SP: Marcha da Família reúne menos de 1% da marcha de 1964
Evento reuniu cerca de 1 mil pessoas, contra 500 mil em 1964, segundo as estimativas da época; "lixo" foi o xingamento preferido para expulsões durante o ato, que terminou com um ferido e 4 detidos
A Marcha da Família com Deus realizada neste sábado, em São Paulo, não reuniu nem 1% das 500 mil pessoas que, segundo estimativas da época, participaram da mesma marcha há 50 anos na praça da Sé, coração da capital paulista. Com ações de segregação, atitude anti-PT e grupos de extrema direita, a manifestação contabilizou em seu ápice, de acordo com a Polícia Militar, “não mais” que 1 mil pessoas. "Infiltrados", críticos da iniciativa também participaram do evento.
A quantidade de policiais militares destacados para dar segurança ao evento também surpreendeu nas comparações com outros protestos: foram cerca de 150 homens, contra 2,3 mil PMs que, dias 22 de fevereiro e 13 de março, acompanharam atos contra a Copa do Mundo, na cidade, e que reuniram, cada um, aproximadamente 1,5 mil pessoas.
Entre jovens e adultos, a marcha de hoje deixou latente que teria dois alvos principais: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o partido que ele ajudou a fundar com a abertura política dos anos 80, o PT. Manifestantes com roupas vermelhas – cor da bandeira petista e também da comunista, alvo da marcha de 1964 – foram hostilizados pelos manifestantes já na praça da República, onde começou a concentração com carro de som, cartazes contra o PT, contra a corrupção e contra comunistas.
Antes de partir, ainda na praça da República, os cerca de 400 manifestantes inicialmente reunidos conseguiram expulsar do ato supostos “petistas” e “comunistas” que, além de palavrões, ouviram também pedidos para que fossem “para Cuba”. Um fotógrafo freelancer ficou ferido na testa ao receber um tapa na câmera que posicionava na altura dos olhos. Um aposentado de calça e tênis vermelhos foi enxotado aos gritos de “fora petista” e “fora comunista”.
Entre os manifestantes, havia críticos das comissões da verdade - que tentam esclarecer episódios como mortes, torturas e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura - e apoiadores do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ulstra - processado por ocultação de cadáver durante o regime, mas beneficiado, em janeiro deste ano, pela prescrição do crime na Justiça Federal.
Entre os manifestantes, o engenheiro Oto Colomina, 52 anos, criticou: “A classe política tomou o País para si. Queremos expressar nosso inconformismo com essa situação; chega”. Amigo do aposentado expulso, segundo ele, “por engano, porque ele nem é petista”, Colomina amenizou o incidente ao classificá-lo como “algo que acontece, faz parte” e se disse favorável à intervenção militar no País, “caso necessário”.
"Infiltrados" rechaçam marcha
De camiseta vermelha e em um grupo de alunos da Universidade de São Paulo (USP), o estudante de Ciências Sociais Rafael Monteiro, 22 anos, disse que foi ao ato por “curiosidade antropológica”. “Queria ver para crer que isso de fato seria realizado e, infelizmente, não estou surpreso. Mas estou feliz que não tenha vindo muita gente”, disse.
“Uma marcha dessas é vergonhosa, diante de tantas pessoas que a ditadura matou, e ridícula, diante de tudo que as comissões da verdade têm revelado Brasil afora”, definiu o estudante de jornalismo Leonardo Sá, 22 anos. “Acredito que as pessoas são movidas por um sentimento nostálgico ao acreditarem que o militarismo possa ser algo viável, mas, ao fazerem isso, elas cultuam o Estado como algo acima dos indivíduos e das liberdades individuais que conquistamos”, constatou o estudante de Física Anderson Pimenta Damian, 29 anos.
Metaleiros são confundidos com black blocs
Além dos gritos de guerra, o caminho entre a praça da Sé e a praça da República também foi marcado por ao menos dez toques do Hino Nacional, distribuição de terços e retaliações a atitudes encaradas como provocações à marcha. Em uma delas, na rua Xavier de Toledo, jovens com uma faixa preta onde se lia “Esta frase está escrita ao contrário”, com as letras invertidas, de trás para a frente, foram chamados de “alemães nazistas” e expulsos.
Na mesma rua, um grupo de rapazes que tentava chegar à estação de metrô Anhangabaú, com camisetas pretas estampadas com imagens de bandas de metal -- a banda Metallica faria show no Morumbi (zona sul), horas depois -- foram confundidos com black blocs, chamados de “lixo” e quase apanharam.
Na rua Líbero Badaró, pouco depois de passarem pela sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado, manifestantes se irritaram com dois rapazes vestidos como mulheres portando cartazes com as mensagens “Marchinha quase da família” e “Marcha praticamente da família”. A dupla também foi expulsa, empurrada e tieve o material destruído. “Lixo” novamente foi o xingamento preferido durante a retaliação dos "marcheiros".
“Essa era mesmo a reação que a gente esperava: nazista, homofóbica, reaça”, criticou um dos jovens, que não quis se identificar. Enquanto falava com os repórteres, ele ouviu um manifestante xingá-lo e pedir: “Vai para Cuba, seu filho da p*”. “Me manda a passagem!”, devolveu.
Aplausos à PM e jovens detidos na praça da Sé
Ao chegar à praça da Sé, a organização da marcha, no carro de som, pediu uma salva de palmas aos policiais militares, chamados de “nossos heróis”. Pouco depois, um grupo de ao menos dez jovens carecas iniciou uma perseguição a duas mulheres que teriam tentado pichar faixas da marcha.
Uma delas e outro jovem, suspeito de agressão - mas não do grupo que iniciara a correria -, foram cercados pela PM dentro de uma farmácia em frente à praça. Nas imediações, outros dois rapazes que teriam se envolvido em agressões (uma delas, a um policial) também foram detidos. Eles foram encaminhados ao 8º DP (Mooca).
“A gente queria era fazer um contraponto e mostrar um lado mais reacionário, e fazer essa pressão para se ter uma terceira via. Votei no Lula e sou contra ditadura militar, não sou louco, mas não quero ver meu país se transformar em uma Venezuela”, declarou um químico de 48 anos que não quis se identificar. “E esse Bolsa Família? E esse Mais Médicos, que destina dinheiro para Cuba?”, questionou.
O ato se encerrou por volta das 18h30, logo após os detidos serem levados pela PM.
São Paulo - Cerca de 1 mil pessoas se reuniram na tarde deste sábado na Praça da Sé, em São Paulo, para a Marcha Antifascista, evento organizado em resposta à Marcha da Família
Foto: Thiago Tufano / Terra
São Paulo - A concentração ocorria pacificamente, mas registrou ao menos um tumulto isolado: uma mulher foi hostilizada ao gritar contra o evento, enquanto carregava uma Bandeira do Brasil e uma cartaz que dizia 'Brasil não é Cuba'
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
São Paulo - Cartaz que a mulher carregava. Ela foi vaiada, chamada de fascista e alguns manifestantes tentaram tirar a bandeira de sua mão
Foto: Thiago Tufano / Terra
São Paulo - Ainda concentrados na Sé, manifestantes da marcha antifascista queimaram uma bandeira do Brasil
Foto: Gabriela Biló / Futura Press
São Paulo - Marcha antifascista foi organizada em resposta a marchas da família com Deus marcadas para este sábado
Foto: Thiago Tufano / Terra
São Paulo - Black blocs também estiveram presentes no protesto antifascista
Foto: Thiago Tufano / Terra
São Paulo - Havia 200 policiais militares acompanhando a manifestação antifascista, segundo a corporação
Foto: Thiago Tufano / Terra
São Paulo - A marcha antifascista também protesta contra a ditadura
Foto: Thiago Tufano / Terra
São Paulo - O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também participou da concentração da marcha antifascista
Foto: Taba Benedicto / Futura Press
São Paulo - Com gritos de "Fora, Lula" e "Dilma safada", cerca de 1 mil pessoas participaram da Marcha pela Família com Deus, que saiu da região central de São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - O grupo pró-família se concentrou na Praça da República e, por volta das 16h20, saiu em caminhada em direção da Praça da Sé, onde se concentrava a marcha do grupo antifascista
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - Na marcha da família, houve tumulto na Praça da República. Manifestantes se insurgiram contra pessoas as quais acusavam de ser "comunistas" ou "petistas". Um aposentado que usava calça e tênis vermelhos foi expulso da marcha, pois, segundo seus algozes, seria do PT
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - "Sou a favor do Brasil acima de tudo, independentemente de qualquer partido político. Se um dia for preciso, defendo intervenção militar", declarou o aposentado hostilizado, que não quis se identificar.
Foto: Renato Mendes / Futura Press
São Paulo - Na confusão na marcha da família, o fotógrafo Leonardo Martins, 25 anos, da agência Frame, acabou sendo agredido, quando um manifestante bateu em sua câmera, machucando a testa do profissional
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - Durante a marcha, os manifestantes gritavam palavras de ordem como "Deus, pátria e família" e "Verde e amarelo sem foice nem martelo"
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - Muitos carregavam bandeiras do Brasil ou mesmo se vestiam com ela durante a marcha da família
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - Nas proximidades da rua Xavier de Toledo, os manifestantes pró-família cruzaram com jovens vestidos de preto, que se encaminhavam para o show da banda Metallica. Confundidos com black blocs, eles foram agredidos
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - A Polícia Militar usou 150 agentes para acompanhar a marcha da família, entre eles, homens da chamada "tropa do braço"
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - A marcha pela família com Deus reuniu, em sua maioria, homens
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - Imagem de Nossa Senhora de Fátima foi usada no protesto pró-família
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Rio de Janeiro -
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - No Rio, a marcha da família acabou em tumulto com grupo contrário ao protesto
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Convocada via internet, a reedição da Marcha pela Família com Deus levou cerca de 100 pessoas ao centro do Rio neste sábado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - No final do ato pela família, havia cerca de 200 manifestantes. Outras 200 pessoas surgiram numa espécie de contramarcha, com bandeiras comunistas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - O outro grupo chamava os manifestantes de fascistas, e era chamado de terrorista. A polícia precisou intervir e dispersou o confronto com balas de borracha
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Policiais e manifestantes também entraram em confronto
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Após o tumulto, o protesto foi dispersado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Belo Horizonte - Cerca de 100 pessoas fizeram um ato pedindo a volta dos militares ao poder na tarde deste sábado, na região central de Belo Horizonte
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - O evento, chamado Marcha da Família em Deus, foi convocado e divulgado no Facebook
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - A concentração foi em frente ao 12º Batalhão de Infantaria do Exército
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - O grupo foi liderado por estudantes que se identificaram como de direita e militares aposentados do Exército e da Polícia Militar
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - Primeiro, eles cantaram e discursaram proferindo palavras de ordem contra o comunismo e o governo da presidente Dilma Rousseff (PT)
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - Depois, saíram em passeata, "puxados" por um carro que tocava músicas militares e os hinos Nacional e da Bandeira
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - Em discursos inflamados, gritaram pedindo que as forças armadas tomem o poder, como ocorreu há 50 anos, no que o grupo definiu como "revolução vitoriosa", explicou o tenente-coronel aposentado do Exército Pedro Cândido Ferrerira Filho, que fez questão de exaltar, ao megafone, que foi um dos militares que participou do golpe de 1964
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - Túlio Naves, pesquisador de mercado, foi um dos organizadores da marcha em Belo Horizonte. Para justificar o movimento, disse que as pessoas que participaram "têm as mesmas ideologias e estão cansadas de tanta corrupção no governo e no Congresso, por isso defendem a dissolvição do parlamento e a tomada do poder"
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - O técnico em informática Rodrigo Teixeira, 22 anos, neto de um coronel do Exército, disse que sempre ouviu do avô que "naquela época as pessoas viviam melhor. O Brasil era um país íntegro, não tinha tanta corrupção, roubalheira", afirmou
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Belo Horizonte - O grupo da marcha da família foi liderado por estudantes que se identificaram como de direita e militares aposentados do Exército e da Polícia Militar
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Rio de Janeiro - O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) durante a Marcha da Família com Deus
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) durante a Marcha da Família com Deus
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Marcha da Família com Deus reuniu militares aposentados e simpatizantes da ditadura militar
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Marcha da Família com Deus reuniu militares aposentados e simpatizantes da ditadura militar
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Marcha da Família com Deus reuniu militares aposentados e simpatizantes da ditadura militar
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Rio de Janeiro - Marcha da Família com Deus reuniu militares aposentados e simpatizantes da ditadura militar
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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Rio de Janeiro - Manifestantes na Marcha da Família com Deus
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São Paulo - Manifestantes durante a Marcha da Família com Deus
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
São Paulo - Manifestantes durante a Marcha da Família com Deus
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São Paulo - Manifestantes durante a Marcha da Família com Deus
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São Paulo - Dos quatro detidos na marcha da família, um foi por crime ambiental por tentar pixar a faixa de um manifestante
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São Paulo - Manifestantes durante a Marcha da Família com Deus
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São Paulo - Nas escadarias da catedral da Sé, manifestantes da Marcha da Família com Deus pediram uma salva de palmas aos policiais militares, a quem chamaram de "nossos heróis"
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São Paulo - A marcha antifascista também protestou contra a ditadura no último sábado
Foto: Kevin David / vc repórter
São Paulo - A marcha antifascista também protestou contra a ditadura no último sábado
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São Paulo - A marcha antifascista também protestou contra a ditadura no último sábado
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São Paulo - A marcha antifascista também protestou contra a ditadura no último sábado