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Terra sobe ao topo do Cristo Redentor; conheça interior do monumento

Reportagem do Terra teve acesso ao Cristo Redentor e suas partes internas, que passam por reforma desde que raios atingiram o monumento

24 jan 2014 - 14h25
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Por dentro do Cristo Redentor: saiba detalhes da reforma:

A ideia era colocar uma dessas câmeras portáteis na cabeça de um dos alpinistas que estão trabalhando na reforma do Cristo Redentor, cartão-postal máximo do Rio de Janeiro e do Brasil, e que sofreu severas avarias após os raios que caíram na capital fluminense na semana passada. Desta forma, teríamos imagens exclusivas e mostraríamos em detalhes todos os passos dos reparos que, via patrocínio privado, custarão R$ 1,9 milhão. “Fica tranquilo, rapaz, vocês vão subir lá, vou liberar para vocês”, disse, sempre sorridente, o padre Omar Raposo, o administrador do Santuário do morro do Corcovado.

Tranquilo foi tudo o que eu não fiquei na hora. Mas não dava para amarelar. Afinal, qual prova maior para um repórter do que o mais puro gonzojornalismo, aquele pseudônimo em que nós, jornalistas, encaramos não apenas os fatos, mas as causas e consequências dele? Isso mesmo, consequência era tudo o que eu pensava. São 710 metros de altura em relação ao nível do mar.

Lembrei, automaticamente, dele, do grande, do antológico Renato Aragão. Quando garoto, em 1991, lembro de acompanhar cada instante, ao vivo, do épico dia em que Didi Mocó beijou a mão do monumento mais famoso do País, na época em que o Criança Esperança ainda me trazia... esperança. Se o gonzojornalismo já atraía pela possibilidade de mostrar todos os detalhes internos do Cristo, a chance de igualar o feito de um legítimo "Trapalhão" me pareceu a cereja no bolo. Não dava para recusar.

"Vocês vão poder chegar até a cabeça", lembrou o padre Omar. Caramba. Não só igualaria, como superaria o Didi Mocó, que devidamente preso por equipamentos de segurança, beijou a mão direita do monumento. Eu chegaria até a cabeça. Onde grande parte dos raios caíram. Levianamente, imaginei um #chupaDidi. Mas sabia que o trabalho não seria brincadeira.

No dia anterior, alguns fotógrafos, principalmente de agências internacionais, já haviam feito o registro, mas nenhum cinegrafista conseguiu chegar lá com suas enormes câmeras. E internet é isso: multimídia, com texto, foto e vídeo. No caso, uma minicâmera acoplada ao meu capacete fez toda a diferença. Sem mencionar o fato de ter o monumento, em sua parte interna, à nossa inteira disposição.

"Isso é raro, hein, exclusivo e raro", brincou de novo o padre Omar, a quem tenho enorme carinho há anos, ainda mais por ter celebrado meu casamento justamente no... Cristo Redentor. Entenderam agora por que não dava para negar a oportunidade única? Mas e o medo? Quando a equipe que cuida dos reparos começou a esticar a escada que, de onde ficam os turistas, levaria eu e o fotografo Daniel Ramalho até a base da estátua, o frio na barriga foi substituído por um conforto criado automaticamente pelo subconsciente.

<p>Escada que balança e a sensação de que o corpo vai amolecer </p>
Escada que balança e a sensação de que o corpo vai amolecer
Foto: Daniel Ramalho / Terra

"Lá em cima está o Francisco, alpinista bom, ele será o guia de vocês", disse um dos funcionários. Qual o nome do papa mesmo? Era a mensagem que faltava. Recebi a benção do padre Omar, agradeci por tê-lo conhecido, caso alguma tragédia acontecesse. Riso nervoso de praxe, pois.

Escada que balança e o coração do Cristo

“Não olha para baixo”, era tudo o que eu não queria ouvir e, imagino eu, pessoas em situação semelhante detestariam ouvir. Tem coisa mais óbvia? Mas todo mundo gritava. E a escada chacoalhava com o vento no alto do Corcovado. O controle mental nessas horas é fundamental.

Menos de um minuto e eu já tinha atingido o primeiro objetivo, só que a sensação, obviamente, foi de eternidade. "Segura direito na escada, assim você tem menos firmeza”, avisou o guru-alpinista Francisco. Corrigi a pegada e atingi a base. Sentei no chão, tenso, enquanto um aglomerado de turistas tentava entender o que aquele "zé-mané", com camisa e calça jeans, esbaforido, fazia lá em cima.

<p>Coração: única parte interna do monumento que também leva a pedra-sabão</p>
Coração: única parte interna do monumento que também leva a pedra-sabão
Foto: Daniel Ramalho / Terra

O Daniel Ramalho, menos em forma do que eu (mas ele vai se casar em abril e vai ficar fininho até lá), abriu um sorriso de alívio e cansaço quando chegou à base que eu percebi, não como alento, mas como informação, que se ele conseguiu, com uma câmera fotográfica, talvez não fosse tão difícil assim. Ahãm.

Eram nove lances de escada. Muitos mosquitos. Pouca luz. Vencemos. E percebemos a real necessidade de se usar um capacete: bati a cabeça inúmeras vezes. É tudo muito apertado. Falta espaço, falta ar e sobram pedaços de ferro das diversas escadas e concreto, da estrutura propriamente dita. Nesta parte do monumento não é possível nem ficar em pé (tenho 1,81 metro).

O ponto citado é o peito do Cristo Redentor. E aqui cabe uma informação: existe um coração esculturado. É a única parte interna do monumento que também leva a pedra-sabão, predominante em todo o monumento. Para a direita e esquerda, é possível avistar dois corredores escuros. Os dois braços do monumento, claro.

Pelo lado direito, Francisco abre o alçapão por onde Didi Mocó se aventurou há mais de duas décadas. Vista incrível. É inenarrável a vista lá de cima. O silêncio. O medo de se escorregar. Um misto de sensações que ainda tinha o ponto alto: a cabeça do Cristo Redentor. A escada era ainda mais apertada e não tinha um final. Era preciso escalar com a força dos braços até um alçapão redondo.

A chance única da vida: registrar o Cristo Redentor nele próprio, com a baía de Guanabara ao fundo
A chance única da vida: registrar o Cristo Redentor nele próprio, com a baía de Guanabara ao fundo
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Mais difícil do que isso, era simplesmente ocupar aquele espaço sem ter as pernas presas. E ainda conseguir ter força no braço. Juro que não pedi a mãozinha do Francisco, que lá em cima me esperava Foi na raça mesmo. Antes de deslumbrar o visual, perguntei, enfim, para o guia-alpinista: “você não tem medo, está acostumado, qual é a sensação não só de reformar o Cristo Redentor, mas de estar aqui em cima todos os dias?”.

“É uma sensação única. Algo para poucos. Meus parentes ficam um pouco nervosos, mas eu enxergo como um privilégio. Trabalho desde 2007 com isso. Não troco por nada. E sempre venho para cá com a sensação de que pode ser a última vez que eu venho. E sempre trago meu celular para tirar fotos”, respondeu. Era a senha para, enfim, atingir o cume, ver na sua cara a coroa que serve de para-raio e as diversas pequenas crateras feitas pelos raios.

A sensação de Francisco foi a mesma que eu tive. Seria a primeira e última vez? Sei lá. Me dei alguns minutos de silêncio antes de gravar o vídeo e me lembrar que ainda tinha que descer a escada que tremia muito a cada rajada de vento. 

Fonte: Terra
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