Kiss ocorreu no dia 23 de agosto</p>
Última audiência em Santa Maria para ouvir vítimas no processo criminal da tragédia da Kiss ocorreu no dia 23 de agosto
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Serão retomados, em Santa Maria (RS), nesta quinta-feira, os depoimentos de vítimas no processo criminal sobre a tragédia da Boate Kiss. Devem ser ouvidas quatro pessoas - entre elas, dois ex-funcionários da casa noturna. O quinto depoimento agendado para o dia não vai ocorrer, pois a testemunha Nathália Socal Daronch, namorada do sócio da Kiss Elissandro Spohr, o Kiko, está morando em Porto Alegre (RS), onde futuramente será ouvida. Há outras sete audiências marcadas para o Fórum de Santa Maria nos dias 11, 12, 19, 24, 25, 26 e 27 deste mês.

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A audiência desta quinta-feira está marcada para começar às 9h30 e é aberta ao público, no Salão do Tribunal do Júri. Para entrar no local, o interessado deve apresentar um documento de identidade, passar pelo detector de metais e desligar o celular. Também não é permitido o uso de computadores portáteis. Filmagens e fotografias estão restritas à imprensa. Estão reservados lugares para a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Kiss (AVTSM).

O primeiro depoimento do dia será de Rodrigo Souza da Silveira, frequentador da Kiss que ganhou um ingresso cortesia do gerente da casa, Ricardo de Castro Pasch, para entrar na festa que acabou com o incêndio do dia 27 de janeiro. Ele chegou a ser pisoteado perto da porta de saída.

A segunda vítima a depor pela manhã será Michele Baptista da Rocha Schneid, que trabalhava na Kiss havia cerca de 10 meses, primeiro como atendente de bar e, nos últimos dois meses, como caixa. Depois dela, os depoimentos serão retomados às 13h30, com Adalberto da Costa Diaz, que atuava como segurança da Kiss. Em depoimento à Polícia Civil, ele contou que, na hora em que o fogo começou, chegou a tentar usar o extintor que ficava mais perto do palco, sem sucesso. 

A última pessoa a ser ouvida nesta quinta será Tatiele Maria Silveira Rodrigues, que ia pela primeira vez à boate. Ela disse não saber como conseguiu sair do local, pois foi esmagada perto da porta que dava para a rua e desmaiou. Com a fala dela, a audiência vai acabar mais cedo, pois Nathália Socal Daronch, programada para fechar o dia, mudou-se para Porto Alegre.

Depois de hoje, serão mais oito dias de audiências neste mês, até o dia 27. A previsão é que sejam ouvidos mais 47 sobreviventes listados pelas defesas dos quatro réus do processo. O número mínimo de depoimentos a cada dia é quatro, e o máximo, sete.  

Até agora, foram ouvidas 51 pessoas no processo criminal, duas delas em Porto Alegre e duas em Rosário do Sul (RS). Outras vítimas serão ouvidas fora de Santa Maria, nas cidades em que estão residindo. Duas audiências já têm datas: uma em Rosário do Sul, em 23 de setembro, e outra em Uruguaiana (RS), em 25 de setembro. Essa última, provavelmente, terá a data alterada, pois haverá audiência nesse mesmo dia em Santa Maria. As que vão ocorrer em Horizontina (RS), Passo Fundo (RS) e Quaraí (RS) ainda não foram marcadas. Uma vítima que iria depor em Caxias do Sul (RS) não foi localizada. Uma nova tentativa deve ser feita em breve.

Respondem ao processo criminal pelas 242 mortes e os mais de 600 feridos os sócios da Kiss Elissandro Spohr e Mauro Hoffman, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o roadie do grupo, Luciano Bonilha Leão. Eles são acusados por homicídios qualificados com dolo eventual (doloso) e tentativas de homicídio qualificado.   

Familiares de vítimas pedem revisão do inquérito civil

Na tarde desta quarta-feira, familiares de vítimas da tragédia, acompanhados por um advogado e do deputado estadual Mano Changes (PP) se reuniram com o subprocurador-geral para Assuntos Jurídicos do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Ivory Coelho Neto, em Porto Alegre, para entregar um abaixo-assinado pedindo para que não seja arquivado o inquérito civil que investigou servidores, secretários e o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB) em relação a possíveis falhar para a ocorrência do incêndio na Kiss. Eles levaram um documento com 26 mil assinaturas, preenchido eletronicamente pela internet.

Os parentes das vítimas foram representados por integrantes dos movimentos Santa Maria do Luto à Luta e Mães de Janeiro e da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Os dois promotores responsáveis pelo inquérito civil, que apurou possíveis irregularidades por parte de agentes públicos, pediram arquivamentos dos casos em relação à prefeitura. Quatro oficiais do Corpo de Bombeiros, um deles na reserva, foram apontados e respondem por improbidade administrativa.

O pedido de revisão, entregue pelos familiares, será analisado pelo Conselho Superior do MP, em data a ser definida.

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

 

Fonte: Especial para Terra
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