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Tragédia em Santa Maria

Boate Kiss: 'vou me dar o luxo de chorar', diz delegado

Após 55 dias, Marcelo Arigony, que comandou o inquérito da tragédia na Boate Kiss, disse que vai chorar pelas vítimas

23 mar 2013 - 14h57
(atualizado às 22h40)
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<p>Os delegados Marcelo Arigony (ao fundo) e Sandro Meinerz (centro) se reuniram com a equipe para analisar o relatório final do inquérito</p>
Os delegados Marcelo Arigony (ao fundo) e Sandro Meinerz (centro) se reuniram com a equipe para analisar o relatório final do inquérito
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou, por meio do seu perfil no Facebook, que, após 55 dias, ele finalmente vai "poder chorar". Na última sexta-feira, a Polícia Civil gaúcha entregou o inquérito liderado por ele ao Fórum da cidade sobre a tragédia na Boate Kiss, que vitimou 241 pessoas. Arigony disse que agora vai chorar pelas vítimas e por todos os que criticaram seu trabalho na investigação. "Vou chorar pela minha prima e pelos meus tios. Vou chorar pelos meus alunos. Vou chorar por todos os 241 inocentes que perderam suas vidas quando só queriam se divertir. Vou chorar pelos familiares das vítimas, que hoje têm suas casas vazias. Vou chorar pelas pessoas próximas, que sofreram caladas comigo por 55 dias, me apoiando até este momento", disse ele.

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"Vou chorar pelos especialistas em segurança que nos criticaram diuturnamente. Vou chorar pelas pessoas inescrupulosas que criaram fatos depreciativos para macular minha imagem. Vou chorar por covardes que forjaram denúncias anônimas contra minha pessoa porque nem tiveram peito de assinar por si próprios. Vou chorar por esses que perderam dias e dias vasculhando minha vida em busca de fatos depreciativos. Vou chorar pelos que tentaram imputar a mim gestão política de uma investigação técnica e acompanhada publicamente. Vou chorar por pessoas nefastas com interesses políticos que me criticaram imputando exatamente a conduta espúria que pautava o seu agir. Vou chorar por todos que tentaram eximir-se de suas responsabilidades", afirmou o delegado.

Na mesma postagem, ele também disse que vai "chorar de alegria" por ter conseguido dar as respostas que eram esperadas. "Vou chorar também de alegria pelos grande amigos que fiz nesses dias tristes. Vou chorar de alegria pelo reconhecimento público do nosso esforço e dedicação. Vou chorar de alegria porque talvez nosso trabalho previna futuras tragédias. Vou chorar de alegria porque, a partir desse fato, as pessoas passarão a ser mais responsáveis com suas atribuições. Por fim, vou chorar porque tive tempo hoje de lembrar que também sou humano, tenho minhas falhas e fragilidades. Vou me dar o luxo de chorar porque hoje eu desabei", completou.

No inquérito, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12, incluindo o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). Algumas pessoas foram indiciadas por mais de um crime, segundo os dados que constam nas mais de 13 mil páginas do inquérito. Dos 16 indiciados criminalmente, nove são por homicídio doloso (quando há a intenção de matar ou cometer dano contra outras pessoas) com dolo eventual, o que pode levá-los a júri popular se o promotor acatar a denúncia desse agravante. Nesse caso, a pena é maior e pode chegar até a 18 anos. 

Schirmer classificou o documento como uma "aberração jurídica". Em resposta ao prefeito, Arigony disse que "aberração é brincar com o sentimento" das famílias. "'Aberração' é brincar com o sentimento de 241 famílias. Eu (!) vou dormir tranquilo hoje. Isso pela primeira vez depois de ter trabalhado incessantemente por 55 dias para apresentar respostas à sociedade que me paga", disse ele. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas. 

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Fonte: Terra
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