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Tragédia em Santa Maria

As pessoas ficaram na frente da boate atrapalhando, diz dono da Kiss

3 fev 2013 - 22h11
(atualizado em 4/2/2013 às 14h51)
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O empresário Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da Boate Kiss, onde um incêndio matou mais de 230 pessoas no último domingo, disse que as próprias vítimas atrapalharam o resgate. "E as pessoas, em vez de ter saído e aberto, ficaram na frente da boate, atrapalhando, ainda", afirmou, em entrevista veiculada no programa Fantástico, da TV Globo e disponibilizada no Facebook pelo advogado do empresário, Jader Marques. A entrevista foi gravada pelo defensor dentro do hospital no qual Kiko está internado.

Segundo Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da Boate Kiss, as próprias vítimas atrapalharam o resgate
Segundo Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da Boate Kiss, as próprias vítimas atrapalharam o resgate
Foto: Facebook / Reprodução

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De acordo com Kiko, a banda Gurizada Fandangueira, que acendeu o sinalizador que deu início ao fogo, não conversou com ele sobre o uso de artefatos pirotécnicos dentro da boate. "A banda nunca falou comigo sobre isso (queima de fogos dentro da boate). Eu nunca autorizei isso. Faz dois anos, eu acho, que a banda toca lá. Eu vi, no mínimo, 30 shows deles. Eles nunca fizeram isso, nem na Kiss e - vi shows deles -, em outros lugares, eles também nunca usaram isso. Se eu soubesse que iam usar isso, eu não deixaria usar", disse.

Kiko afirma que não lembra com exatidão qual era a lotação da casa no dia da tragédia. "Nessa noite eu lembro – e geralmente eu chego na entrada e pergunto 'como é que tá?'. (Responderam:) 'Tá bom, tá razoável, deve ter umas 700 pessoas'. Entrei e, realmente, acredito que tinha perto de 600 a 700 pessoas", disse.

O empresário conta como reagiu quando viu o teto da boate pegando fogo. "Vi que a coisa era séria e saí já gritando: Abre! Abre tudo que é sério! Eu mesmo abri as portas, inclusive".

Segundo Kiko, a espuma usada para o isolamento acústico da casa noturna – material que, queimado, liberou gases tóxicos – foi colocada por indicação do engenheiro Michel Angelo Pedroso. "As opções eram gesso ou espuma. A espuma eu achava horrível, muito feio. Eu optei pelo gesso. Porém, continuou o barulho. Eu voltei a chamar o Pedroso, pra gente trocar uma ideia, ver o que fazer. A gente botou espuma e madeira por cima, concreto, e aí, por fim, espuma. Eles queriam que eu botasse espuma em toda a boate. Mas eu botei só no palco", disse.

O engenheiro se defendeu: "Eu tenho uma quantidade grande de projetos acústicos e de laudos acústicos, e jamais, em nenhum deles, eu aconselhei a utilizar espuma de borracha", afirmou. O empresário admitiu que a boate funcionou com o alvará vencido. Segundo Kiko, em uma das vistorias na Kiss, os bombeiros constataram que as portas estavam ultrapassadas. "Foi o que me disseram. E me indicaram uma empresa chamada Hidramix, que era de um antigo colega deles, que fazia todo esse sistema operacional pra mim", disse.

 O Corpo de Bombeiros informou que só vai se manifestar depois de terminado o inquérito.

Músico diz que boate era um 'labirinto'

Também em entrevista ao Fantástico, o percussionista da banda Gurizada Fandangueira, Marcio de Jesus dos Santos, afirmou que a Boate Kiss era um "labirinto". O músico disse que só escapou do local porque saiu do palco pela área VIP. "Qualquer um de nós, mesmo conhecendo a casa, se saísse daquele corredorzinho que se formava entre o ferro e uma parede, que dava direto numa porta, não acharia mais. É um labirinto, e se tu perguntar para qualquer um que já foi na Kiss ou vai, ou foi nessa data específica, eles vão te dizer que é um labirinto", disse.

O gaiteiro da banda, Danilo Jaques, morreu no incêndio. Segundo depoimentos de testemunhas, o vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, irmão de Marcio, foi quem manuseou o sinalizador que deu início ao fogo. O músico está preso. "Marcelo tirou a luva [que levava os fogos] e a gente continuou o show. Logo o guitarrista olhou pra cima e tinha uma pequena bolinha de fogo, e eu avisei o Marcelo: 'cuidado tem fogo ali'. Quando o cara deu o extintor, ele atirou no chão. Atirou e pegou e puxou a trava. Se estivesse funcionando, por Deus que nada disso teria acontecido", afirmou.

Segundo Marcio, o uso dos artefatos pirotécnicos não foi o responsável pelas mortes. "Nunca nos proibiram de usar [os fogos], nunca tinha ferido ninguém. Eu poderia me sentir culpado se, mesmo sabendo que eu já tivesse ferido alguém, viesse a acontecer a tragédia que aconteceu, eu deixasse acontecer de novo". De acordo com o músico, os fogos de artifício eram sempre utilizados nas apresentações e Kiko, o dono da boate, tinha conhecimento.

Dono de boate está internado em hospital sob custódia

Kiko está internado sob custódia da polícia em um hospital de Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria. A Justiça decretou a prisão preventiva dele e do outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, no dia seguinte à tragédia. Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, testemunhas afirmaram que os extintores de incêndio da casa noturna não funcionavam. Conforme o delegado Marcelo Arigony, há indícios de que os equipamentos seriam falsos.

Ainda segundo a polícia, a casa noturna também teria recebido mais de mil pessoas no dia do evento, mais do que a capacidade máxima estabelecida em seu alvará de funcionamento, de 691 pessoas. "Qualquer criança sabia que aquela casa não podia funcionar daquele jeito", disse Arigony.

De acordo com o advogado de Kiko, Jader Marques, a capacidade de público foi respeitada pelos proprietários. "Está sendo argumentado que poderia haver mais de mil pessoas na casa. Na avaliação do Kiko, a lotação fica em torno de 600 a 700 pessoas e, quando se atinge esse número, as portas são trancadas e novas entradas só são permitidas quando pessoas deixam o local. Se não tiverem sido atingidos pelo fogo, há cadernos de controle do público. Para essa festa, foram impressos 850 convites. Para comprovar isso, levaremos ao conhecimento das autoridades o arquivo da empresa de publicidade responsável. No total, 700 convites foram entregues à representante dos estudantes", afirmou.

INCÊNDIO EM SANTA MARIA

Entenda detalhes de como aconteceu a tragédia em Santa Maria, na região central do RS, que chocou o País e o mundo e como era a Boate Kiss por dentro

Incêndio na Boate Kiss

Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada do dia 27 de janeiro, em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo tenha iniciado com um artefato pirotécnico lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.

Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou, foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate, e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.

A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos. A tragédia gerou uma onda de solidariedade tanto no Brasil quanto no exterior.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Na segunda-feira, quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Sphor, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffman, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investigava documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergiam sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

Fonte: Terra
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