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Tragédia em Santa Maria

RS: boate não seguia normas de segurança, diz engenheiro dos Bombeiros

28 jan 2013 - 05h49
(atualizado às 05h58)
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O fogo que deixou pelo menos 231 mortos na madrugada do último domingo em Santa Maria, no Rio Grande do Sul acabou por revelar a precariedade da estrutura da boate Kiss, onde a tragédia ocorreu. A pedido da BBC Brasil, a avaliação feita por Ivan Ricardo Fernandes, engenheiro civil e capitão do Corpo de Bombeiros do Paraná, indica que a casa noturna não cumpria normas técnicas básicas de segurança contra incêndios, como capacidade de lotação e número suficiente de saídas de emergência.

Um incêndio de grandes proporções em uma casa noturna ocorreu na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS)
Um incêndio de grandes proporções em uma casa noturna ocorreu na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS)
Foto: Fernando Borges / Terra

Veja a cronologia do incêndio na Boate Kiss em Santa Maria

Veja quem são as vítimas do incêndio em boate de Santa Maria

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A estimativa foi feita com base em características estruturais do local, após análise de imagens e relatos de testemunhas. Famosa por abrigar festas universitárias, a casa noturna informava poder abrigar até 2 mil pessoas.

Porém, com apenas 650 metros quadrados de área, o limite máximo de público, de acordo com normas técnicas, não poderia ultrapassar 1,3 mil pessoas.

"As regras (de segurança contra incêndio) mudam de acordo com a ocupação, altura e características construtivas do estabelecimento", explica Fernandes. "A diretriz da normativa é dada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)", acrescenta.

Saídas de emergência

Além disso, considerando os mesmos padrões exigidos pela ABNT, a largura total das saídas da boate Kiss deveria ter, pelo menos, 7 metros, calcula Fernandes. Segundo testemunhas, entretanto, só havia uma porta de 2 metros de largura, que servia de entrada e saída do público.

"Para um estabelecimento com uma única saída de 2 metros, por exemplo, a capacidade máxima seria de 400 pessoas", diz Fernandes. Mesmo assim, lembra o especialista, "por ser uma casa noturna", a boate Kiss deveria ter, pelo menos, "duas saídas de emergência".

"Entretanto, pelo que vi em imagens da boate, só haveria uma rota de fuga, que era a própria porta de entrada e saída", afirma Fernandes. Ainda com base nas normas da ABNT, estima Fernandes, a distância máxima a ser percorrida de qualquer lugar do estabelecimento até a saída não poderia exceder 30 metros.

"Porém, isso também não parece ter sido respeitado, uma vez que declarações dos bombeiros indicam que muitos corpos foram achados no fundo do local", afirma.

Incêndio na Boate Kiss 

Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo iniciou com um sinalizador lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária. 

Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.

A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos.

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