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Luto por Boate Kiss, tarifa e revolta levam 30 mil às ruas de Santa Maria

Passeata pelo centro não registrou incidentes. Depois que ela terminou, grupo pichou a Câmara de Vereadores

22 jun 2013 - 17h48
(atualizado às 18h09)
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<p>Manifestantes picharam a Câmara de Vereadores de Santa Maria (RS) em protesto neste domingo</p>
Manifestantes picharam a Câmara de Vereadores de Santa Maria (RS) em protesto neste domingo
Foto: Luiz Roese / Terra

A segunda grande manifestação em Santa Maria (RS) dentro da onda de protestos pelo País, mais uma vez, mostrou que sobraram civilidade e consciência social entre milhares de pessoas. Segundo a Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha), cerca de 30 mil manifestantes saíram às ruas do centro da cidade para colocar para fora sua indignação, o que superou os números de muitas capitais. Policiais militares monitoraram a manifestação, mas não precisaram intervir em momento algum.

Desde o início da manhã, a praça Saldanha Marinho, a principal de Santa Maria, já começou a receber manifestantes que ensaiavam gritos de ordem e preparavam faixas e cartazes para o protesto. A caminhada partiu da praça por volta das 11h30, com faixas à frente e um carro de som logo atrás. Em seguida, vinham milhares de pessoas.

Antes da saída, integrantes da organização da passeata usaram o microfone mais de uma vez para pedir que ninguém cometesse atos de violência ou vandalismo. Quem também usou o microfone foi o presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Ferreira, que pediu que as pessoas deem apoio à luta por justiça, para que a morte de 242 pessoas no incêndio da boate Kiss não fique impune.

A passeata percorreu as ruas Venâncio Aires, André Marques e 13 de Maio e depois ingressou pela avenida Rio Branco. Quando o grupo passou em frente à sede da Associação de Transportadores Urbanos (ATU), algumas pessoas designadas pelos organizadores da manifestação para organizar e dar segurança à caminhada deram uma atenção especial ao prédio, já que um dos motes do protesto era pela redução da tarifa do ônibus, mas não houve ato algum de hostilidade, a não ser vaias. Em vários pontos do trajeto, os manifestantes gritavam em coro "quem não pula quer aumento", que era uma senha para todos darem saltos.

Depois de percorrer a avenida Rio Branco, a caminhada seguiu pelas ruas do Acampamento, Pinheiro Machado e Floriano Peixoto. A última parte da passeata foi pelo Calçadão, até o retorno ao ponto original. Ainda na rua do Acampamento, Flávio José da Silva, do Movimento Santa Maria do Luto à Luta, usou o microfone do carro de som para pedir uma homenagem às vítimas da tragédia. A passeata, então, parou por um instante, e várias pessoas se sentaram, como uma forma de lembrar as pessoas que morreram por causa do incêndio na casa noturna. Silva é pai de Andrielle Righi da Silva, que morreu na tragédia aos 22 anos.

No final da manifestação, o prédio da Sociedade União de Caixeiros Viajantes, sede do gabinete do prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), virou um grande mural. Dezenas de pessoas colaram cartazes de protesto  na porta de entrada para o edifício e na frente das lojas vizinhas, que ficam em frente à praça Saldanha Marinho.

Boa parte dos manifestantes chegou à praça Saldanha Marinho e foi embora, por volta das 13h30. Mas um grupo formado por aproximadamente 200 pessoas desceu a avenida Rio Branco e dobrou na rua Vale Machado, onde ocorreu um protesto em frente à Câmara de Vereadores. Alguns manifestantes picharam as portas e as paredes da frente do prédio do Legislativo, o que originou algumas discussões com pessoas que não concordavam com aquela atitude. Alguns jovens queriam ainda entrar à força no prédio da Câmara, que estava fechado, mas foram contidos por outros manifestantes.

A manifestação deste sábado em Santa Maria tinha como principais temas a redução da tarifa de ônibus e a exigência de uma nova licitação para o serviço de transporte público. Mas, entre as milhares de pessoas, algumas pediam melhorias na saúde e na educação e protestavam ainda contra o ato médico, o achatamento do salário dos aposentados e a corrupção, entre vários outros temas. Familiares e amigos de vítimas da tragédia carregavam faixas e camisetas lembrando seus entes queridos. Em alguns momentos da manifestação, todos gritaram em coro, pedindo justiça.

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Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Especial para Terra
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