Um ato de solidariedade aos parentes dos mortos no incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), está marcado para o próximo domingo, às 10h, em Brasília. Na plataforma superior da rodoviária do Plano Piloto e vestidos com camisetas brancas, os organizadores pretendem sensibilizar as autoridades sobre a necessidade de evitar tragédias como essa, que matou 236 pessoas.
A ideia de reunir os brasilienses surgiu em uma conversa entre amigos, e a mobilização começou pela rede social Facebook e por e-mails, de acordo com uma das organizadoras da ação, a aposentada Carmen Gramacho.
"É uma manifestação silenciosa, de dor, solidariedade e também de indignação. Não podemos fazer muito, a não ser mostrar solidariedade. É quase o resultado de uma guerra em número de mortos, porque a casa [noturna] não ofereceu condições de segurança", disse Carmen.
Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada do dia 27 de janeiro, em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo tenha iniciado com um artefato pirotécnico lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.
Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou, foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate, e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.
A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos. A tragédia gerou uma onda de solidariedade tanto no Brasil quanto no exterior.
Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.
Na segunda-feira, quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Sphor, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffman, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investigava documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergiam sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.
A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.
Fuligem e forte cheiro de fumaça permanecem na boate mais de 24 horas após o incêndio
Foto: Fernando Borges / Terra
Tragédia que tirou a vida de mais de 230 pessoas deixou rastro de destruição
Foto: Fernando Borges / Terra
Labaredas destruíram revestimento de madeira de bar localizado no interior da boate
Foto: Fernando Borges / Terra
Fachada da boate foi parcialmente demolida para facilitar o acesso às vítimas
Foto: Fernando Borges / Terra
Detalhe mostra decoração do banheiro masculino da boate; mictório trazia "alvos" de personalidades como Bin Laden e Hitler