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SP: 'somos todos hipócritas', diz em novo livro padre excomungado

Obra de pouco mais de 100 páginas será lançada em Bauru e depois segue para grandes capitais

12 jul 2013 - 07h50
(atualizado às 07h54)
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<p>Padre Beto mostra a capa de seu livro 'Verdades Proibidas'</p>
Padre Beto mostra a capa de seu livro 'Verdades Proibidas'
Foto: Talita Zaparolli / Especial para Terra

Após ter sido excomungado pela Igreja Católica, em Bauru, no interior de São Paulo, por contestar a postura conservadora da instituição e opinar na internet sobre assuntos considerados polêmicos entre os fiéis, Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, volta ao centro das atenções com o lançamento de seu novo livro, que promete incomodar os mais conservadores. Verdades Proibidas - Ideias do Padre que a Igreja não Conseguiu Calar está previsto para chegar às bancas e livrarias de Bauru no dia 25 de julho, pela editora Alto Astral.

Ainda em fase de revisão e diagramação, a estimativa é que a obra tenha pouco mais de 100 páginas. Na sequência, o o livro será lançado em grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Maceió. Nas páginas, padre Beto aborda temas como os relacionamentos e comportamentos humanos, moral sexual na Igreja, preconceito e hipocrisia, entre outros. Ele não deixa de citar o que vivenciou durante 14 anos de sacerdócio e sobre o processo de excomunhão.

Em entrevista exclusiva ao Terra, o religioso, que é autor de outros quatro livros, diz que já trabalhava em uma nova publicação antes da decisão da diocese local de excomungá-lo, mas relata ter feito adaptações no conteúdo da obra. 

"Somos todos hipócritas. Se prestarmos atenção a nossa vida prática, iremos nos surpreender com as contradições que vivemos diariamente. Essas contradições existem porque aceitamos regras, verdades e situações já solidificadas na sociedade, sem questionar o seu conteúdo e a possibilidade de serem aplicadas de outra maneira à vida prática. Acabamos vivendo em uma sociedade da hipocrisia, na qual muitas coisas são aceitas como verdade, mas somente no discurso ilusório. Desde a nossa vida familiar até as questões mais públicas, há temas importantes que não são discutidos seriamente, mas camuflados, com um discurso politicamente correto", diz em trecho do livro.

Fora da Igreja, Beto mantém a rotina como professor universitário, além de apresentar semanalmente um programa de rádio numa emissora AM local, e de se dividir com a leitura de títulos em alemão. "Não quis fazer do livro um grito ou coisa parecida, quis manter a serenidade. Pode vir a chocar porque eu não esperava que o vídeo chocasse. Pra mim não é nada absurdo, mas para algumas pessoas pode ser", diz, comparando o livro ao vídeo considerado estopim para sua expulsão. 

"A consequência de construirmos a qualquer custo uma vida que corresponda às expectativas da sociedade é a destruição da integridade e a necessidade de manter uma fachada mentirosa. Mesmo com a desonestidade presente em nossa história particular, queremos manter uma fachada de honestos e pessoas de bem", afirma o padre em outro trecho da obra, ainda sobre hipocrisia.

Além de não poder mais ministrar em nome da Igreja Católica, padre Beto está impedido de receber qualquer tipo de sacramento. Apesar da decisão da diocese de Bauru, a conclusão do processo de excomunhão depende de ratificação do Vaticano, para que o padre seja oficialmente banido da instituição. A cúpula da Igreja também pode reverter a decisão do bispo de Bauru, dom frei Caetano Ferrari. Não há previsão sobre o tempo que a conclusão do processo deva levar.

Em outro trecho da obra, o padre que protagonizou a decisão inédita da diocese de Bauru - que comemora 50 anos em 2014 – se posiciona sobre preconceito: "As pessoas ainda se rotulam e se preocupam com os rótulos: homem, mulher, gay, lésbica, padre, pastor, religioso, ateu, evangélico, negro, branco, rico, pobre... Rotular as pessoas significa padronizá-las e retirar delas um dos direitos fundamentais do ser humano: a liberdade. (...) A sexualidade humana deve ser vivida com naturalidade sem ser vítima de regras morais que tentam moldá-la a um determinado padrão social. O universo humano deveria simplesmente reconhecer o ser humano como um ser sexuado, sem classificações".

"Tanto homens quanto mulheres possuem uma diversidade sexual que não pode ser reduzida à heterossexualidade. A sexualidade é profunda demais para permanecer no patamar do gênero humano. Em primeiro lugar, é necessário saber que sexualidade não é genitalidade. A sexualidade abrange desde nossa maneira de se comportar no mundo, passa pelo modo como nos relacionamos com as outras pessoas e vai até a profundeza de nossa intimidade. Ela é toda nossa forma de expressão."

Além de Verdades Proibidas, padre Beto trabalha ainda em dois futuros lançamentos. Num dos títulos, ele pretende abordar apenas discussões relacionadas a sexo e religião, desmistificando, por exemplo, segundo ele, a ideia de que masturbação é um ato pecaminoso. Já em outra obra ele deve tratar o silêncio imposto pelas religiões, baseando-se inclusive, em suas experiências pessoais.

"É uma coisa extremamente contraditória, porque religião envolve transcendência e transcendência não pode ser silenciosa. A transcendência acontece no ser humano através de um processo comunicativo. E o que nós temos nas religiões cristãs é o monólogo, quando o líder religioso falar e os fiéis obedecem, ou o silêncio, porque não se fala", explica.

Para os inúmeros fiéis católicos de Bauru, que ainda lamentam a excomunhão de padre Beto, resta o desejo de que Verdades Proibidas não seja precursor de uma nova edição do Index Librorum Prohibitorum, lista de obras proibidas pela censura vaticana, que, por mais de quatro séculos, avaliou e classificou diversas obras literárias como impróprias. Na lista, eram citados livros considerados contrários aos dogmas da Igreja. O papa Paulo VI, em 1966, foi quem determinou a extinção do índice. 

Fonte: Especial para Terra
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