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Tragédia em Santa Maria

Roupas de vítimas da Kiss serão doadas para marcar 6 meses da tragédia

Caminhada usando preto e culto ecumênico na Catedral estão entre as atividades programadas para este sábado em Santa Maria

27 jul 2013 - 09h05
(atualizado às 09h06)
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Este sábado, dia 27, mais uma vez, vai ser uma data para não esquecer da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), que causou a morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos. Na cidade que foi cenário do acontecimento, haverá doação de roupas de vítimas, uma caminhada, com pessoas usando preto para pedir justiça, e um culto ecumênico na Catedral Metropolitana, no Centro.  

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A primeira ação do sábado será solidária. Às 11h, no Calçadão de Santa Maria, será feita uma coleta de roupas das vítimas da tragédia. A intenção é fazer com que cada família que perdeu um ente querido deixe as roupas em um cesto. Esses agasalhos serão doados imediatamente para os necessitados que passarem pelo local e depois serão encaminhados a familiares de vítimas que estejam precisando e a entidades sociais. A iniciativa é promovida pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e pelo Movimento Santa Maria do Luto à Luta.

Os participantes da ação da manhã vestirão túnicas pretas, confeccionadas por familiares de vítimas. Elas estarão numeradas de 1 a 242, para representar as pessoas que morreram na tragédia. O preto é um simbolismo para protestar contra os últimos acontecimentos, que livraram qualquer integrante da prefeitura a responder pelo incêndio na Kiss, a partir do inquérito civil concluído pelo Ministério Público. “O preto é para marcar a nossa inconformidade com a impunidade”, diz o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira.

No final da tarde, a concentração vai ocorrer a partir das 18h, na Praça Saldanha Marinho, no Centro. De lá, às 18h45, amigos e familiares farão uma caminhada de aproximadamente 100 metros até a frente da Catedral Metropolitana, na Avenida Rio Branco. Os sinos da igreja vão badalar nesse momento, o que será uma senha para que os manifestantes batam palmas, no já tradicional “minuto de barulho”. Todos são convidados a participar, seja no local ou de forma individual. Na caminhada, os participantes usarão as túnicas pretas novamente.      

Depois da caminhada e do “minuto de barulho”, haverá uma celebração ecumênica na Catedral. Representantes de várias religiões comandarão a cerimônia, a exemplo do que já ocorreu no dia 27 dos últimos dois meses, quando a celebração foi realizada na Basílica da Medianeira. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

 

 

Fonte: Especial para Terra
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