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Tragédia em Santa Maria

RS: 1º Dia dos Pais após tragédia da Boate Kiss terá encontro de famílias

A deputada paulista Keiko Ota, que teve um filho sequestrado e morto em 1997, participará do evento em Santa Maria

10 ago 2013 - 12h18
(atualizado às 12h18)
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A deputada federal Keiko Ota e o presidente da associação dos familiares de vítimas da Boate Kiss, Adherbal Ferreira
A deputada federal Keiko Ota e o presidente da associação dos familiares de vítimas da Boate Kiss, Adherbal Ferreira
Foto: Divulgação

Durante 22 anos, o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, passou o Dia dos Pais com a filha Jennefer. Neste domingo, essa reunião não vai se repetir, pois a jovem psicóloga morreu na tragédia da Boate Kiss, em 27 de janeiro. "É triste demais. É uma situação difícil de encarar. Como nos encontramos numa sensação de impunidade pelo que aconteceu, machuca mais ainda", disse Adherbal.

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Para que os familiares das vítimas possam se apoiar uns aos outros, a AVTSM promoverá um encontro no domingo, a partir das 9h, na Estância do Minuano, região sul de Santa Maria (RS) - a exemplo do que já foi realizado no Dia das Mães, em maio, na sede campestre do Clube Dores. A confraternização terá a presença da deputada federal Keiko Ota (PSB-SP) e do marido dela, Masataka Ota. Eles são pais de Ives Ota, que foi assassinado de forma brutal aos 8 anos, em 1997, em São Paulo, depois de ter sido sequestrado.

A deputada vai apresentar um vídeo sobre a luta dela contra a impunidade. O objetivo dela é auxiliar os pais que tiveram seus filhos mortos no incêndio da boate Kiss a encarar a data de uma maneira menos traumática. "Sei o quanto é doloroso esse momento, em que a sensação de abandono e impunidade parece dominar a situação, sem perspectiva alguma de justiça. Daí que irei até Santa Maria para levar minha solidariedade e carinho aos familiares, que sentirão, e muito, a ausência de seus filhos nesse primeiro Dia dos Pais depois da tragédia", disse Keiko Ota.

Coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Vítimas de Violência, Keiko ajudou na criação dessa iniciativa no Rio Grande do Sul. Segundo a parlamentar, é preciso punir com todo o rigor os responsáveis pelas mortes. "O que aconteceu em Santa Maria não foi uma fatalidade. Se medidas de segurança tivessem sido adotadas por parte dos proprietários da boate, essa tragédia não teria ocorrido. Por isso, dou meu apoio à luta por justiça e contra a impunidade para que os culpados por tamanha catástrofe sejam devidamente responsabilizados", disse a deputada.

O evento deste domingo também terá a apresentação de um grupo de música gospel, além da distribuição de brindes e algumas surpresas. O presidente da AVTSM também vai aproveitar a presença da deputada Keiko Ota em Santa Maria para combinar com ela os detalhes de uma manifestação nacional, no dia 7 de setembro, que quer reunir os enlutados em todo o País.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

 
Fonte: Especial para Terra
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