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Cidades

SP: reposição de ônibus queimados demora 5 meses e prejudica sistema

Segundo sindicato, empresas que prestam o serviço de transporte público na capital paulista não têm seguro e o custo de novos veículos é pago por todos paulistanos

1 fev 2014 - 09h23
(atualizado às 12h31)
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Com ônibus queimado em Cidade Ademar nesta madrugada, chega a 34 o número de coletivos atacados em 2014
Com ônibus queimado em Cidade Ademar nesta madrugada, chega a 34 o número de coletivos atacados em 2014
Foto: Edison Temoteo / Futura Press

Com mais um ônibus incendiado nesta madrugada em São Paulo, sobe para 34 o número de veículos coletivos queimados na cidade em 2014. O ônibus foi atacado por vândalos na rua Angelo Cristianini, região da Cidade Ademar, zona sul da capital. Ninguém se feriu e não houve prisões. O coletivo ficou totalmente destruído. A ocorrência foi registrada no 98° Distrito Policial.

Os outros 33 ônibus foram queimados apenas no primeiro mês do ano, entre 1º e 30 de janeiro. Eles devem ser repostos somente a partir de junho. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SP-Urbanuss), um veículo novo adquirido pelas concessionárias que fazem o transporte público na capital paulista demora entre quatro e cinco meses para ficar pronto para o uso nas ruas.

De acordo com o sindicato, o prazo para a entrega de um novo ônibus é longo devido ao processo de adaptação do veículo para uso nas ruas. Após a aquisição do chassi, as empresas o encaminham para encarroçadoras, para que seja colocada a carroceria. Após esse processo, os coletivos ainda recebem o acabamento interno e a pintura de acordo com as determinações da São Paulo Transporte (SPTrans), e aguardam seu licenciamento. 

"Nada disso é equipamento de prateleira, então demora, leva mais um tempo para se comprar e preparar, deixar em condições para rodar nas ruas", disse o presidente do SP-Urbanuss, Francisco Christovam. 

Para repor os ônibus tirados de circulação por causa dos atos de depredação, as empresas utilizam veículos da chamada reserva técnica - usados para substituir coletivos em manutenção -, o que pode prejudicar o funcionamento normal de todo o sistema; já que, ao tirar um veículo da reserva, um buraco pode ser criado no caso de um imprevisto.

Além dos ônibus da reserva técnica, coletivos de linhas com maior número de veículos também são usados. Com isso, o intervalo entre as viagens aumenta nas linhas de onde foram retirados alguns carros, prejudicando usuários. 

“Desses cerca de 30 ônibus, mais da metade é de uma só empresa, que está sendo afetada. (...) A operação vai ficando deficiente. É um prejuízo sim para a população, não tem como ser diferente, infelizmente. Soma-se a isso o medo dos próprios motoristas de circular em pontos de São Paulo”, disse Christovam.

Empresas não possuem seguro dos veículos

Segundo o sindicato, as empresas não possuem seguro patrimonial dos ônibus. “É muito caro (o seguro para os ônibus) e as próprias seguradoras não querem, por isso cobram um valor alto, o que inviabiliza a contratação”, afirmou Christovam.

Os coletivos vandalizados são repostos pelas concessionárias, que acabam repassando o custo das novas aquisições na planilha que compõe o valor do serviço de transporte municipal. Dessa forma, o valor dos novos veículos acaba sendo diluído entre todos os moradores de São Paulo. 

De acordo com balanço divulgado pela SPTrans, 34 ônibus municipais foram vandalizados este mês na capital paulista. Como o custo de um veículo novo varia entre R$ 300 mil e R$ 1,5 milhão, o SP-Urbanuss afirma que o preço médio de um coletivo novo gira em torno de R$ 500 mil. Seguindo a média do sindicato, em 30 dias, o prejuízo chega a R$ 17 milhões. 

Não há como calcular, especificamente, quanto os atos de vandalismo aos ônibus afetam o preço do serviço de transporte, já que a aquisição de novos coletivos entram no cálculo de depreciação de veículos. De acordo com a SPTrans, no total dos custos operacionais, esse item corresponde a 7,5%. Em 2014, o subsídio previsto na dotação orçamentária é de R$ 1,48 bilhão.

Segundo a SPTrans, “este item de custeio, combinado com o valor residual do veículo, permite a reposição do bem ao final de sua vida útil, que é de 10 anos no caso dos ônibus e sete para os micro-ônibus”. “Somado ao cálculo de lucro que as empresas têm que ter, (ataques a ônibus) podem representar até 15% do total”, disse o presidente do SP-Urbanuss. 

Ônibus deixam de circular

Segundo a SPTrans, devido à insegurança, três linhas (Terminal Jardim Jacira-Terminal Santo Amaro, Terminal Jardim Jacira-Terminal Capelinha, Terminal Jardim Jacira-Estação Santo Amaro/Guido Caloi) do Jardim Ângela, na zona sul, não estão operando. Em outras duas (Vera Cruz-Jardim Ângela, Jardim Horizonte Azul-Jd. Ângela), os motoristas retornam antes da parada final. Cerca de 120 mil passageiros estão sendo prejudicados, segundo a empresa.

Para atender as linhas que foram afetadas, a SPTrans acionou em alguns pontos o Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência (Paese), ação que, de acordo com o presidente do sindicato das empresas que prestam o serviço, é “insuficiente”. 

“Não adianta. O Paese é para uma paralisação específica, como uma quebra de Metrô, por exemplo. Não resolve (acionar o Paese). É para uma necessidade imediata. Quando os próprios motoristas não querem seguir viagem em uma linha até o final, não adianta. Você vai selecionar motoristas mais corajosos? Não existe. Eles se sentem ameçados”, afirmou Christovam. 

Além dos 34 veículos incendiados - número maior que o total de ocorrências registradas no primeiro semestre do ano passado, período em que houve 21 coletivos queimados -, 66 foram depredados. Devido aos ataques, a SPTrans afirmou que enviou 29 pedidos de reforço policial preventivo ao Centro de Operações da Polícia Militar (Copom); 12 a partir do dia 24 de janeiro. A violência motivou também uma reunião, na última sexta-feira (24), entre o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, e Christovam. 

"Tivemos reuniões com empresas de transporte coletivo, diante desta quadro que se coloca pontualmente. Foram definidas ações, que já estão em andamento. Ainda não conseguimos identificar se as ações partem do crime organizado ou de movimentos sociais. Isso não é normal e o setor de inteligência está fortalecendo as suas ações (para minimizar o problema)", afirmou na quarta-feira Grella em entrevista coletivo ao lado do prefeito Fernando Haddad (PT), na sede da administração municipal.

Fonte: Terra
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