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Tragédia em Santa Maria

Casal de seguranças diz que viu sócio da Kiss mandar liberar as portas

Depoimento que estava agendado para a tarde em Santa Maria irá ocorrer em Porto Alegre

10 set 2013 - 14h03
(atualizado às 14h19)
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Justiça ouviu novos depoimentos do processo criminal da tragédia da Boate Kiss, no Fórum de Santa Maria, na manhã desta terça-feira
Justiça ouviu novos depoimentos do processo criminal da tragédia da Boate Kiss, no Fórum de Santa Maria, na manhã desta terça-feira
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Nos depoimentos realizados na manhã desta terça-feira dentro do processo criminal da tragédia da Boate Kiss, no Fórum de Santa Maria, um casal de seguranças que atuava na casa notuna falou que, pouco antes de começar o tumulto por causa do incêndio, viu um dos sócios do estabelecimento, Elissandro Spohr, o Kiko, mandar liberar as portas para o público sair. Mais três sobreviventes da tragédia devem depor à tarde. A sexta pessoa que estava programada para ser ouvida nesta terça, um sobrinho de Kiko, vai depor em Porto Alegre por carta precatória.

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Durante os depoimentos desta manhã, apenas um dos réus estava presente: o vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos. Em quase todas as outras audiências que ocorrem desde junto, o roadie do grupo musical, Luciano Bonilha Leão, esteve presente também.

O primeiro depoimento do dia foi de Rute Brilhante da Cruz, que trabalhava como segurança na Kiss. Logo depois falou o marido dela, Daniel Alcântara da Cruz, que também trabalhava na boate como terceirizado, na mesma função.

Os dois seguiram a mesma linha. Falaram que não receberam qualquer treinamento para situações de tumulto na boate. Rute foi além: diz que não fez curso algum para começar a atuar como segurança. O casal também falou que viu Kiko Spohr, um dos sócios da Kiss, mandar liberar as portas, pouco antes de o tumulto de pessoas querendo sair ter começado, na madrugada do incêndio, dia 27 de janeiro.

Para a tarde desta terça estão previstos mais três depoimentos. O primeiro deve ser o do mecânico Brian Zepenfeld, frequentador da Kiss que chegou a ficar internado em Porto Alegre após o incêndio. Na sequência devem falar outros dois clientes da boate, Gregory Licht dos Santos e Guilherme Carrion Carvalho.

O último depoimento agendado para esta terça não será realizado. Willian Renato Machado, sobrinho de Kiko, vai depor em Porto Alegre, por meio de carta precatória, em data a ser marcada.

Para esta semana estão previstos mais dois dias de audiência do processo criminal da Kiss. Para quarta, a previsão é ouvir mais seis vítimas. Na quinta, devem depor sete pessoas.

Em Santa Maria, estão previstos mais depoimentos nos dias 19, 24, 25, 26 e 27 deste mês. Haverá também audiências para ouvir vítimas nas cidades gaúchas de Rosário do Sul, Uruguaiana, Horizontina, Passo Fundo, Quaraí e Caxias do Sul. O titular da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, juiz Ulysses Fonseca Louzada, já manifestou a intenção de ir a todas essas audiências.

Além de Kiko, o vocalista e o roadie da banda, responde ao processo criminal pelas 242 mortes e os mais de 600 feridos o outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann. Eles são acusados por homicídios qualificados com dolo eventual (doloso) e tentativas de homicídio qualificado.

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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