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Tragédia em Santa Maria

Boate Kiss: culto e shows encerram dia de homenagens no 7º mês da tragédia

Entre apresentações musicais em praça de Santa Maria, foi apresentado o trecho de uma gravação polêmica de político com familiares de vítimas

27 ago 2013 - 22h36
(atualizado às 22h52)
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Familiares de vítimas fizeram tao ecumênico em memória dos sete meses da tragédia em Santa Maria
Familiares de vítimas fizeram tao ecumênico em memória dos sete meses da tragédia em Santa Maria
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

A terça-feira de homenagens às vítimas da tragédia da Boate Kiss, no dia em que o incêndio na casa noturna completou sete meses, terminou com um culto ecumênico e um show de bandas em Santa Maria (RS), a cerca de 100 metros um do outro. A data foi lembrada desde a manhã, com caminhada, chegada de uma cavalgada em frente à boate e uma missa crioula. 

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Na noite desta terça-feira, o Movimento Santa Maria do Luto à Luta promoveu o “Tributo por Justiça em Homenagem aos Anjos de Janeiro”, na praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria. Duas bandas se apresentaram: Dita Vigaria e Inseto Social. 

Entre uma apresentação e outra, foi apresentado um trecho da gravação de uma conversa entre o ex-procurador jurídico da Câmara de Vereadores de Santa Maria Robson Zinn, que é presidente municipal do PMDB, e dois familiares de vítimas da Kiss. O político faz menção a uma suposta fraude envolvendo uma licitação nas câmeras de vigilância instaladas pela prefeitura. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

Durante os shows, foram arrecadados alimentos para famílias carentes de Santa Maria. Mesmo com o frio, cerca de 100 pessoas acompanharam as apresentações. 

Bem perto da praça, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) promoveu um culto ecumênico, evento que já se tornou tradicional nos “aniversários” da tragédia.

Outro ato que se repetiu foi o “minuto de barulho”, pontualmente às 19h, quando houve palmas e badalar de sinos em memória às 242 pessoas que morreram no incêndio. Na praça, onde ocorriam os shows, o público também bateu palmas no mesmo horário. 

O culto deste mês foi realizado na Igreja Episcopal Anglicana, chamada de Catedral do Mediador, na avenida Rio Branco, também no centro de Santa Maria. Cerca de 100 pessoas lotaram o templo para ouvir as mensagens ditas por representantes de diferentes religiões. Familiares de vítimas da tragédia levaram banners com as fotos de seus entes queridos para a cerimônia religiosa.    

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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